Empresariado de Ponta Grossa propõe cassar voto de cidadãos e eliminar leis trabalhistas
Por Davis Sena Filho — Blog Palavra Livre
 |
| FIOR TEM NOSTALGIA DO BRASIL COLÔNIA E QUER O FIM DE DIREITOS DE CIDADANIA. |
Ao
contrário do filme “De volta para o futuro”, sucesso do cinema na
década de 1980, os empresários ou os endinheirados da cidade de Ponta
Grossa, no Paraná, resolveram “viajar” pela máquina do tempo, e,
diferentemente da maioria das pessoas normais que tem curiosidade de
saber sobre o futuro de suas vidas, o que é uma evidência de ordem
racional, a classe dominante de Ponta Grossa resolveu voltar ao passado,
especificamente ao Brasil Colônia do século XVIII, quando apenas as
pessoas do sexo masculino, de peles brancas e proprietárias de terras e
de escravos tinham o direito de votar em seus candidatos e
representantes.
Contudo,
inacreditavelmente e de forma surreal, a diretoria da Associação
Comercial, Industrial e Empresarial de Ponta Grossa (Acipg), com a
aquiescência de seus associados diversificados em 21 setores, apresentou
documento aos candidatos a prefeito convidados para debater na entidade
empresarial, com propostas e reivindicações da importante categoria
empresarial, que ora se encontra muito preocupada com os programas de
transferência de renda do Governo Federal, em parceria com os estaduais,
e, obviamente, com a participação também das prefeituras municipais,
como é o caso de Ponta Grossa.
Dentre
as inúmeras reivindicações de homens e mulheres que atuam no segmento
empresarial pontagrossense, duas chamaram a atenção pelos seus conteúdos
perversos: 1) a redução de direitos trabalhistas; e 2) o impedimento de
cidadãos cadastrados em programas sociais, a exemplo do Bolsa Família,
de votar em eleições. Inacreditável! Além de ser inconstitucional,
apenas pessoas consideradas criminosas e condenadas em terceira
instância perdem o direito ao voto. Muita gente pensa assim. Basta
qualquer pessoa acessar a internet, ver televisão, ler jornais e
revistas e ouvir debates políticos e empresariais.
Entretanto,
não me lembro de uma entidade oficial de uma categoria, mesmo sendo
empresarial e privada, colocar essas barbaridades no papel, como o fez a
Associação Comercial, Industrial e Empresarial de Ponta Grossa. Tal
atitude de essência elitista e ordinariamente de interesse mercantil
deixou as pessoas sensatas e que tem consciência do passado de
escravidões deste País indignadas.
As
propostas da Acipg são tão descaradas e infundadas que faz muita gente
pensar como uma categoria empresarial de uma cidade paranaense
importante elege e segue uma diretoria sem qualquer consciência social,
sensibilidade política e conhecimento de história, ao ponto de
apresentar documentalmente e, portanto, oficialmente, reivindicações e
propostas que retiram direitos trabalhistas conquistados nos tempos do
estadista Getúlio Vargas, bem como, inacreditavelmente, propõe que
cidadãos brasileiros, trabalhadores e honrados, percam o direito de
votar porque estão cadastrados em um dos programas sociais do Governo
Federal, atualmente administrado por políticos trabalhistas do PT.
O
“documento” dos empresários de Ponta Grossa é tão horroroso, draconiano
e fora da realidade que atingiu em cheio o candidato a prefeito do PT,
Péricles Holleben de Mello, que sofreu uma arritmia cardíaca por ter
ficado irritado e deveras surpreso com tanta ignomínia e sordidez por
parte de indivíduos ricos, mas completamente insensatos e egoístas. O
político teve de ser hospitalizado, pois se alterou com tais pleitos
formulados por empresários. Não é para menos.
E
como não se sentir mal ao lidar com tamanha falta de sensibilidade,
senso moral e crítico, além da total ausência de solidariedade por parte
de empresários ricos? Cidadãos donos dos meios de produção e que
deveriam, no mínimo, ter noção do que é correto e incorreto, bem como do
que é justo e injusto — questões inalienáveis no que tange à condição
humana, pois inerentes à sua existência e sobrevivência.
Fatores
importantes de vida que, definitivamente, os inquilinos da Casa Grande
de Ponta Grossa e também de todo o Brasil jamais levam em conta, porque o
que lhes interessa é que o mundo seja para poucos, para que uma minoria
possa se locupletar, a viver como os “nobres” escravocratas do Brasil
Colônia, a ter acesso a tudo o que é de bom e melhor, em todos os
setores e segmentos da vida, pois talvez acreditam, por intermédio de
suas consciências vazias e corações de pedra, ser muito natural que
milhões de pessoas vivam mal e a burguesia opulenta, de caráter
patrimonialista e nepotista, viva como uma verdadeira diva sectária, a
ter mucamas a abaná-la enquanto ela se refestela em sua própria
iniqüidade.
Haja
paciência para tanta infâmia e falta de discernimento. Afinal, estamos
no terceiro milênio, em pleno século XXI e não mais nos tempos do Brasil
Colônia, apesar de saber que a nossa burguesia é colonizada e
subserviente ao estrangeiro, pois portadora de um gigantesco e
indescritível, porque inenarrável complexo de vira-lata. A Casa Grande
perversa, covarde e feroz como um leão quando se trata de oprimir e
prejudicar os mais pobres. Por seu turno, subalterna, pusilânime e
entreguista quando se depara com os mais fortes, a exemplo dos governos e
das classes ricas dos países desenvolvidos. Êita burguesia chinfrim!
A
verdade é que a cartilha da Acipg apresentada aos candidatos
criminaliza a pobreza, pois, irremediavelmente, preconceituosa. Por sua
vez, o direito ao voto é universal, conforme reza a Constituição de
1988. O presidente da associação de empresários, Nilton Fior, deveria
ter mais consciência, e, se não a tem, poderia consultar pessoas que
pudessem lhe aconselhar a não apresentar uma cartilha tão sectária e
elitista para os candidatos, mesmo os de direita. Fior deveria respeitar
os direitos civis da sociedade, que, em maioria, não deve concordar em
perder direitos que levaram séculos para se transformarem em conquistas
sociais e cívicas.
Cassar
votos de cidadãos com plenos direitos civis é repetir o passado
ditatorial do Brasil, País que foi vítima de um golpe civil-militar em
1964. Entidades empresariais maiores e mais poderosas que a Acipg
conspiraram e financiaram os militares e os órgãos de repressão da
ditadura. Passados 30 anos da redemocratização do Brasil, a cúpula
empresarial de Ponta Grossa apresenta oficialmente uma cartilha
(documento) que cassa o direito ao voto de cidadãos brasileiros, além de
reivindicar a retirada de direitos trabalhistas. É o fim da picada.
Realmente, tem setores da sociedade brasileira que são assustadores,
pois ainda vivem em mundo paralelo, sem o brilho da luz. Ponta Grossa e
seu povo não merecem essa gente. É isso aí.
|
Nenhum comentário:
Postar um comentário