quinta-feira, 9 de junho de 2022

Brasil de Fato

 

 
Brasil de Fato
 
“Pode guardar as panelas que hoje o dinheiro não deu”
 
Quarta-feira, 8 de junho de 2022
 
 
O samba de Paulinho da Viola é de 1979, mas está mais atual que nunca. Quem já tem pelo menos umas três décadas de vida há de lembrar que ligar a TV até os anos 1990 significava se deparar com a fome diariamente. Isso quem não conviveu com ela dentro de casa.
Foi a esse patamar que o Brasil regrediu, equivalente ao da década de 1990, de acordo com a Rede Brasileira de Pesquisa em Soberania e Segurança Alimentar. A fome tem se alastrado no Brasil como há tempos não se via, a ponto de seis em cada 10 famílias não terem acesso pleno a alimentos.
Em apenas um ano, o número de pessoas passando fome saltou de 19 milhões para 33,1 milhões.
E a fome no Brasil tem cor, gênero, idade, geografia e classe.
Nos lares em que a pessoa responsável se autodeclara preta ou parda, ela aumentou de 10,4% para 18,1%. Ela subiu de 7% para quase 12% das casas em que mulheres são as responsáveis entre 2020 e 2022. E dobrou em famílias com crianças: foi de 9,4% para 18,1%.
Nas áreas rurais do Brasil, a insegurança alimentar é vivida em 60% das casas.
São muitos números, que podem parecer abstratos, mas retratam a muito concreta realidade de um número cada vez mais alto de famílias que simplesmente não têm o básico para sobreviver com dignidade. É grave e revelador de um Brasil que voltou a ser para poucos. Clique aqui para ter acesso a mais dados sobre a volta da fome no Brasil.
Solução improvisada
Enquanto a inflação e o desemprego tiram a comida dos pratos dos brasileiros, a solução de Bolsonaro para resolver a alta dos combustíveis é vender o almoço para comprar a janta. Ou, no caso, torrar a Eletrobras para não mexer na política de combustíveis a preços internacionais.
A isenção de ICMS proposta pelo presidente como forma de baixar os preços de gasolina e diesel ao longo de 2022 tem um custo estimado de até R$ 50 bilhões, que devem ser repassados aos estados como forma de compensar a perda de receita.
Mas de onde vai vir esse dinheiro? Paulo Guedes aponta “recursos extraordinários”. A venda da Eletrobras, por exemplo, renderia aos cofres da União cerca de R$ 35 bilhões. Além desse valor estar abaixo do que a estatal realmente vale, os recursos arrecadados podem acabar esgotados em uma medida de curto prazo que não vai resolver o problema do valor dos combustíveis – apenas jogar a solução para o ano que vem. Entenda aqui o problema e por que a venda da Eletrobras não é uma solução.
O que não falta é violência e omissão
Em um país onde cada vez mais falta tudo, ver a violência aumentar não parece ser uma preocupação do presidente. Já entram no terceiro dia as buscas pelo indigenista Bruno Pereira e pelo jornalista britânico Dom Philips, que sumiram na Terra Indígena Vale do Javari, no Amazonas.
Brasil de Fato ouviu três lideranças indígenas da região que, sob anonimato, apontam omissão na atuação dos órgãos federais. Segundo eles, a vastidão da TI, a segunda maior do Brasil, torna imprescindível o sobrevoo da área. Sem isso, as chances de sucesso na localização diminuem a cada dia.
À reportagem, um habitante da Terra Indígena disse que o Vale do Javari está entregue aos crimes ambientais. Por isso, os indígenas montaram estruturas próprias de fiscalização. “É uma área muito grande e eles nunca conseguiram realmente pegar os infratores que invadem as terras indígenas. É só quando tem um desaparecimento como esse, que a força policial sai para fazer busca”, descreveu. Leia aqui.
 
 
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A doação se soma à campanha de solidariedade permanente organizada pelo movimento, que já doou centenas de toneladas de alimentos para pessoas em situação de vulnerabilidade social em todo o país.

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