quarta-feira, 17 de setembro de 2014

POLÍTICA - Será?


Será?

Mesmo em dificuldades, Aécio é tido como nome do PSDB para o futuro


Caciques tucanos já especulam em investir no senador para garantir atuação nos arranjos estratégicos da legenda de 2015 em diante, mas falta de determinação e vontades de Alckmin interferem no caminho

por Hylda Cavalcanti, da RBA
 


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Vitorioso ou derrotado e com inconsistências na biografia, Aécio ainda será um dos poucos caminhos do PSDB
Brasília – Tancredo Neves costumava dizer que chegar à presidência da República é coisa de “destino”. E parecia, com a frase, adivinhar que o próprio destino seria jamais tomar posse como presidente, mesmo escolhido para isso por um colégio eleitoral. O neto dele, o senador Aécio Neves, mencionou várias vezes, em entrevistas e durante conversas com assessores, que, mesmo quando tudo caminha para um lado, "existe na vida o imponderável".
A declaração também tem razão de ser: foi o imponderável que levou à morte o candidato do PSB à presidência Eduardo Campos, colocou na disputa a ex-senadora Marina Silva e o levou – justo ele, Aécio, tido como o nome que poderia chegar ao segundo turno com a presidenta Dilma Rousseff nestas eleições – a um minguado terceiro lugar nas pesquisas, em alguns estados abaixo da casa de dois dígitos.
Contudo, as mudanças de rumo em torno do candidato do PSDB, que ocorreram com mais velocidade de agosto para cá, são observadas há dois anos, uma vez que Aécio, entre os dirigentes da legenda, deixava dúvidas sobre se seria ou não candidato à presidência. Confirmada a candidatura, as dúvidas entre os tucanos eram se ele teria mesmo disposição para enfrentar a campanha, já que havia declarado que não sabia se queria ser, de fato, presidente e que poderia "deixar para depois", a exemplo do que ocorreu em 2010, quando foi preterido em benefício da candidatura do paulista José Serra.
As dúvidas pairavam, inclusive, pela vida boêmia, o apego aos fins de semana, quando muitas vezes “desligava” dos contatos políticos ao lado de amigos e namoradas e não era encontrado pelos colegas de partido e correligionários, segundo contam parlamentares, e por frases que entoava quase como um mantra – como a célebre "Não pretendo acabar a vida como político".
Tudo ficou diferente, no entanto, de 2013 para cá. Aécio Neves se preparou para a campanha com empenho, casou, teve um casal de gêmeos, ficou mais caseiro e participativo nas questões do partido e, segundo altos dirigentes do PSDB, mais centrado do que nunca, mantendo contatos Brasil afora para as articulações e arranjos eleitorais.
“Ele não é de se apegar a cargos, não é do tipo que diz ‘vou ser de todo jeito’, mas, quando decide, se empenha. E agora está maduro para ser candidato e exercer a presidência”, chegou a dizer o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, um dos grandes aliados e torcedores da candidatura de Aécio, durante jantar em São Paulo, para um grupo de pessoas que participaram do governo FHC.

Futuro certo?

Agora, com as dificuldades de Aécio nas pesquisas, o PSDB não comenta em público, mas os principais caciques correm para fazer com que, se não chegar ao segundo turno, o partido ao menos consiga uma posição razoável no quadro de votações. Por trás das divisões existentes entre os tucanos nos mais diversos estados, no entanto, a grande preocupação é sobre como deverá ser conduzido o futuro do atual candidato, tido como um dos principais nomes da legenda para disputar os próximos pleitos.
“O único que pode ser mencionado hoje, como candidato forte a presidente em 2018, além do Lula, é o Aécio. Ele é muito novo e, se não for desta vez, tem preparo para encarar a disputa daqui a quatro anos. Outro não há, nem mesmo a Marina, que tem tudo para ganhar esta. Se não ganhar, seu discurso tende a ser desconstruído com o passar do tempo”, avaliou um ex-parlamentar, hoje envolvido na campanha do senador no Distrito Federal.
Ele e os demais entrevistados pediram para não serem mencionados na reportagem. Argumentaram que ainda trabalham para que o PSDB consiga ir para o segundo turno. E falar no futuro do senador abertamente, neste momento, poderia causar o mesmo desgaste observado semanas atrás, quando o também senador Agripino Maia (DEM-RN), coordenador da campanha de Aécio, declarou que os tucanos apoiariam Marina Silva após o primeiro turno.
De acordo com políticos e assessores do PSDB ouvidos pela RBA, existe atualmente um entendimento forte de que é preciso ajudar a construir a plataforma de Aécio para os próximos pleitos, pelo fato de ser um dos nomes possíveis para reconstruir a imagem do partido, que tende a sair desgastado das urnas. A possibilidade é vista com cuidado, inclusive, por um grupo favorável ao senador que prevê, em 2018, mais uma divisão, dessa vez entre o grupo ligado a Geraldo Alckmin, em razão do governador de São Paulo, líder das pesquisas para a reeleição, vir a ter, até lá, todo o cacife para ser candidato do PSDB à presidência, repetindo a dose de 2006, quando saiu derrotado por Luiz Inácio Lula da Silva.
“É uma prerrogativa do Alckmin, caso demonstre esse interesse, respaldada por dois governos à frente do maior eleitorado do país, mas isso não é suficiente para se ganhar eleição à presidência, afinal Aécio também foi governador duas vezes de Minas Gerais. Alckmin tem ajudado a manter a hegemonia do PSDB em São Paulo, mas não possui, nem de longe, o carisma do Aécio para alavancar a legenda”, analisou um senador e ex-ministro do governo FHC.

