terça-feira, 1 de novembro de 2016

POLÍTICA - "Eu não vou desistir".


Lula aos estudantes: “eu não vou desistir”


Para surpresa e possível decepção dos que já o davam por morto depois da derrota do PT nas eleições e dos que o recriminaram por não ter votado no segundo turno, Lula reapareceu, hoje de manhã, lépido e fagueiro, falando aos estudantes reunidos no campus da Lagoa do Sino, em Buri, estado de São Paulo, da Universidade Federal de São Carlos, ao lado do escritor Raduan Nassar que doou o terreno do campus e do vereador eleito de São Paulo Eduardo Suplicy, com o bom humor de sempre.
   Lula não estava nem um pouco abatido e não demonstrou pessimismo, tristeza ou rancor.
   Ao contrário, falou como quem tinha acabado de ganhar as eleições:
   “O Brasil fez sua primeira universidade em 1922, 422 anos depois da descoberta. E por que? Por que a universidade do Brasil é a última da América do Sul? Porque a elite brasileira nunca se importou com a educação do povo brasileiro. Mandavam seus filhos estudar na França, em Portugal, Espanha, nos Estados Unidos, Inglaterra, em qualquer lugar e o filho do pobre nasceu pra trabalhar cortando cana de açúcar ou trabalhar de pedreiro. É essa a cabeça da elite brasileira. A mesma elite que deu o golpe. A mesma elite que rasgou a constituição para fazer o impeachment, a mesma elite que quer criminalizar a esquerda desse país, inventando mentiras vinte e quatro horas por dia, através dos meios de comunicação”.
   Coro de estudantes interrompeu para recitar um grito de guerra: “a verdade é dura/ a Rede Globo apoiou a ditadura”.
   Lula aproveitou a deixa:
   “Só este ano o Jornal Nacional já produziu mais de 12 horas falando contra o Lula, achando que o fato de falar mal do Lula vai acabar com o Lula”.
   Estudantes, em uníssono, responderam: “não vai”.
   Nenhum golpista foi citado nominalmente. Lula referiu-se ao grupo:
   “Eu tenho brincado com eles: vocês querem consertar o país? Querem? Vamos conversar e consultar o povo brasileiro pra ver o que o povo quer”.
   Antes e depois do golpe, são dois Brasis:
   “Esse era o país mais otimista do mundo, era um país alegre; de repente, ficou mal humorado. Não gostam de vermelho... não gostam disso... não gostam daquilo”.
   Lula falou do golpe sem levantar o tom, mas levantou várias hipóteses:
   “Reflitam porque aconteceu esse golpe no Brasil, sem nenhuma razão de ser. Será que foi por causa do maior descoberta de petróleo do século 21? Será que foi porque nós destinamos 75% dos royalties para resolver os problemas da educação, recuperar o tempo perdido? Será que foi porque o Brasil virou um protagonista internacional, por ter criado um BRICS, por ter criado um banco fora do FMI”?
   “Não desistam. Se eu que completei 71 anos este ano, no dia 26 de outubro, não quero desistir, o jovem não tem razão para desanimar. Toda vez que vocês estiverem desanimados, toda vez que vocês assistirem o Jornal Nacional e ficarem desanimados vocês tem que se lembrar que o político que vai dirigir esse país não é o Lula, não é o Raduan; são vocês. Assumam a responsabilidade”.
   E ainda aconselhou a tratar com civilidade os oponentes:
   “Essas pessoas que brigam com vocês não são inimigos, vocês têm que ter consciência que é preciso politizá-los, é preciso fazer debate, é preciso fazer debate sobre economia, sobre política, para eles aprenderem como é que eles estão equivocados”.
   Não falou em Temer, Moro ou Lava Jato.
   Não acho que o resultado péssimo do PT afete Lula, tanto é que a mais recente pesquisa presidencial de 2018, realizada dias antes do segundo turno, e da confirmação do naufrágiio petista, apontava Lula em primeiro lugar.
   Os brasileiros compraram a versão de que o PT levou o país à ruína – tudo indica - e resolveram demonizá-lo, votando não exatamente em seu candidato favorito, mas naquele que consideravam o mais qualificado para derrotar o Partido dos Trabalhadores, mas não acreditam nas acusações a Lula, pois ainda confiam nele.
   E a recíproca é verdadeira.

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