sexta-feira, 17 de março de 2017

POLÍTICA - Cariri, São Borja.


Cariri, São Borja: o “volta, Lula” será o Getúlio do sertão? Por Luís Costa Pinto



saofra
Quando a análise política se reduz ao que dizem os gravatinhas nas conversas de iluminados, perde-se a perspectiva do povo e fica-se, apenas, com a da “opinião pública” que, como disse o Barão de Itararé, se confunde com a opinião que se publica. Reproduzo, abaixo, o trecho de um dos que não a perdeu,  Luís Costa Pinto, colunista do igualmente ótimo Poder360. Com todas as ressalvas de que não somos adivinhos, os 30 anos de janela de Costa Pinto o deixam antever o que para muitos é o “inviável”, porque nutrem o traiçoeiro pensar de que a mídia pode tudo e o povo não tem a memória como defesa.
Sem o arbítrio do meu “enxugamento”, que lhe tira parte do sabor do texto (aqui, inteiro), o que diz Luiz Costa Pinto. No título, à guisa de perdão, a metáfora que podei, a do “Bota o retrato do velho outra vez“, a mostrar que aquela memória é, como dizia o velho Brizola, algo que vem de longe…

Monteiro (PB) será uma São Borja rediviva?

Luís Costa Pinto, no Poder360 (trecho)
Se tudo certo, o domingo de Lula no Cariri será a coroação de uma semana perfeita para quem cruza tempestades e tornados de peito aberto, envergando uma prosaica sunga e segurando um garfo à mão, na falta de para-raios.
O depoimento dado ao juiz da 10ª Vara Federal do Distrito Federal, na terça-feira 16, rapidamente virou munição a favor do ex-presidente. Dono de uma capacidade singular de dominar a cena, respondeu por 48 minutos a perguntas frágeis da acusação e saiu gigante da sala de audiências. No dia seguinte, o ex-presidente discursou numa manifestação gigantesca na Avenida Paulista e começou a fazer convergir a seu favor a agenda da antirreforma da Previdência Social. Essa reforma, proposta pelo governo, assusta a todos de forma planificada.
Por fim, a autoanistia que parlamentares de todos os matizes ideológicos negociam (exceto, é verdade, PSol e Rede) terminará por conferir a Lula as credenciais necessárias para uma nova candidatura à presidência. Estará apto a fazer constar seu nome nas urnas de 2018, como todos os demais políticos querem se ver aptos a tal. Esse é o risco que correm os adversários do petista, cujas planilhas de cálculos políticos já foram acionadas: se tudo o que foi feito em 2016, passando a patrol na Constituição, justificou-se perante o status quo a fim de banir o PT e seu líder maior das urnas, aniquilando as chances que teria de voltar ao poder, valeria a pena seguir com a autoanistia destinada a manter as cabeças do establishment parlamentar sobre os pescoços mesmo sabendo que Lula e o lulismo ressurgirão no horizonte na forma de uma revoada de fênix?
Michel Temer foi a Monteiro e inaugurou formalmente o mais simbólico eixo da transposição do São Francisco. Em mais um de tantos gestos equivocados de comunicação a assessoria presidencial fotografou o presidente isolado, solitário, passeando pelas margens do canal leste da obra. As imagens que veremos do domingo trarão, seguramente, um Lula carregado nos ombros do povo sofrido e agradecido do Cariri. Um Lula exibido como troféu de anos de luta.
A simbologia do troféu humano será, sempre, a do pernambucano emigrado para São Paulo, vencedor antes as vicissitudes da vida; vitorioso e perseguido. Uma síntese de como se sente a maioria dos brasileiros: vivo ante as perseguições e injustiças que inegavelmente sofre. A imagem de um Lula de pé junto ao povo, mesmo depois de ver tombar a companheira de quase toda a vida, Dona Marisa, e forte e resiliente mesmo tendo lutado contra o câncer que quase o tirou a voz e, pior, quase o matou, será icônica em tempos estranhos de listas, para-listas e contra-listas de corruptos e de corruptores nos quais quase todos envergam o lombo ou submergem qual jacaré no Pantanal. Quem não o faz, desfila majestoso e altaneiro como um macho alfa na savana.
De Monteiro (PB), abençoado pelas águas transpostas do Rio São Francisco desde os lagos de Sertânia (PE), Lula autorizará que se faça ecoar pelo país seu “Eu Voltarei” contemporâneo. Em 1949 os postes do Rio de Janeiro, de São Paulo, de Belo Horizonte, de Porto Alegre e do Recife amanheceram, certo dia, coalhados de cartazes com a frase e reproduções da entrevista. Na segunda-feira o Brasil despertará com uma flash mob instantânea em que o protagonista terá voz rascante, sorriso de tio bonachão, sangue nos olhos e faca nos dentes.

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