Sobre a controvérsia do Capital
Esse debate é alimentado pelo êxito editorial de Piketty e pela necessidade de dar uma explicação à crescente desigualdade na acumulação do capital.
Mario Burkun
Buenos Aires - Na Carta Maior e no The Economist, está ocorrendo um debate rejuvenescedor de elementos de teoria econômica aplicada à compreensão da crise de globalização. Esse debate é alimentado pelo êxito editorial de Thomas Piketty e pela necessidade de dar uma explicação à crescente desigualdade na acumulação do capital nos últimos 10 anos.
Piketty mostra como a riqueza se concentra mais velozmente à medida que a apropriação da mesma é mais desigual. Um por centro dos proprietários tem a maior concentração de capital do planeta, superando os ativos dos organismos financeiros internacionais.
Essa assimetria na apropriação se manifesta no poder político e social, o que leva a uma interpretação sobre o futuro, pois a distribuição dos recursos fica submetida à decisão de alguns poucos.
Esse reavivamento da controvérsia de Cambridge com os neoclássicos recupera as contribuições de Joan Robinson e de Sraffa sobre o valor e a distribuição. Neles, a distribuição de Ricardo, com o valor de trabalho como base da acumulação, e a luta pela renda e pelo lucro identificam os setores de classe disputando a partilha do excedente.
Em Thomas Piketty, uma interpretação da teoria do equilíbrio geral estaria atrás das assimetrias na apropriação em função da renda financeira, em que o preço antecede a distribuição – em especial o preço do dinheiro, isto é, a taxa de juros.
Seria possível afetar a especulação usual dos banqueiros caso se seguisse o critério de regular por meio da taxa de juros de referência, o excedente na geração do lucro. Ter-se-ia um melhor reparo se o lucro especulativo pudesse ser controlado por políticas de impostos à renda financeira e, dessa forma, ajudar o equilíbrio entre o monetário e o real na equação quantitativa, evitando os conflitos da luta de classes – na interpretação marxista do capital.
A crise de globalização poderia ser encarada como um problema ético quanto à partilha e à apropriação do excedente, com impostos desiguais aos lucros do um por cento dos capitalistas. Seria uma forma de descrever a usura no funcionamento do capital financeiro tal como Lutero descreveu a renda da Terra na luta dos camponeses alemães.
Na Argentina, esse debate, como foi colocado por Pablo Tonelli, nos leva a tentar introduzir na educação de nossos empresários e economistas uma visão rejuvenescedora sobre a propriedade dos bens e a distribuição do lucro criado e daquele a se criar.
(*) Mario Burkun é doutor em Ciências Econômicas pela Universidade Pierre Mendes France, de Grenoble (França) e licenciado em Economia pela Universidade de Buenos Aires (UBA).
Tradução: Daniella Cambaúva
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