*Maus pressentimentos*
*Ricardo Leitão*
A menos de 100 dias das eleições de 2 de outubro nada ajuda Jair Bolsonaro. A última pesquisa Datafolha apresentou os piores resultados para Sua Excelência: a maior rejeição; a menor intenção de votos entre as mulheres e os pobres (maioria do eleitorado) e perda crescente de apoio nas regiões Nordeste e Sudeste, que reúnem os contingentes majoritários de eleitores.
A pesquisa também indica resiliência do chefe do desgoverno, que permanece sustentando cerca de 25% das intenções de voto. No entanto, quando são calculados os sufrágios válidos – como faz o Tribunal Superior Eleitoral (TSE) –, Bolsonaro perderia para o petista Luiz Inácio Lula da Silva já no primeiro turno. A hipótese ganha força quando se constata que eleitores de Ciro Gomes admitem votar em Lula já na primeira rodada, para devolver logo Sua Excelência ao seu deplorável passado.
Mantidas as condições atuais de temperatura e pressão, as pesquisas divulgadas no fim de julho, a 60 dias da eleição, devem apresentar o amplo favoritismo de Lula – e a derrota irreversível de Bolsonaro. Terá chegado a hora em que ele concluirá que dentro das regras democráticas não haverá salvação e o caminho que lhe resta é o golpe de Estado. É possível?
Desde que começaram a ser divulgadas as amostragens de intenção de voto para a Presidência da República, nunca, em nenhuma delas, Bolsonaro superou Lula. Pior: em todas as simulações de segundo turno, Sua Excelência seria derrotado por todos os seus principais adversários. É como se, em qualquer situação, prevalecesse o antibolsonarismo, como prevaleceu o antipetismo na eleição de 2018.
Não há tempo, dinheiro, políticas, programas e projetos capazes de neutralizar o antibolsonarismo. O desgoverno atua no improviso, liderado pelo homem errado, na hora errada e no lugar errado. A sucessão de crises, em todos os setores, só realça a tragédia que atravessa o Brasil. Não bastassem a inflação, a fome, o desemprego, a crise dos combustíveis, o desenvolvimento medíocre e o assassinato de ambientalistas, Bolsonaro está agora envolvido em um escândalo de desvio de milhões de reais no Ministério da Educação. Como operadores da fraude são acusados pastores evangélicos, representantes das mais fiéis de suas bases eleitorais.
O que tem Sua Excelência para tentar o golpe de Estado, que na verdade nunca cessou de articular e fomentar? O apoio das milícias bolsonarianas, algumas armadas, açuladas por integrantes de redes sociais de extrema direita, que ameaçam de morte até ministros do Supremo Tribunal Federal (STF); comandantes das Forças Armadas contaminados pelo antipetismo, que também poderia atingir o eleitorado mais conservador; parte do empresariado – como de costume – dúbia, que penderá para o lado vencedor, qualquer. Faltaria o povo nas ruas, clamando pelo golpe, mas a mobilização fica mais difícil com os altos índices de rejeição a Bolsonaro. Mas ele vai tentar e já marcou data para que seus adeptos tomem as praças e avenidas: Sete de Setembro, a menos de um mês da eleição, quando os bolsonaristas querem ocupar as áreas centrais de todas as capitais. Bradarão pelo golpe?
Pode ser ou pode não ser. Por precaução, são tomadas as providências em defesa da democracia. O TSE confirma e reconfirma a eficiência e a segurança das urnas eletrônicas, atacadas por Sua Excelência como parte da articulação golpista; a mídia destaca e combate quaisquer tentativas do desgoverno de afronta à Constituição; a Igreja Católica alerta, e instituições e persolidades internacionais se levantam em defesa da democracia do Brasil.
O problema é que o medo de ser derrotado e preso pode levar Bolsonaro ao delírio de que existe uma conspiração em curso contra ele e para vencê-la a solução é um autogolpe, mesmo que resulte em uma guerra civil. Ninguém que tenha informações e consciência do que está acontecendo e pode acontecer no País deve descartar essa possibilidade. É necessário ter atenção total. São compreensíveis os maus pressentimentos
Nenhum comentário:
Postar um comentário