Ética e gestão administrativa

Nos comitês de campanha do PSDB, atualmente a intenção é transformar em chance de crescimento nas pesquisas para Aécio Neves o tratamento a ser dado por ele em relação às denúncias que envolvem suposto pagamento de propina a políticos, feitas pelo ex-diretor da Petrobras, Paulo Roberto Costa. Não pelas denúncias sobre a empresa em si ou pelo estrago que tais acusações possam causar à candidatura de Dilma Rousseff, mas, sim, porque a questão coloca em jogo dois pontos tidos pelos tucanos como referência positiva na vida pública do senador: a questão da ética e da boa gestão, bandeiras usadas por ele ao longo da trajetória como parlamentar e governador.
A estratégia é arriscada, reconhecem tucanos e integrantes do DEM que apoiam a candidatura de Aécio, uma vez que o próprio PSDB tem uma roupa suja a lavar neste sentido, com o caso do desvio de recursos para financiar a candidatura do ex-deputado Eduardo Azeredo ao governo de Minas Gerais anos atrás (mais conhecido como “mensalão mineiro”, que tramita na Justiça daquele estado).

Possibilidades para 2015

De uma forma ou de outra, são discutidas entre aliados do senador três possibilidades para ele e, em conjunto, para o PSDB, visando a 2015. Uma delas é Aécio tentar disputar a presidência do Senado. Se conseguir assumir, poderia ter melhor atuação legislativa e poderia ficar mais conhecido nacionalmente (seu mandato como senador só acaba em 2018). O problema, nesta seara, é que o partido dificilmente terá um tamanho de bancada que o gabarite a almejar o comando da Casa.
Outra seria percorrer o país como presidente nacional do partido, cargo que ocupa desde o ano passado. Desse modo, poderia ajudar na reconstrução de arranjos estaduais e, ao mesmo tempo, trabalhar num momento difícil para a legenda, que muito provavelmente sofrerá com a debandada de políticos para outras siglas.
A terceira possibilidade para Aécio seria voltar-se para Minas Gerais, a terra natal, e fortalecer a base eleitoral por lá, já que o candidato que apoia ao governo, Pimenta da Veiga, está nas pesquisas abaixo do candidato do PT, Fernando Pimentel.
Para um ex-secretário do governo mineiro, qualquer das possibilidades tem como pano de fundo conseguir unir as várias frentes existentes dentro do partido, o mais importante para o PSDB após as eleições deste ano. Exemplo disso foi a colocação do ex-governador paulista e ex-ministro Alberto Goldman como coordenador da campanha de Aécio em São Paulo. Goldman é tido como político ligado a José Serra e a posição na campanha foi estrategicamente pensada como forma de unir os tucanos no estado. Mesmo assim, muita gente considera que o movimento não deu certo.
E citam como exemplo o fato de ser forte, em São Paulo, a chapa intitulada “Geraldina”, formada por eleitores que votarão em Geraldo Alckmin e em Marina Silva, em vez de Aécio, para a presidência. Sabe-se que este tipo de arranjo é observado em diversas candidaturas em todo o país, mas muita gente atribui, no caso paulista, às divisões existentes até hoje dentro da legenda.
Também é apontada, nesse cenário, uma dúvida sobre a escolha do nome do senador Aloysio Nunes Ferreira para vice na chapa tucana, que tem atuado de forma intensa na campanha e oposição ferrenha ao governo de Dilma Rousseff. Porém, por ter divergências com o grupo de Alckmin, pode ter contribuído para acentuar ainda mais o clima de racha entre integrantes da sigla, como destacou o mesmo ex-secretário.

