sábado, 25 de fevereiro de 2017

POLÍTICA - Moro vai ter que se explicar.

Além de Padilha e Temer, denúncia de Yunes compromete Moro


Jeferson Miola


O depoimento que José Yunes prestou ao MP assumindo-se como simples “mula” para transportar os R$ 4 milhões da propina da Odebrecht destinada a Eliseu Padilha é demolidor para o governo golpista.
A denúncia do amigo de mais de meio século do Michel Temer põe luz sobre acontecimentos relevantes da história do golpe, e pode indicar que os componentes do plano golpista foram estruturados em pleno curso da eleição presidencial de 2014:
1. a Odebrecht atendeu o pedido do Temer, dos R$ 10 milhões [os R$ 4 milhões ao Padilha são parte deste montante] operados através de Lucio Funaro, ainda durante o período eleitoral de 2014;
2. mesmo sendo o candidato a vice-presidente da Dilma, na campanha Temer trabalhava pelo esquema do Eduardo Cunha [que na eleição apoiou Aécio Neves, e não a chapa do seu partido, o PMDB], que tinha como meta eleger uma grande bancada de deputados oposicionistas ao governo Dilma;
2. a organização criminosa financiou com o esquema de corrupção a campanha de 140 deputados para garantir a eleição de Eduardo Cunha à Presidência da Câmara;
3. Lúcio Funaro, tido até então exclusivamente como o “operador do Eduardo Cunha”, na realidade também atuava a mando de Eliseu Padilha e, tudo indica, de Michel Temer. José Yunes diz que Temer sabia tudo sobre o serviço de “mula” que Padilha lhe encomendara;
4. em janeiro/fevereiro de 2015, na disputa para a presidência da Câmara, embora em público Temer dissimulasse uma posição de “neutralidade”, nos subterrâneos trabalhou pela eleição do Cunha;
5. mesmo sendo vice-presidente da Presidente Dilma, o conspirador conhecia o plano golpista desde sempre, e participou desde o início da conspiração para derrubá-la.
O primeiro passo, como se comprovou, seria dado com a vitória do Eduardo Cunha à presidência da Câmara para desestabilizar o ambiente político, implodir os projetos de interesse do governo no Congresso e incendiar o país.
A denúncia de Yunes reabre o questionamento sobre a decisão no mínimo estranha, para não dizer obscura e suspeita, do juiz Sergio Moro.
Em despacho de 28/11/2016, Moro anulou por considerar “impertinentes” as perguntas sobre José Yunes que o presidiário Cunha endereçou a Temer, arrolado como sua testemunha de defesa.
Moro tem agora a obrigação de prestar esclarecimentos mais convincentes e objetivos que o argumento subjetivo de “impertinência”, alegado no despacho.
Caso contrário, ficará a suspeita de ter prevaricado para proteger Temer e encobrir o esquema criminoso que derrubaria o governo golpista.
Afinal, sabendo do envolvimento direto de Michel Temer no esquema criminoso, Moro teria agido para ocultar o fato?
A cada dia fica mais claro que o Brasil está dominado pela cleptocracia que assaltou o poder de Estado com o golpe.

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