terça-feira, 3 de junho de 2014

MÍDIA - Resposta a um jovem jornalista.


Resposta a um jovem jornalista

Por Luciano Martins Costa, no Observatório da Imprensa:

A imprensa é livre no Brasil? A resposta correta é: “não”.

No Brasil, e em todo o mundo, a imprensa é refém de interesses que definem a orientação geral e específica de todo material jornalístico editado e distribuído por todos os meios. Nos países dominados por governos autoritários, o controle é exercido de maneira grotesca pelos detentores do poder político ou religioso; nas democracias, embora de maneira mais sutil, a imprensa é condicionada por interesses econômicos.
Esta seria uma resposta genérica para jovens jornalistas e estudantes de comunicação que costumam explicitar suas angústias durante seminários e palestras por aí. No caso, dirige-se ao quase jornalista que pede a opinião do observador.

Candidatos a uma profissão no ramo da comunicação são movidos, de modo geral, por um de dois desejos: servir à consciência social ou servir a si mesmos, encontrando um lugar de destaque sob os holofotes. Para ambos os casos, é importante saber se existirá liberdade no exercício dessa profissão.

Portanto, para superar ilusões é preciso determinar um pressuposto básico da atividade jornalística: o que se pode obter não é liberdade, mas certo grau de autonomia, que será tanto maior quanto mais adequada for a adesão do profissional ao perfil da empresa à qual vai servir.

Por outro lado, existem campos para o exercício da autonomia fora das grandes corporações, mas nesse terreno é preciso construir caminhos. As tecnologias digitais de informação e comunicação podem ser usadas como ferramenta para um projeto como esse. Assim, aquele que escolhe o caminho individualista de vencer à custa de sua autonomia, terá uma carreira mais fácil, mas lá na frente terá que encarar sua própria consciência. Ao final da jornada, terá que se perguntar: o que é que eu fiz com meu talento?

Aquele que entender o jornalismo como missão civilizatória certamente irá enfrentar muito mais dificuldades, pagará o preço dos objetores, e lá adiante poderá se arrepender por não haver construído condições confortáveis para sua maturidade. Então, a conclusão é que o sucesso profissional não produz uma vacina contra decepções e arrependimentos.

Mensagem de mão única

Em torno dessa questão situa-se o limite do próprio arbítrio humano: o homem tem escolhas ou sua vida é determinada pelas circunstâncias?

No campo cultural do jornalismo, predomina o conceito de Friedrich Nietzsche, segundo o qual não há livre-arbítrio nem seu contrário, o cativo-arbítrio: apenas vontades fortes ou fracas. Em geral, a força da vontade com que o indivíduo faz valer sua escolha é que o transforma em protagonista.

Num alto grau de autonomia, esse pressuposto fundamenta a ação do jornalista ao destacar na multidão planetária os protagonistas das histórias que vale a pena contar. Num grau corriqueiro de autonomia, que é muito baixo, o jornalista irá destacar aqueles que foram escolhidos pela empresa que paga seu salário. Assim, uma frase inócua, um autoelogio ou simples manifestação de vontade pode virar manchete, se for dita pelo candidato preferido deste ou daquele jornal, enquanto uma iniciativa importante do outro candidato é ignorada ou relegada a uma nota de rodapé.

No Brasil, onde toda eleição corresponde a uma verdadeira conflagração social no campo midiatizado, essa é uma realidade que pode ser constatada diariamente, na leitura crítica do noticiário.

Embora o conceito de liberdade de expressão seja uma reza obrigatória no credo da imprensa, trata-se de um mito. Nem mesmo numa conversação a dois o ser humano pode se expressar com absoluta liberdade, porque toda comunicação é uma troca na qual há perdas e ganhos, concessões e absorções, por parte dos interlocutores.

Na comunicação de massa, onde esse comércio de ideias se dá de forma massiva, o que ocorre é um jogo de convencimento, no qual os emissores procuram estabelecer os paradigmas para a compreensão da realidade. Aqueles que discordam desses paradigmas não podem, por exemplo, usar as rotativas dos jornais ou as câmeras e sistemas de difusão da televisão para expor suas opiniões. A resposta se dá em outros meios, e o meio onde foi postada a mensagem original segue com seu discurso unívoco.

A imprensa é veículo de mão única, a serviço de uma visão de mundo específica e avessa ao contraditório.

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