Trajetória pública

Os caminhos a serem percorridos parecem não ser novidade na história de vida de Aécio Neves, nascido numa família que, desde sempre, manteve políticos de vários partidos e correntes. Ele entrou na política chamado pelo avô Tancredo Neves, que lhe perguntou, quando tinha 22 anos, se já não estava na hora de deixar o surf que praticava nas praias cariocas e voltar ao estado natal para trabalhar ao seu lado, na candidatura a governador.
Foi por esse empurrão que entrou na eleição do avô e tomou gosto pela coisa. Sempre admitiu que nunca foi um dos melhores alunos e não se formou entre os primeiros no curso de Economia, realizado em duas universidades diferentes: primeiro no Rio de Janeiro, depois em Minas Gerais (para onde teve de se transferir e ter aulas em paralelo ao trabalho de assessor do então governador Tancredo).
O lado boa praça, informal e sorridente vem desde sempre, mas o que tem lhe chamado a atenção durante a vida pública é a capacidade de reunir boas equipes. Até hoje orgulha-se por haver devolvido, como presidente da Câmara dos Deputados, R$ 100 milhões do Orçamento da União destinados à Casa em razão de economias feitas com o corte de gastos.
Também foi o responsável pela determinação de que os projetos de lei deveriam ser colocados à disposição no site da Câmara na internet, para acesso livre ao público, o que hoje ocorre em praticamente todos os legislativos. E foi na gestão dele que se criou o Conselho de Ética e a Ouvidoria da Câmara dos Deputados.
Como governador de Minas Gerais, prometeu fazer o que chamou de “choque de gestão” para reorganizar o estado e as contas públicas e, assim, investir mais na ampliação dos serviços públicos. Entre algumas das medidas alardeadas por sua equipe, reduziu seu salário de governador pela metade e extinguiu cerca de 3 mil cargos públicos.
O ex-governador, porém, também tem pontos que pesam negativamente, tidos como de significativa consistência. A construção, no período em que exerceu o cargo, de um aeroporto no município de Cláudio, onde passou a infância e onde familiares têm fazenda, é um deles. O episódio, cercado de mistérios e ilegalidades, como o fato de até bem pouco tempo não ter autorização para pouso de aeronaves pela Anac e funcionar normalmente, lembra uma prática associada a coronéis, de usar o poder para se locupletar e equipar as próprias terras, do que a de um administrador moderno preocupado com bons serviços.
Também pesam contra ele denúncias de irregularidades nas contas da saúde no estado na mesma época, bem como acusações de controle e cerceamento da mídia mineira por meio de forte esquema de publicidade administrado pela irmã, Andrea Neves.

Muitas ausências

Outro quesito que os adversários adoram lembrar tem sido a performance de Aécio como senador e o número de ausências no Legislativo nestes quatro anos. Levantamento do site Congresso em Foco revelou que, durante os anos de 2011, 2012 e 2013, faltou às sessões e reuniões das comissões técnicas 61 dias. Dentre os projetos apresentados pelo senador, dois tiveram peso: o primeiro, já aprovado na Comissão de Assuntos Sociais (CAS), cria a dedução no imposto de renda da empresa ou empregador que investir na educação de funcionários.
O segundo, aprovado na CAS, mas que precisa tramitar por várias comissões, altera o Bolsa Família para permitir ao beneficiário que tiver a renda familiar elevada e perder a elegibilidade ao programa de transferência de renda, garantia ao pagamento da bolsa por, no mínimo, seis meses.
O texto foi duramente criticado pela base aliada do governo e, segundo o Executivo, se vier a ser transformado em lei, desvirtuará totalmente o objetivo do programa e impactará nas contas públicas e nas metas de redução das desigualdades no país. Contudo foi aprovado, na primeira comissão pela qual passou, por dez votos a favor e nove contrários. Um resultado que mostra que, dependendo do desenrolar dos próximos meses, Aécio Neves tem condições de ser um personagem capaz de fazer bastante barulho depois das eleições e de 2015 em diante. Resta, apenas, saber se ele vai querer.
“As pessoas que me criticam e veem minha forma de viver como ponto negativo são as que se sentem incomodadas. Sou feliz e isso incomoda”, disse ele, em entrevista, no início do ano, ao jornal O Estado de S. Paulo. “Represento a mudança com segurança”, completa agora, sempre que aparece no horário eleitoral.
Para o futuro, o que melhor define a situação de Aécio é a posição de um político que, vitorioso ou derrotado em outubro e com inconsistências na biografia, continua a ser um dos poucos caminhos do PSDB após estas eleições.

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