O mercado financeiro e Marina Silva se assumiram
Com o fracasso do PSDB em se
firmar como braço político da elite econômica, PSB e Marina destoam de
compromissos históricos e abraçam essa agenda.
por Redação RBA
Airton Vignola/AE
Não por coincidência, estão entre os
gurus econômicos do PSB uma das donas do Itaú Neca Setúbal e os
economistas de alma tucana Eduardo Giannetti e André Lara Resende
A adesão
do mercado financeiro à candidatura de Marina Silva foi instantânea. E o
programa do PSB, já com a candidata na cabeça de chapa após a morte de
Eduardo Campos, torna nítida essa aliança em temas relacionados a
mercado de trabalho, direitos dos trabalhadores e condução da economia.
Diz o programa de Marina: “A terceirização de atividades leva a maior especialização
produtiva, a maior divisão do trabalho e, consequentemente, a maior
produtividade das empresas”. É essa a linguagem utilizada pelas empresas
e bancos quando substituem seus quadros de funcionários por serviços
terceirizados para economizar com salários e direitos e desorganizar
categorias.
E são esses os argumentos da bancada
empresarial no Congresso desde 2004, na tentativa de aprovar um projeto
de lei (o PL 4330) que escancara as portas da legislação trabalhista
para essa fraude na subcontratação de mão de obra. Atualmente, as
empresas perdem na Justiça do Trabalho os processos contestando essa
prática. E com um programa desses, podem acabar com a “insegurança
jurídica”.
O objetivo de “reduzir os custos” do
trabalho no Brasil não é novo. Um projeto de lei com esse fim foi
aprovado pela Câmara dos Deputados em 2002, último ano de governo FHC.
Quando Lula tomou posse, em 2003, retirou o projeto, que já estava no
Senado, e enterrou sua tramitação. De lá para cá, o Brasil conviveu com
um processo de desenvolvimento que apostou no fortalecimento do mercado
interno, permitiu a criação de empregos e o aumento da renda.
Para retomar aquela agenda que havia sido
superada, Marina precisará de uma coalizão neoliberal conservadora no
Congresso, nos moldes daquela que deu sustentação às políticas da era
FHC. Com o discurso da “nova política”, vai precisar de adesões do pior
da “velha política” para cumprir seus “compromissos”.
Seu programa defende a independência do
Banco Central, o que significa retirar do Estado o papel de regulador da
economia e deixar ao sabor do mercado a regulação dos juros, do crédito
e do câmbio, por exemplo. Não por coincidência, estão entre os gurus
econômicos do PSB uma das donas do Itaú Maria Alice Setúbal e os
economistas de alma tucana Eduardo Giannetti e André Lara Resende. Por
meio da candidata, propõem superávits primários (sobras de caixa para
arcar com o pagamento de juros da dívida pública) mais elevados que os
atuais. Mesmo que ao preço de conduzir a economia brasileira a um forte
arrocho fiscal, levando à redução dos investimentos públicos e dos
gastos sociais.
O programa de Marina para a política
comercial também repete o ideário neoliberal que prevaleceu no Brasil
durante os anos 1990, e que destruiu economias em todo o mundo. Os
acordos bilaterais propostos pela candidata do PSB contrariam a
tendência de fortalecimento dos blocos econômicos como o Mercosul. A
diminuição da importância do pré-sal também é um dos anseios da “nova”
aliança, o que anularia os enormes investimentos em pesquisa e
tecnologia feitos para que o Brasil assumisse posição de protagonista no
campo energético mundial. E prejudicaria o retorno desses
investimentos, já previsto em lei, para a educação e a saúde.
Outra curiosidade do caderno de projetos
do PSB para o Brasil é destinar cinco páginas à importância do
agronegócio, e de se garantir seu crescimento, e somente três parágrafos
à agricultura familiar, que responde pelo emprego de 74% da mão de obra
na área rural, por aproximadamente 38% da produção nacional, e por 60%
da produção de alguns itens básicos da alimentação brasileira.
O programa reserva ainda a redução do
papel do BNDES e dos bancos públicos, tanto no que diz respeito ao
crédito de longo prazo quanto ao consumidor. Marina propõe acabar com
crédito direcionado, aquele que financia casa própria, agricultura,
pequenos e médios empresários e industriários. Em benefício dos bancos
privados, que poderiam cobrar juros mais altos na concessão desse tipo
de empréstimo, que hoje é regulamentado.
Os riscos desse receituário são conhecidos dos brasileiros: recessão
de fato (muito além da “recessão técnica”) e a volta do desemprego. Um
cenário dos anos 1990, que enfraquece os trabalhadores e diminui sua
capacidade de promover a distribuição de renda por meio de aumentos
reais em seus acordos coletivos.Com o fracasso do PSDB em se firmar como braço político da elite econômica, no plano nacional, o PSB e Marina aceitam assumir essa agenda. Ela une sua fome de ganhar uma eleição com a vontade do mercado de devorar o projeto de desenvolvimento com distribuição de renda e inclusão social que vem sendo construído desde 2003 ao longo dos governos Lula e Dilma. É isso o que está em jogo no dia 5 de outubro.
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