segunda-feira, 21 de julho de 2014

MÍDIA - O MASSACRE DE GAZA.

O massacre de Gaza: mídia alternativa e manifestações de massa

Com o hashtag #Gazaunderattack inúmeros tuiteiros de toda a Faixa de Gaza estão fornecendo informações em inglês em tempo real, 24 horas por dia.


Maren Mantovani (*) Marian Pessah, durante vigília em solidariedade ao povo palestino, em Porto Alegre. (Foto: Alexandre Ferreira da Silva)

“Não chorem, organizem-se!” - penso nesse slogan que aprendi dos ativistas sul africanos enquanto estou assistindo às imagens de uma rua coberta de mortes, resultado do ataque israelense no bairro Shujaya em Gaza. Pelo menos 60 mortos numa noite num bairro só. Essa máxima está sendo transformada em um esforço impressionante de meios de comunicação alternativos e protestos em massa que têm garantido as exigências de boicotes, sanções e embargo militar imediato contra Israel e acabaram atingindo novos níveis de consenso.

Apesar dos cortes de eletricidade, das bombas e dos mortos, as notícias e as imagens saem desde Gaza para todo o mundo. Também seis anos de sítio completo e desumano não puderam impedir que os celulares com câmera fotográfica entrassem em Gaza, agora a população fotografa, documenta, testemunha. Com o hashtag #Gazaunderattack inúmeros tweeters de toda a Faixa de Gaza estão fornecendo informações em inglês em tempo real, 24 horas por dia. As mídias alternativas e redes sociais estão difundindo notícias, histórias e imagens.

Esse trabalho espontâneo, feito por milhares de ativistas e pessoas indignadas com o que está acontecendo, tem um efeito concreto - a opinião pública está mudando, os povos estão se mobilizando. A mídia comercial, para manter sua credibilidade, transmite pelo menos uma parte do horror que está acontecendo em Gaza, apesar de que a pressão de Israel e seus aliados sobre a mídia é dura.

Mobilizações globais

Manifestações e protestos estão sendo organizados em todas as partes do mundo. Neste sábado, 15 mil pessoas ocuparam as ruas de Londres, 40 mil tomaram as ruas de Capetown, na África do Sul. Em Paris mais de 5 mil manifestantes desafiaram a proibição da policia de qualquer manifestação pró-palestina na cidade. Em Espanha ocorreram mais de 40 manifestações decentralizadas.

As manifestações são diversas, mas tem alguns pedidos em comum - o fim imediato do ataque e do sitio a Gaza, o fim da ocupação de Israel de territorio palestino e, além disso, boa parte das manifestações pedem boicotes, desinvestimentos e sanções contra Israel.

Neste sábado, foi lançada uma carta assinada por 99 artistas e intelectuais renomados a nível mundial, sendo que a notícia foi uma das mais lidas no jornal Folha de São Paulo. A carta pede um embargo militar imediato e sublinha que “a capacidade de Israel para lançar este tipo de ataques devastadores com impunidade deriva em grande parte da vasta cooperação militar internacional e comércio de armas que Israel mantém com governos cúmplices em todo o mundo”. Recordando a ajuda militar dos EUA e as relações militares com Europa, o texto insiste ainda que “as economias emergentes, como a Índia, Brasil e Chile, aumentam rapidamente o seu comércio e cooperação militar com Israel, apesar de afirmarem que apoiam os direitos dos palestinos”. Entre os signatários estão seis ganhadores do Prêmio Nobel da Paz e dois brasileiros: o teólogo Frei Betto e o presidente da ITUC-CSI João Felício.

Sexta-feira passada, no Reino Unido, ativistas ocuparam a secretaria geral do governo exigindo um embargo de armas imediato. Ao mesmo tempo, a Anistia Internacional Reino Unido lançou uma petição ao governo britânico exigindo também um embargo de armas sobre Israel. Apenas algumas horas após o lançamento da ferramenta de e-ação, a Anistia teve que aumentar o número de destino das assinaturas uma vez que quase 15 mil pessoas já haviam assinado a chamada.

No Brasil, protestos estão sendo realizados para exigir um embargo de armas, bem como boicotes. Cerca de 5 mil pessoas estiveram na Avenida Paulista neste sábado, convocadas por diversas organizações como CUT, CTB, Conlutas, MST, PSOL, Frente de defesa do povo palestino, Movimento Palestina para tod@s, incluindo a Secretária dos Direitos Humanos da prefeitura de São Paulo. A convocatoria pediou o fim imediato de todas as relações militares, econômicas e diplomáticas com Israel.

Já na quarta-feira, em Porto Alegre, foi convocada uma vigília para a Palestina por meio da comunidade palestina e da Federação Palestina (FEPAL). Foram vistas intervenções em todo o espectro político lançando as mesmas mensagens. Nasson Santanna, representando a executiva do Partido dos Trabalhadores de RS, se uniou aos muitos outros que conclamaram a necessidade de um embargo militar imediato a Israel. Alayyan Eladdin, presidente da FEPAL, comentou “Às vezes, falar sobre o que acontece na Faixa de Gaza pode parecer algo muito distante de nós, mas não é.” Porto Alegre é exemplar nesse sentido: a cidade é sede da AEl Sistemas, subsidiária da empresa militar israelense Elbit Systems, que além de construir o Muro do Apartheid na Cisjordania, produz também os VANTs que nesse momento matam homens, mulheres e crianças a cada hora em Gaza. O Governo estadual e quatro universidades gaúchas (UFRGS, UFSM, PUCRS e Unisinos) estão intentando implementar um projeito de pesquisa e produção de satélites militares com essa empresa, a mesma envolvida nas políticas genocidas de Israel em Gaza.

As primeiras reações concretas dos governos

Já o dia 14 de julho o conselho municipal de Dublin aprovou uma moção pedindo ao governo de Irlanda para impor um embargo militar e sanções comerciais em Israel. No parlamento inglês os parlamentares do partido trabalhista, conservadores e liberal-democraticos pediram 'pressões' e ‘sanções' contra Israel.

O Equador retirou seu embaixador de Israel, sendo que o ministro das Relações Exteriores Ricardo Patiño explicou em seu twitter que o "governo do Ecuador decidiu chamar seu embaixador em Israel por consultas por causa da violência desatada e das mortes produzidas na Faixa de Gaza". A África do Sul também retirou seu embaixador de Israel. No Chile, o Senado votou por unanimidade pela retirada imediata do embaixador chileno de Israel. Noticiários chilenos relatam que o governo suspendeu as negociações sobre o tratado de livre comércio com Israel por causa da 'instabilidade política'.

(*) Mestranda em Estudos Orientais, tem sida nos últimos 10 anos, coordenadora de relações internacionais para 'Stop the Wall', a campanha palestina contra o Muro de apartheid que Israel está construindo na Palestina. Ela é a autora de "Relações Militares Entre Brasil e Israel", um amplo estudo sobre o assunto.

Nenhum comentário: