segunda-feira, 22 de dezembro de 2014

MÍDIA - O golpe de Veja continua impune.

O golpe de Veja na eleição de 2014

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Por Emiliano José, na revista Teoria e Debate:
“Nos últimos anos, a maioria dos brasileiros, sem desertar de suas convicções democráticas, mas,
mesmo em razão delas, já construiu amplamente
um diagnóstico crítico do modo de funcionamento
do atual sistema político no Brasil e anseia por
reformas políticas. Há muitas evidências de que já se está firmando em um número cada vez maior de brasileiros a consciência de que também o
sistema de comunicações de massas, privatizado,
altamente concentrado e oligopolizado, não serve
à democracia do país e precisa ser regulado a
partir de princípios republicanos e pluralistas.”

(Em Defesa de uma Opinião Pública Democrática –
Conceitos, Entraves e Desafios.  Venício A. de Lima, Juarez Guimarães e Ana Paola Amorim (orgs.).  São Paulo: Paulus, 2014. p. 9.)
Golpes midiáticos na América Latina não constituem novidade, especialmente depois que golpes militares entraram em desuso. O mais espetacular deles ocorreu na Venezuela em 11 de abril de 2002, encabeçado pela RCTV. Durou poucas horas, devido à impressionante revolta popular contra a deposição do presidente Hugo Chávez. Este, desde sua chegada ao poder, em 1998, enfrentou sempre a ferocidade dos principais meios de comunicação do país, entre os quais as outras emissoras privadas de televisão – Venevisión, Globovisión, Televen e CMT – e nove dos dez maiores jornais impressos do país, como El Universal, El Nacional, Tal Cual, El Impulso, El Nuevo País e El Mundo. Os monopólios privados venezuelanos contrários ao presidente Chávez detinham 95% da audiência.
Esses monopólios midiáticos substituíam, na prática, os partidos políticos de oposição tradicionais, cuja força era pequena, e qualquer semelhança com o Brasil não será mera coincidência. Foi com base nesse poderio, e na liberdade de imprensa existente, que a RCTV sentiu-se à vontade para dar o golpe. Só não mediu a monumental reação popular, que frustrou a tentativa. Dia 13 de abril, Chávez estava de volta ao poder. A partir desse retorno no dia 13, cunhou-se uma expressão agora usual na Venezuela: “Cada 11 tem seu 13”. Os monopólios analisaram mal a correlação de forças, não mediram a popularidade, o carisma de Chávez, o enraizamento que seu programa político tinha entre as camadas exploradas da sociedade venezuelana. Golpes midiáticos, assim, não são inéditos na América Latina.

O “odiojornalismo” de Veja
Veja sempre foi adversária do projeto político vitorioso em 2002 no Brasil. Nunca escondeu isso. E seu jornalismo, vá lá, sempre se viu contaminado por essa visão. Sempre combateu ferozmente o PT, Lula, agora Dilma. Em todas as quatro eleições vencidas pelo PT e pelos partidos que apoiam o projeto político em curso, não poupou esforços para derrotar primeiro Lula, depois Dilma. O fato é que Veja tem um programa político, defende o projeto neoliberal, encampa as posições mais conservadoras do país. Faz um jornalismo obscenamente partidário, nunca teve o mínimo da isenção pensada pelo jornalismo liberal, distorce os fatos, inventa-os, se considerar necessário.

Na eleição de 2014, no entanto, se superou. Tentou, sem meios-termos, um golpe midiático, que fracassou. Não se desconheça, no entanto: a iniciativa de Veja retirou alguns milhões de votos da presidenta Dilma. Se vitoriosa, teria fraudado uma eleição. O que fez está a anos-luz do jornalismo, ao menos de um jornalismo que se paute na boa apuração, na credibilidade e diversidade das fontes, no respeito aos fatos. Não estamos nos referindo ao conjunto da cobertura de Veja durante as eleições de 2014, toda ela voltada ao combate sistemático e feroz à presidenta Dilma e a sua reeleição.

Feroz, tão feroz, a ponto de levar a professora Ivana Bentes, da Universidade Federal do Rio de Janeiro, a classificar o jornalismo de Veja como “odiojornalismo”, próprio também da “tropa de choque” conservadora da imprensa brasileira, da qual fazem parte, entre outros, Arnaldo Jabor, Diogo Mainardi, Merval Pereira, Dora Kramer, Reinaldo Azevedo e Demétrio Magnoli. É uma coisa só, expressão exacerbada da demonização da política, prática cotidiana, persistente, recorrente de toda a mídia hegemônica. Vale a pena citar Ivana Bentes:

“Essa demonização da política tornada cultura do ódio se expressa por clichês e por uma retórica de anunciação de uma catástrofe iminente a cada semana nas colunas dos jornais e que retroalimentam, com medo, insegurança, ressentimento, uma subjetividade francamente conservadora de leitores e telespectadores”.

Tais opiniões foram expostas pela professora em entrevista à revista IHU On-Line, postada em 5 de novembro. Para Ivana Bentes, “essa pedagogia para os microfascismos e a educação para a intolerância podem ser resumidos na retórica que desqualifica e aniquila o outro como sujeito de pensamento e sujeito político, o que fica explícito na fala de alguns colunistas”.

“Um exemplo muito claro, inclusive no seu cinismo”, detalha a professora, “é este trecho de uma coluna do Arnaldo Jabor de 28/10/2014, pós-eleições. Com uma argumentação pueril e assujeitante que coloca eleitores, nordestinos e nortistas, pobres como ‘absolutamente ignorantes sobre os reais problemas brasileiros’ em um cenário pós-eleições em que ‘nosso futuro será pautado pelos burros espertos, manipulando os pobres ignorantes. Nosso futuro está sendo determinado pelos burros da elite intelectual numa fervorosa aliança com os analfabetos’.”
Paremos aqui nossa breve e necessária digressão.

Cabeça de ponte do golpe
Para além, no entanto, da cobertura semanal de Veja absolutamente coerente no combate ao projeto político em curso desde 2003, quero aqui concentrar esforços na análise da cabeça de ponte do golpe midiático tentado pelo Grupo Abril contra a reeleição de Dilma Rousseff, a edição 2397 da revista Veja, datada de 29 de outubro de 2014, cuja capa e trecho inicial da reportagem “Eles sabiam de tudo” – eles são Dilma e Lula – foram postados no site da revista no dia 23 de outubro, quinta-feira, às 20h19. Às 21 horas, a coluna de Ricardo Setti, Política & Cia, do site de Veja, também reproduz capa e texto que abre a reportagem, mesmo procedimento adotado pelo blog de Reinaldo Azevedo, às 21h10, e pelo programa Aqui entre Nós, da TVeja, às 22h19.

Não há equívoco em afirmar que o golpe iniciou-se na noite de quinta-feira, presumivelmente com a ideia de que, antecipando o lançamento da revista já na quinta, ao menos on-line, haveria tempo para reverter a vantagem de Dilma Rousseff, localizada pelas pesquisas daqueles últimos dias, e quem sabe possibilitar a vitória de Aécio Neves. Veja iria disparar a bala de prata da direita brasileira, e seria secundada pelo restante da mídia hegemônica, que ninguém se iluda quanto a isso nem queira tergiversar.

Esse mapeamento de postagens foi feito de modo meticuloso pela campanha da presidenta Dilma, logo que foram percebidos os primeiros movimentos da tentativa golpista. O levantamento foi denominado “Operação Abril”, e permitiu um monitoramento passo a passo. Esse passo a passo, devidamente sistematizado, serviu para os advogados da campanha pedirem providências à Procuradoria-Geral da República, de modo a que esta, considerando a propriedade das informações, pudesse produzir provas para a instauração de uma Ação de Investigação Judicial Eleitoral (Aije). Isso ainda está em curso.

Na mesma quinta, às 21h49, a coligação da candidatura Dilma entra com ação no TSE contra a divulgação da capa de Veja no Facebook. O Ministério Público dá parecer favorável, mas o ministro-relator, Admar Gonzaga, não concede a liminar, e o processo é arquivado. Imediatamente é apresentada uma segunda ação “inibitória de publicidade”. O Ministério Público de novo se manifesta favoravelmente e o ministro-relator, então, concede a liminar, como concedeu liminarmente direito de resposta à coligação liderada por Dilma. Veja, por decisão do TSE, teria de suspender qualquer tipo de publicidade em torno da capa em outdoors, cartazes, banners e na internet, certamente uma das armas do golpe midiático.

