O samba de Paulinho da Viola é de 1979, mas está mais atual que nunca. Quem já tem pelo menos umas três décadas de vida há de lembrar que ligar a TV até os anos 1990 significava se deparar com a fome diariamente. Isso quem não conviveu com ela dentro de casa.
Foi a esse patamar que o Brasil regrediu, equivalente ao da década de 1990, de acordo com a Rede Brasileira de Pesquisa em Soberania e Segurança Alimentar. A fome tem se alastrado no Brasil como há tempos não se via, a ponto de seis em cada 10 famílias não terem acesso pleno a alimentos.
Em apenas um ano, o número de pessoas passando fome saltou de 19 milhões para 33,1 milhões.
E a fome no Brasil tem cor, gênero, idade, geografia e classe.
Nos lares em que a pessoa responsável se autodeclara preta ou parda, ela aumentou de 10,4% para 18,1%. Ela subiu de 7% para quase 12% das casas em que mulheres são as responsáveis entre 2020 e 2022. E dobrou em famílias com crianças: foi de 9,4% para 18,1%.
Nas áreas rurais do Brasil, a insegurança alimentar é vivida em 60% das casas.
São muitos números, que podem parecer abstratos, mas retratam a muito concreta realidade de um número cada vez mais alto de famílias que simplesmente não têm o básico para sobreviver com dignidade. É grave e revelador de um Brasil que voltou a ser para poucos. Clique aqui para ter acesso a mais dados sobre a volta da fome no Brasil.
Solução improvisada
Enquanto a inflação e o desemprego tiram a comida dos pratos dos brasileiros, a solução de Bolsonaro para resolver a alta dos combustíveis é vender o almoço para comprar a janta. Ou, no caso, torrar a Eletrobras para não mexer na política de combustíveis a preços internacionais.
A isenção de ICMS proposta pelo presidente como forma de baixar os preços de gasolina e diesel ao longo de 2022 tem um custo estimado de até R$ 50 bilhões, que devem ser repassados aos estados como forma de compensar a perda de receita.
Mas de onde vai vir esse dinheiro? Paulo Guedes aponta “recursos extraordinários”. A venda da Eletrobras, por exemplo, renderia aos cofres da União cerca de R$ 35 bilhões. Além desse valor estar abaixo do que a estatal realmente vale, os recursos arrecadados podem acabar esgotados em uma medida de curto prazo que não vai resolver o problema do valor dos combustíveis – apenas jogar a solução para o ano que vem. Entenda aqui o problema e por que a venda da Eletrobras não é uma solução.
O que não falta é violência e omissão
Em um país onde cada vez mais falta tudo, ver a violência aumentar não parece ser uma preocupação do presidente. Já entram no terceiro dia as buscas pelo indigenista Bruno Pereira e pelo jornalista britânico Dom Philips, que sumiram na Terra Indígena Vale do Javari, no Amazonas.
O Brasil de Fato ouviu três lideranças indígenas da região que, sob anonimato, apontam omissão na atuação dos órgãos federais. Segundo eles, a vastidão da TI, a segunda maior do Brasil, torna imprescindível o sobrevoo da área. Sem isso, as chances de sucesso na localização diminuem a cada dia.
À reportagem, um habitante da Terra Indígena disse que o Vale do Javari está entregue aos crimes ambientais. Por isso, os indígenas montaram estruturas próprias de fiscalização. “É uma área muito grande e eles nunca conseguiram realmente pegar os infratores que invadem as terras indígenas. É só quando tem um desaparecimento como esse, que a força policial sai para fazer busca”, descreveu. Leia aqui.
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