Política externa de Marina segue linha aecista: menos Mercosul, mais potências


Jornal GGN - Não é apenas no programa econômico que a tônica de Marina Silva (PSB) é muito similar a de Aécio Neves (PSDB). Uma análise do capítulo de política externa dos candidatos à sucessão de Dilma Rousseff (PT) mostra que Marina e Aécio convergem em matéria de revisar as negociações comerciais do Brasil no mundo. A ideia é afrouxar os laços domésticos com o Mercosul, mirando, no bloco regional, a Aliança do Pacífico, além de intensificar a perseguição a potências da União Europeia e aos Estados Unidos.
A partir da página 28 do programa de governo, a política externa é tratada como um objeto que não pode mais ficar “refém de facções ou agrupamentos políticos”. Na primeira semana de setembro, Marina disse que o fio condutor da agenda internacional de um possível mandato presidencial será a revisão de valores. “Um valor fundamental à nossa política externa será o respeito à democracia, à liberdade e aos direitos humanos”, afirmou, durante sabatina promovida pelo G1.
Com base na fala inicial, a candidata foi questionada sobre um possível rompimento com países como Cuba e Venezuela. Marina não respondeu. Seguiu dizendo que defende “o Mercosul, mas sem prejuízo da autonomia para fazer acordos bilaterais. Temos de buscar integração econômica, mas também integração cultural. Não precisamos ficar de costas para a Europa e os Estados Unidos para nos relacionarmos com África, América do Sul ou outros blocos regionais.”
Marina sustenta, em seu programa de governo, que mesmo após a última crise financeira internacional, nada mudou no arranjo global. “Não se configurou a anunciada decadência do Ocidente e uma ascensão definitiva dos países emergentes.” Depreende-se daí a insistência no olhar voltado para as potencias econômicas históricas, tema tão caro ao candidato do PSDB.
No Mercosul, salvo um acordo e outro, tanto Marina quanto Aécio sustentam que há décadas o que há é um imbatível "imobilismo”. O programa do PSB aponta o caminho para romper com a "falta de articulação" no grupo: diz que a exigência de atuação em bloco foi discutida apenas em um Conselho de Ministros das Relações Exteriores e não foi ratificada por nenhum parlamento nacional, portanto, é muito fácil de ser sustada.
A saída do Brasil do Mercosul não é cravada em nenhum dos dois programas, mas há uma evidente desvalorização das relações como se dão hoje. No caso de Marina, que tem propostas mais detalhadas que Aécio, o Mercosul teria o papel de fazer avançar a negociação com a União Europeia e voltar-se, num segundo momento, para a abertura de diálogo com a Aliança do Pacífico (México, Peru, Colômbia e Chile). Cuba e Venezuela não receberam comentários no texto.
A aproximação com os Estados Unidos, defendida por ambos os candidatos de agenda neoliberal, será feita sem mais “dramatização” dos interesses diferentes entre as partes, segundo propõe Marina. A relação com China será mantida.
Quanto ao BRICS, Marina reconhece a importância do bloco na geopolítica atual, principalmente no fortalecendo dos emergentes e na construção de “um mundo mais multipolar”. Mas ressalta que é preciso abrir os olhos para as diferenças de agenda (política, econômica, social, ambiental, de direitos humanos e liderdades civis) dos países membros. Nesse sentido, aponta maior interesse por relações comerciais com a África do Sul e a Índia - mais Ibas, menos BRICS, portanto. 
Por fim, a plataforma marinista de governo reforça que ainda cabe insistir que as direções do FMI e do Banco Mundial deixem de ser monopólios de europeus e estadunidenses. Ela também sugere, sem dar nome aos bois, que o Brasil pare de ser "omisso e ambíguo" diante de conflitos armados em países vizinhos.
Propostas de Aécio
A primeira versão do programa de governo entregue por Aécio Neves ao Tribunal Superior Eleitoral classifica o Mercosul como um bloco “paralisado e sem estratégia”, e pede o protagonismo do Brasil na flexibilização de suas regras “a fim de avançar nas negociações com terceiros países”.
Aécio ainda defende mais autonomia e a reestruturação dos quadros do Itamaraty, proposta também encampada por Marina, além da reavaliação das prioridades do Brasil no exterior, pois o país estaria “isolado” das “negociações comerciais interessantes”, e deveria caminhar em direção à Ásia, Estados Unidos e União Europeia.
Propostas de Dilma
Já o programa de governo de Dilma deixa claro que o princípio de sua administração é priorizar os vizinhos no fomento do comércio e na integração produtiva. Na visão da petista, “a importância dada aos países do sul do mundo, que tem expressão concreta nos BRICS, não significa desconsiderar os países desenvolvidos.”
Ela ressalta a relevância do relacionamento com os Estados Unidos, União Europeia e Japão, mas promete intensificar as relações com a África, asiáticos e com a China, além de afastar o fantasma do Estado que se sobrepõe ideologicamente a outras nações. “Nossa presença no mundo será marcada pela defesa da democracia, pelo princípio de não-intervenção e respeito à soberania", diz o programa.
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