A revista não cumpriu a decisão e, além disso, a campanha de Aécio, nos momentos seguintes, distribuiu milhares de reproduções da capa em manifestações, nas ruas, distribuição que o TSE não vetou. Os efeitos que o Grupo Abril pretendia estavam se fazendo sentir. O tanque midiático se colocou nas ruas, com toda a força que podia. O intenso esforço jurídico da campanha de Dilma resultou em algum constrangimento para a revista, mas obviamente teve poucos efeitos práticos, seja pelo desrespeito de Veja, seja porque a eleição se daria dali a poucas horas. Luis Nassif mostra como os sucessivos pedidos de direito de resposta da coligação liderada pela presidenta foi “arquivado pelas Cortes” (“Como o direito de resposta de Dilma na Veja foi esvaziado”, Luis Nassif Online). Um golpe deflagrado pela internet na quinta-feira, a revista posta nas ruas na sexta, a eleição marcada para domingo. A ofensiva era poderosa demais, e a guerrilha jurídica podia pouco naquelas circunstâncias, embora necessária.

Há quem afirme ter havido alguma relutância de parte da mídia hegemônica em entrar imediatamente na “Operação Abril”, por sua natureza fantasiosa, sem a devida comprovação, sem base em fatos. Faltava-lhe um pretexto sólido que fizesse com que toda ela embarcasse na canoa golpista, com gosto, na primeira hora. E o pretexto apareceu. Divulgada como articulação de jovens da União da Juventude Socialista (UJS), vinculada ao PCdoB, a manifestação defronte da sede da Editora Abril, em São Paulo, na sexta, forneceu o argumento para que toda a mídia hegemônica fizesse coro com Veja. Se é que de fato ela necessitava disso.

Entre os que conhecem bem as famílias dominantes da mídia, há os que asseguram que elas não ficariam de fora dessa ofensiva de modo nenhum – se relutaram na sexta, embarcariam no sábado de todo jeito, com ou sem pretexto. A relutância não decorreria, portanto, da busca de pretexto algum. As famílias teriam resolvido esperar o sábado apenas porque isso não daria tempo à campanha da presidenta para qualquer medida jurídica. Ao entrar o faziam como jogo da casadinha – fazer de conta que estavam simplesmente “repercutindo”. O argumento foi o ataque a um órgão de imprensa, que não podia deixar de ser noticiado, e, de complemento, vinha o mais importante, que era a repercussão da capa-matéria de Veja – “Eles sabiam de tudo”. Se houve acordo entre as famílias da mídia hegemônica, foi cumprido. Se não houve, a inegável convergência política garantiu a unidade, para além de quaisquer acordos prévios.

A Folha de S.Paulo, no sábado 25, estampa o título “Doleiro acusa Lula e Dilma, que fala em terror eleitoral”. Na linha de apoio, escreve “Ambos sabiam de desvios na Petrobras, diz delator; para Aécio, caso é ‘extremamente grave’”. Ou seja, assume o que Veja noticiara. Laconicamente, diz que “a afirmação foi publicada pela revista Veja e confirmada pela Folha”. Não oferece maiores explicações sobre como confirmou, com quem, nada. E cumpriu bem seu papel de se colocar sob a direção de Veja.

O jornalista Rodrigo Vianna (“O golpismo midiático segue em marcha: Veja e o JN”, postado em 25 de outubro) afirma que a Folha de S.Paulo, com tal matéria de endosso à Veja, deu base para que a Rede Globo entrasse de peito aberto no assunto: “virou fato jornalístico”. No mesmo sábado, às 13 horas, a emissora abre o Jornal Hoje com o episódio da manifestação contra a Veja do dia anterior. Depois, segue a matéria na linha sempre do “segundo a Veja” para também acusar Lula e Dilma de saberem de tudo o que ocorria na Petrobras. À noite, o Jornal Nacional praticamente repete a matéria. A casadinha cumpria sua trajetória rotineira.Na opinião do jornalista, a Rede Globo não entrou pra valer na sexta por uma razão simples: havia o debate à noite nos estúdios da emissora, e Dilma poderia denunciá-la no ar, acusá-la de golpista, como fez com Veja. Melhor esperar que alguém a ajudasse, e a Folha apressou-se em fazê-lo. Vianna, que trabalhou na Globo, diz ter recebido a informação segura de um jornalista amigo, com mais de trinta anos de experiência: o roteiro está pronto, jogo combinado, da Veja para a Globo, com endosso da Folha. Tudo acertado, tudo feito de acordo com o script traçado. Veja nunca ficou solitária no esforço golpista. Casadinha combinada, casadinha cumprida.

