sábado, 26 de novembro de 2016

POLÍTICA - Fidel: "A história me absolverá"

Este é o momento que confirma o prognóstico de Fidel Castro sobre si mesmo: “A História me absolverá”, título de seu discurso de defesa no processo que enfrentou  após a fracassada tentativa de assalto ao quartel de Moncada, em 1953, bem antes do triunfo da Revolução.   Os principais líderes políticos do mundo, de todas as tendências, e até mesmo o Papa Francisco, lamentam sua morte reconhecendo sua dimensão histórica. Há sempre os que são mesquinhos mesmo na morte, como os dissidentes que festejaram sua morte nas ruas de Miami ou a Folha de São Paulo, que na edição de hoje o chamou reitera e desnecessariamente de ditador.
A Revolução que ele liderou em 1959, derrubando o ditador Fulgêncio Batista ali mantido como marionete pelos Estados Unidos, foi primeiramente um levante do povo cubano contra a opressão, muito antes da opção pela via socialista. Cuba era então o bordel caribenho dos americanos.  A revolução ainda nem era comunista e já se tornara a inspiração libertária para os jovens de todo o mundo, e especialmente da América Latina,  identificados a força revolucionária de Fidel e seus companheiros de guerrilha, como Che Guevara e Camilo Cienfuegos.  Com a opção comunista, Cuba mostrou que era possível construir uma sociedade mais fraterna e igualitária. A revolução não deu luxo aos cubanos mas o essencial nunca faltou, especialmente educação e saúde universais.    Seu povo muitas vezes deu provas inequívocas de unidade em torno de Fidel e do ideal revolucionário,  como na emblemática expulsão dos que tentaram invadir a Baia dos Porcos,  na mais desastrada operação americana contra  outro país. Excessos houve mas revoluções que hesitam,  fracassam. Revolução nunca foi conciliação e o povo cubano optou pela revolução. 
Mas para além de suas virtudes, bem maiores que suas falhas, a revolução cubana que se confunde com a vida de Fidel representou para a minha e outras gerações a confirmação de que os homens podem mudar o mundo, de que os fracos podem se levantar contra os fortes, de que é possível viver fora da escravidão pelo outro e pelo capital.
Fidel e a revolução cubana foram também, para os povos da América Latina, um farol indicador de que poderiam escolher seus próprios caminhos,  afirmando cada um sua soberania e sua liberdade. Nenhum país latino-americano reproduziu a revolução cubana ou trilhou seus caminhos, apesar do sacrifício de Che e de outros que se levantaram em armas contras ditaduras, contra outros Fungêncios Batista. Cada povo é um, com sua história e suas  condições. Mas Fidel contribuiu imensamente para que a Amèríca Latina tenha deixado de ser o quintal dos Estados Unidos, o grande bananal de ditaduras subservientes.  A revolução cubana foi que soprou e espalhou este sentimento continente afora.   A roda da história girou, Cuba atravessou momentos difíceis, fustigada pelo bloqueio comercial norte americano,  abalada pelo fim da ajuda soviética após a debacle do socialismo no Leste, cobrada mundialmente pelo deficit de democracia interna, isolada diante de um mundo que se globalizou. Fidel soube a hora de passara o bastão a Raul, assimilou a necessidade de abertura e flexibilização e esperou serenamente pelo apagar da chama de uma vida ímpar, dedicada a seu povo.  O julgamento da História começa agora, quando líderes de todo o mundo, dos mais ideologicamente próximos aos mais antagônicos,  o colocam entre os grandes estadistas do mundo.
Fidel morre quando a direita avança no mundo, quando o socialismo virou quimera, quando o retrocesso  encarna em Trump

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