Faltam apenas cinco semanas e pesquisas importantes dão vantagem boa a Barack Obama sobre John McCain. A da CBS com o "New York Times" é especialmente relevante: as opiniões favoráveis ao republicano despencaram para 39%, por sua conduta frente à crise financeira, enquanto as favoráveis a Obama deram um salto para 48% - o melhor índice que a CBS-Times deu a ele até hoje.
O número daqueles que têm opinião desfavorável sobre McCain, 42%, foi tão alto como o pior já registrado desde que essa pesquisa incluiu pela primeira vez o nome dele - em 1999. E na pergunta principal ("se a eleição fosse hoje, em quem você votaria?"), Obama tem vantagem confortável de nove pontos percentuais sobre o republicano: 49% contra 40%. Primeira vitória dele este ano na pesquisa CBS-Times.
Obama ganha ainda nas pesquisas de acompanhamento diário. E também, para os que se preocupam com os resultados estaduais (onde o vencedor leva todos os votos eleitorais em cada estado), a vitória hoje seria de Obama, com vantagem esmagadora. Segundo o quadro do site Politico.com, em geral confiável, teria 353 votos eleitorais contra apenas 185 de McCain. Só que nessa poucos são os estados de fato definidos.
Pode bastar um pretexto
Embora consumidor de tais previsões, detesto fazer profecias. Mas alguém que tenha tido a paciência de ler o que escrevo desde as primárias, poderia convidar-me a retirar o que tenho dito desde a Super-Terça Feira, em janeiro - que Obama derrotaria Hillary Clinton, ganharia a indicação presidencial de seu partido, um marco na história política do país, mas não chegaria à Casa Branca.
Terei prazer em ser desmentido. Torço para isso. Mas por enquanto ainda tenho razões para aguardar. Vivi mais de 10 anos no simpático condado de Westchester, fascinante subúrbio novaiorquino ao norte de Manhattan, num dos estados politicamente mais liberais e progressistas do país. Minha previsão temerária baseia-se na convivência e muitas conversas com vizinhos e amigos dessa área.
Minha impressão é de que até a hora de entrar no local da votação muitos daqueles liberais estarão ainda à espera de um pretexto para não dar seu voto a um africano-americano - como preferem dizer - e estabelecer novo marco na história das relações raciais dos EUA. E os pretextos são bombardeados, dia e noite, com fantasias e mentiras repetidas à exaustão, em "talk-shows" racistas do rádio e da TV.
A trajetória de um prefeito
Vale lembrar, mesmo não sendo as situações iguais, o que outro estado liberal e progressista - a Califórnia, na costa oeste - viveu em 1982. Seis semanas antes da eleição a vantagem do negro Tom Bradley, prefeito de Los Angeles, na eleição para governador, era de 14 pontos percentuais. Uma semana antes, caiu para sete. Mas três dias antes o "Los Angeles Times" ainda lhe dava vantagem de 15.
A campanha adversária apostou no racismo, espalhando que Bradley era ligado a extremistas negros e iria tolerar o aumento da criminalidade. Enquanto os votos eram apurados, as projeções da mídia anunciaram sua vitória, mas Bradley acabou derrotado por 1,5 ponto percentual. Prefeito de Los Angeles desde 1973, ainda continuaria no cargo mais 11 anos, até 1993, totalizando 20.
Neto de escravos e filho de ex-trabalhador de plantações de algodão que se empregou em ferrovia, e de empregada doméstica, Bradley começou um curso universitário na UCLA e depois optou pela academia de polícia. Tornou-se policial (tenente, mais alto posto para um negro na época), fez curso de Direito e depois elegeu-se para a câmara municipal e em seguida para a prefeitura
O presidente Jimmy Carter, depois da posse em 1977, chegou a oferecer a ele um cargo de nível ministerial, que recusou. Depois, o vice Walter Mondale, ao se candidatar a presidente, considerou-o para vice antes de escolher Geraldine Ferraro. Bradley tinha uma imagem nacional em 1984, ao desafiar o governador e candidato à reeleição Sam Yorty, que antes substituira como prefeito.
Nasce o "efeito Bradley"
Em relação ao racismo a posição de Bradley era firme. Em 1965 criticou a repressão nos distúrbios negros de Watts e denunciou segregação na própria Polícia de Los Angeles. Mas ao ser perguntado, já como prefeito, se Los Angeles elegera "um Gerald Ford negro em vez de um John Kennedy negro", respondeu: "Não sou um fulano negro e nem um sicrano negro. Sou apenas Tom Bradley".
Por que a vantagem dele aferida nas pesquisas não se materializou na votação? O fenômeno foi batizado como "efeito Bradley": eleitores brancos que não gostam de negros, para esconder o racismo, mentem ao entrevistador da pesquisa. Na mesma eleição, também ganharam dois candidatos brancos a cargos majoritários do estado, apesar de pesquisas terem previsto derrotas de dois dígitos para ambos.
Ao recordar agora o "efeito Badley", a colunista Patt Morrison, do "Los Angeles Times", citou estudo da Associated Press com a Yahoo indicando que o quadro é diferente hoje: brancos já dizem abertamente ao entrevistador que não votam em negros. Pode ser. Mas se os votos de 2008 desmentirem as pesquisas de novo, diz ela, esse novo capítulo tende a ficar na história eleitoral como "efeito Obama".
Fonte: Tribuna da Imprensa.
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