Parênteses para um mix de realidade e imaginação
Certamente, nas possíveis discussões realizadas pelo Grupo Abril para a consecução da tentativa de golpe, tudo isso foi devidamente dimensionado, os prós e os contras. Ao construirmos agora nosso raciocínio, esclarecemos que ele se desenvolve com base na realidade e que os buracos eventualmente são preenchidos com a imaginação. Esses buracos decorrem da ausência de fatos mais transparentes sobre o desencadeamento da “Operação Abril”, muitos deles ainda sob o manto da obscuridade, querendo-se clandestinos. Sabia-se da delicadeza da iniciativa, mas pressupunha-se com alguma razão que o adversário teria pouco tempo para reagir. O ataque levava o efeito-surpresa como seu maior trunfo.

É provável que alguém tenha dito ser muito arriscado fazer aquela tentativa golpista, a mais ousada até agora desfechada pelo conglomerado. Certo, houvera outras, mas mais amenas, menos fantasiosas. Um ou outro deve ter argumentado ser muito difícil tirar 8 ou 9 pontos de diferença em tão pouco tempo. Valia a pena correr todos os riscos implícitos na operação? – teria perguntado outro. Quem sabe um espírito jornalístico menos partidarizado tenha dito que o material em mãos era muito frágil para ser noticiado, quanto mais em se tratando de um ex-presidente e uma presidenta. Ainda há jornalistas em Veja. Retraídos, é verdade. Quase submersos na clandestinidade. De vez em quando, externam opiniões.

Não deverá ter faltado, no entanto, entre os defensores da iniciativa, quem dissesse ser aquela a única e última cartada para tentar evitar a quarta vitória do petismo. E não terão faltado lembranças sobre outras iniciativas fantasiosas que tiveram impacto – como aquela inimaginável matéria que acusava o PT de ter recebido US$ 3 milhões vindos de Cuba – e não repercutiram negativamente para a revista. Quase uma coisa na linha de o crime compensa.

No Brasil, para a imprensa tudo é permitido. Isso aqui não é a Inglaterra, teria refletido um dos interlocutores. Aqui Murdoch desfilaria impune e seus meios de comunicação sobreviveriam tranquilos, teria acrescentado aquele editor. A Inglaterra pegou a doença bolivariana, chegou a brincar um editor. No Brasil, acrescentou, não há esse negócio de regulação de mídia e de há muito que o direito de resposta não funciona, e nem tempo haverá para isso.

O Grupo Abril não podia era ficar de braços cruzados diante da ameaça real da quarta vitória petista, que punha seriamente em risco a sobrevivência do conglomerado e contrariava frontalmente seu programa político para o país. Afinal, o grupo tinha um candidato e tudo devia ser feito para evitar a vitória do petismo. Tudo era tudo. Não propriamente pelos caminhos estritos do jornalismo. E algum outro, do núcleo dirigente, pode ter alertado que o candidato Aécio estava inteiramente de acordo com a operação. Por isso, não podia haver vacilação.

“Às favas o jornalismo”, pode ter dito algum dos interlocutores da nossa história, parafraseando o então ministro Jarbas Passarinho, em dezembro de 1968, que diante da proposta do AI-5 dirigiu-se ao ditador Costa e Silva dizendo: “Às favas, senhor presidente, todos os escrúpulos de consciência”. Qualquer semelhança não será mera coincidência. Pode ter ocorrido toda essa discussão. Difícil acreditar que a mais ousada tentativa de golpe de um grupo de mídia contra uma candidatura no Brasil tenha se dado sem algum debate, por restrito fosse o núcleo dirigente. Como toda unanimidade é burra, não se acredita todos tenham concordado. Mas, em todo caso, pode-se admitir a ausência de discussão. Pode-se. Sempre é possível. Quem sabe possa vindo simplesmente uma ordem do céu, com um “cumpra-se”. E cumpriu-se. Afinal, o céu, por todas as razões, é bem informado. Quanto mais o céu da Abril. Um dia, e não deve demorar, tudo isso virá à tona, e a conta-gotas já está vindo. Contado como de fato se deu. Golpes não podem ficar à sombra, inclusive os midiáticos. Não devem. Para que não se repitam.

