Como Dilma conseguiu perder o apoio da indústria
No futuro, a maneira como Dilma Rousseff perdeu o apoio da classe empresarial – especialmente dos industriais paulistas – se constituirá em um caso clássico da ciência política.
Durante seu governo, Dilma ampliou o escopo do BNDES (Banco Nacional do Desenvolvimento Econômico e Social), distribuiu isenções fiscais, implementou a desoneração da folha de salários, definiu políticas industriais, avançou no conceito de conteúdo nacional nas compras públicas, montou parcerias com as Confederações empresariais, especialmente a CNI (Confederação Nacional da Indústria) e a CNA (Confederação Nacional da Agricultura).
Dos três candidatos - ela, Aécio, Marina - é a única que se alinha com uma escola de pensamento econômico que privilegia a indústria como motor do crescimento. Mesmo assim, Dilma conseguiu esse anti-feito extraordinário de ser abominada pelo empresariado paulista.
A análise de seus erros será relevante para todos os que estudam a implementação das chamadas políticas desenvolvimentistas em países emergentes modernos, como é o caso do Brasil.
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A proatividade dessas políticas abre espaço para o voluntarismo. E nas democracias maduras há enorme resistência à chamada vontade do príncipe. As formulações econômicas têm que seguir princípios de impessoalidade, de isonomia, de legitimação de cada medida através da discussão pública.
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Nesse campo, as chamadas formulações neoliberais são politicamente muito mais eficazes.
Elas têm lado: o capital como protagonista principal da economia. Mas fundam-se em um conjunto de regras impessoais. Analisam o orçamento do ângulo do superávit primário – que não engloba a conta de juros. Defendem os superávits para abrir espaço para a apropriação do orçamento pelos juros. Implantam metas inflacionarias, pela qual a taxa de juros sempre será sempre maior do que a inflação esperada. Jogam contra toda forma de subsídio. E prometem o pote de ouro da felicidade no final do arco-íris, se a lição de casa for feita.
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Perto dessa mistificação elegante, a vestimenta política dos planos desenvolvimentistas – tal como implementados pela presidente Dilma Rousseff – parecem formulações pré-históricas getulistas.
- A concessão da Rainha.
- Os campeões nacionais.
- A falta de um plano de ação que desse racionalidade às ações de governo.
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Do presidente de uma influente associação da indústria de transformação ouvi elogios à entrevista de Eduardo Gianetti - principal porta-voz econômico de Marina - criticando a choradeira dos industriais e propondo o fim do crédito subsidiado, das políticas de conteúdo nacional, defendendo a independência do Banco Central etc.
Elogiou Gianetti e considerou que esse choque trará a confiança de volta às empresas. E o Finame, principal motor de financiamento de máquinas e equipamentos, um dos alvos de Gianetti? Se acabar o Finame, acaba a indústria. Então?
Então que o estilo Dilma conseguiu transformar em “sonháticos” até industriais que deveriam ter o pé no chão.
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Em caso de reeleição, estará em suas mãos o destino de um modelo de desenvolvimento que poderá ser replicado em vários países emergentes. Ou poderá se desmoralizar, caso não haja correções de rumo.
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