BRICS: a busca por um novo paradigma financeiro internacional
A necessidade de enfrentar a crise internacional tem que ser uma premissa de transformações estruturais e não simples mutações de curto prazo.
Mario E. Burkun
Buenos Aires - A necessidade de poder afrontar, conjuntamente, as oscilações das fugas de liquidez em dólares e em euros durante o processo de globalização que estamos vivendo obriga economistas e políticos a quererem decidir as políticas de desenvolvimento por nós.
A submissão que implica a dupla condicionalidade do FMI e do Banco Mundial para destravar endividamentos de países e de empresas com o setor bancário privado e público internacional é o primeiro problema do debate.
O segundo grande assunto é como conseguir desviar empréstimos e investimentos que não sejam de especulação puramente financeira e de curto prazo e direcioná-los ao investimento de liquidez na produção de bens duráveis e de capital.
Logo, qual papel a soberania e a governabilidade política devem exercer diante da intromissão nos Estados impostas pelos planos de ajuste e as informações assimétricas e as más práticas desses organismos e das agências que avaliam e qualificam o risco soberano?
Em definitivo, como limitar os impactos econômicos de curto prazo na crise sistêmica do capitalismo na globalização, e suas sequelas de deslegitimação política e de desmerecimento de graus de liberdade alcançadas com o papel multilateral e os graus de liberdade que as potências emergentes alcançaram com seu ímpeto de controlar o novo neocolonialismo.
A próxima reunião dos BRICS terá dois eixos econômicos transcendentes:
A) criar um banco representativo do grupo, somando os aportes de parte dos fundos de estabilização dos países-membros, aportes que somam aproximadamente 100 quatrilhões de dólares, em função do tamanho de cada país.
- O Banco será de intervenção rápida no caso de ataque especulativo contra uma moeda do grupo. Exemplo: A situação atual de fuga de divisas contra o rublo.
-Permitirá saldar desequilíbrios de balança comercial entre os países e facilitar transações com moedas próprias substituindo dólares e euros.
- Deve orientar investimentos produtivos de retorno lento. Assim como facilitar créditos ao consumo e produção a taxas de interesse de acordo com as prioridades de desenvolvimento. -Buscará impedir a "guerra" de tipos de câmbio e de fuga de capitais líquidos, colocando pautas de controle fiscal e financeiro.
O outro grande item é a criação de uma agência qualificadora e avaliadora de risco soberano e da factibilidade dos investimentos nos BRICS e em terceiros países para evitar a perversidade que as más práticas e assimetrias representam no uso das informações das três atuais qualificadoras do mundo financeiro.
Finalmente se discutirá o tema da governabilidade política e da ampliação dos participantes tratando de incorporar a Argentina, depois a Indonésia e o México.
Nosso país não participou oficialmente nas instâncias prévias, exceto com economistas individuais que aportam ideias e políticas de forma autônoma, querendo facilitar o governo a assumir seu papel internacional neste novo paradigma financeiro, tão urgente cada vez que a camisa de força da dívida provoca instabilidade financeira no curto prazo.
A necessidade de enfrentar a crise internacional tem que ser uma premissa de transformações estruturais do sistema e não simples mutações de comportamentos políticos de curto prazo.
O momento é adequado pela fortaleza política e econômica dos atuais governos tanto nos BRICS como em nosso país. Para que, na próxima cúpula, possamos ver os BRICS em ação internacional.
(*) Economista, professor da Universidade de Buenos Aires
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