sexta-feira, 21 de junho de 2024

Eleições francesas.

 


Com discurso ofensivo contra pessoas trans, Macron ataca esquerda e divide apoiadores

Presidente francês atacou aliança progressista por propor ‘coisas completamente absurdas, como fazer operações de mudança de sexo nas prefeituras’

O presidente francês Emmanuel Macron segue atacando seus oponentes nas eleições legislativas antecipadas, e vem reservando seus golpes mais duros para a Nova Frente Popular, como é chamada a aliança de esquerda, correndo o risco de irritar seu próprio campo e confundir as diretivas da “união de moderados” que ele mesmo sugere como linha de frente para a campanha, antes de um pleito decisivo para a França. Uma de suas declarações, visando pessoas trans, gerou polêmica esta semana.

Os apelos de seu campo para que se mantivesse longe das polêmicas não surtiram efeito, nem mesmo a desconfiança de grande parte de seus apoiadores: o chefe de Estado francês continua a alimentar a campanha com seus comentários, que fomentam novas controvérsias.

Na terça-feira (18/06), à margem das comemorações que marcam o 84º aniversário de uma cerimônia oficial na Ile de Sein, na região da Bretanha, ele atacou o programa da Nova Frente Popular, descrevendo-o como “totalmente imigratório”.

“Eles estão propondo a abolição de todas as leis que controlam a imigração”, disse na ocasião.

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Em seguida, Macron atacou a esquerda por propor “coisas completamente absurdas, como fazer uma mudança de sexo na prefeitura”. Essa foi uma alusão a uma passagem do programa da Nova Frente Popular que propõe “autorizar uma mudança gratuita de estado civil perante a administração” para pessoas transgênero.

Transfobia

As observações de Emmanuel Macron foram imediatamente condenadas pela esquerda, bem como pelas associações LGBTQIA+, que ficaram “chocadas” com essa “mudança perigosa” em um contexto de “transfobia”.

Em seu próprio campo presidencial, o ex-ministro e atual deputado Clément Beaune, que concorre à reeleição em uma batalha acirrada em Paris, pareceu se distanciar de Macron. “Para as pessoas trans, para as pessoas LGBT, para todos… devemos rejeitar toda estigmatização no discurso político e promover seus direitos”, disse ele na rede X.

Embora tenha atacado os “extremos” de ambos os lados do espectro político, o chefe de Estado deu a impressão de visar com mais entusiasmo a coalizão que se estende da esquerda radical do partido França Insubmissa (LFI) ao Partido Socialista (PS) – coalizão de esquerda que até conseguiu atrair seu ex-ministro, Aurélien Rousseau.

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Mesmo se o presidente francês critica o programa do partido de extrema direita Reunião Nacional (RN), que ele considera “irracional financeiramente e em sua relação com a política”, Macron não se furtou a redobrar seus ataques ao programa da União da Esquerda.

Contradições da metralhadora giratória

“Esse não é um programa social-democrata”, ele “custa centenas de bilhões de euros”, disse Emmanuel Macron a alguns jornalistas na terça-feira, antes de atacar os líderes socialistas que se jogam “no fundo do poço” [ao se aliar à esquerda radical, em sua opinião] para “salvar seus assentos” na Assembleia Nacional da França.

Palácio do Planalto
Declarações de Macron provocaram críticas da esquerda e da comunidade LGBTQIA+

No entanto, há uma semana, em uma coletiva de imprensa, Macron disse que queria se aproximar dos moderados de ambos os lados da divisão política. Ele também fez fortes apelos aos social-democratas, que agora ataca constantemente.

Até mesmo o ex-presidente francês, François Hollande, de quem ele foi primeiro assessor e depois ministro da Economia, se transformou em alvo. “É normal que ele se sinta confortável com o programa da Nova Frente Popular, já que ele foi o campeão do arrocho fiscal durante seu mandato de cinco anos”, disse uma fonte da comitiva presidencial.

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“Macron está concentrando seus ataques na esquerda porque é onde ele ainda pode ter esperança de reconquistar votos”, disse um assessor ministerial. “Ao minar a credibilidade do programa e mostrar que ele é completamente louco, ele pode tentar alcançar os órfãos de Raphaël Glucksmann”, o chefe da lista socialista, que obteve quase 14% nas eleições europeias.

Embora tenha oficialmente deixado o premiê Gabriel Attal no comando da campanha, o chefe de Estado parece determinado a continuar dando o tom, apesar da rejeição que está provocando entre muitos eleitores. Na terça-feira, ele também almoçou com jornalistas da imprensa diária regional.

Para os estrategistas do Palácio do Eliseu, havia uma necessidade urgente de retomar o controle da narrativa para a dissolução surpresa da Assembleia Nacional, anunciada na noite da derrota de seu campo para a extrema direita nas eleições europeias.

A comitiva do presidente reconheceu isso: no dia seguinte, o relato, que conta muito em eleições-relâmpago como essa, foi a amargura e a incompreensão do campo macronista, até do primeiro-ministro, que foram mantidas, sob o risco de manchar toda a campanha.

Controvérsia sobre mudança de sexo: Eliseu defende posição de Macron

O Palácio do Eliseu defendeu na quarta-feira a polêmica posição de Emmanuel Macron contra a “mudança de sexo gratuita na prefeitura”, que ele tomou como exemplo das “coisas totalmente absurdas” que ele disse estarem no programa eleitoral da Nova Frente Popular.

“O presidente tem um histórico de progresso em questões sociais como poucos de seus antecessores”, disse sua comitiva, listando a “procriação medicamente assistida para todos”, a “escolha do sobrenome na prefeitura”, os “embaixadores LGBT”, a lei sobre o fim da vida, que começou a ser examinada pelo Parlamento, e o aborto na Constituição.

No entanto, ele “considera que a mudança de sexo livre na prefeitura não é um projeto social que ele defende, tendo em vista a complexidade de todas as questões que isso levanta para as pessoas envolvidas, que precisam ser apoiadas quando decidem dar esse passo”, disse sua comitiva.

Os comentários de Macron foram imediatamente condenados pela esquerda. O fundador do partido LFI, Jean-Luc Mélenchon, criticou as declarações “ultrajantes”, dizendo que o chefe de Estado “não tinha consciência do sofrimento das pessoas envolvidas”

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