O advogado falastrão
Na mesma quinta-feira, O Globo Online, às 22h13, como ocorre nos casos das “casadinhas”, produz repercussão relativamente longa da matéria de Veja. “Casadinhas”, insista-se, constituem uma espécie de acordo entre os meios de comunicação em que um pauta o outro, e Veja tem sido uma pauteira essencial dos outros meios, até porque a mídia hegemônica tem pontos de vista políticos absolutamente coincidentes. Os monopólios se entendem. A concorrência vai pro espaço. E em casos tão essenciais como esse, em que está em jogo o destino político do país, dane-se a concorrência. Toda a mídia hegemônica queria Aécio. Toda ela estava contra Dilma.

Só que O Globo Online deixa escapar uma primeira declaração do advogado de Youssef, Antonio Figueiredo Basto, que irá jogar lama na “Operação Abril”, pôr dúvidas sobre sua consistência, que é nenhuma, de fato. “Eu nunca ouvi nada que confirmasse isso (que Lula e Dilma soubessem do esquema de corrupção na Petrobras). Não conheço esse depoimento, não conheço o teor dele. Estou surpreso”, registrou O Globo Online. O advogado disse mais, de acordo com a matéria: “Conversei com todos da minha equipe e nenhum fala isso. Estamos perplexos e desconhecemos o que está acontecendo. É preciso ter muito cuidado porque está havendo muita especulação”.

No entanto, ao jornal Valor Econômico de 30 de outubro, passadas as eleições, portanto, Basto nega participação no que chamou de “divulgação distorcida”. “Asseguro que eu e minha equipe não tivemos nenhuma participação nessa divulgação distorcida”. Certamente, ele já tinha conhecimento da abertura de inquérito para apurar “o acesso de terceiros” ao conteúdo do depoimento prestado por Alberto Youssef a delegados da PF e a procuradores da República, determinada pelo superintendente da Polícia Federal no Paraná, delegado Rosalvo Ferreira Franco. Basto disse querer uma “apuração rigorosa”. Ele já integrou o conselho da Companhia de Saneamento do Paraná (Sanepar) no início dos anos 2000, a convite do PSDB, mas negou qualquer tipo de envolvimento com partidos políticos atualmente, tendo se desligado daquele conselho em 2002, segundo informou ao Valor Econômico, na mesma matéria.

Veja, na matéria fantasiosa, afirma que a declaração de Youssef teria ocorrido no dia 22 de outubro. O advogado é taxativo nas declarações ao Valor Econômico: “Nesse dia não houve depoimento no âmbito da delação. Isso é mentira. Desafio qualquer um a provar que houve oitiva da delação premiada na quarta-feira”. Diz ser falsa a informação de que houvera depoimento na quarta-feira para que acontecesse um “aditamento” ou retificação sobre o que o doleiro afirmara no dia anterior, 21. “Não houve retificação alguma. Ou a fonte da matéria mentiu, ou isso é má-fé mesmo”.

Parece tudo muito claro, e nessa matéria não há hesitações do advogado. Ele só hesitará diante do site de Veja, na sexta-feira 24, às 13h16: “Eu acho que as minhas declarações estão sendo usadas politicamente. Não posso me manifestar sobre um fato que é sigiloso. Nunca desmenti a reportagem da revista. Eu não posso desmentir um fato sobre o qual não posso me manifestar”. Uma no cravo, outra na ferradura, talvez se vacinando com relação ao inquérito instaurado pela Polícia Federal, quem sabe. Parece, no entanto, muito mais consistente sua fala ao Valor Econômico, onde nega até a oitiva da quarta-feira 22, utilizada por Veja como “prova”.

Da verdade mesmo, nesse caso, não sabemos tudo ainda. Jânio de Freitas, no mesmo dia 30 de outubro, na Folha de S.Paulo, em artigo denominado “Um fato sem retificação”, informa que a Polícia Federal suspeita que Youssef foi induzido a acusar Dilma e Lula numa operação para influir na eleição deste ano. Jânio de Freitas, do alto de sua longa experiência e de seu olhar atilado, a par de registrar a competência crescente da Polícia Federal, não revela esperança em qualquer resultado efetivo em relação ao inquérito que pretende investigar o vazamento. Porque nunca houve resultado em casos anteriores de tentativas de influir em eleições. “Não se espere por exceção”, conclui o jornalista. A ver como os acontecimentos se desdobram.

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* Emiliano José é jornalista, deputado federal (PT-BA) e membro do Conselho de Redação de Teoria e Debate.

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