A humanidade parece cada vez menos capaz de distinguir verdade e mentira. As máquinas, porém, têm se tornado cada vez mais capazes de borrar essas fronteiras. Após décadas de pesquisas (e tentativas frustradas), a inteligência artificial está finalmente dominando a mais sublime das expressões humanas: a linguagem. A novidade da vez envolve um supercomputador sediado em Iowa, nos Estados Unidos, e mantido pela OpenAI, uma associação financiada por luminares do Vale do Silício. Recentemente, a OpenAI deu acesso público a um novo e impressionante programa chamado Generative Pre-Trained Transformer 3, ou GPT-3, atraindo enorme atenção da mídia e gerando uma avalanche de memes nas redes sociais Em segundos, o robô é capaz de oferecer respostas elaboradas, coerentes – e até espirituosas – sobre os mais diversos temas. Além disso, pode escrever ensaios, e-mails, poemas e até mesmo código de computador. O GPT-3 parodia com maestria os caminhos semânticos do pensamento humano, mas não toma decisões e nem faz abstrações sozinho. Tudo se dá por bilhões de cálculos simultâneos de tentativa e erro. Um jogo que o jornalista Steven Johnson chamou no New York Times de 'adivinhe qual é a próxima palavra'. É inteligência sem pensamento, sem reflexão – ao menos ainda. Sem nenhuma capacidade de se corrigir ou identificar ideias genuinamente novas ou interessantes. Por um lado, isso pode tornar o trabalho intelectual humano mais valioso e produtivo. De outro, há um enorme risco de que a IA contribua ainda mais para a radicalização e o emburrecimento coletivo. Tudo porque, além da incapacidade de ter ideias originais e corrigir a si mesmos, esses sistemas se alimentam de informações que circulam nos cantos mais obscuros da internet – e, portanto, refletem o pior do imaginário coletivo. Além de mais conteúdo raso e formulaico, então, há o risco da profusão de (ainda) mais racismo, machismo, desinformação e outros preconceitos. Vivemos o período medieval da Era da Informação. Em menos de uma década, governos em todo o mundo foram erguidos e derrubados em processos abastecidos por um turbilhão de fake news e teorias conspiratórias. Vidas foram perdidas e os mais básicos consensos se tornaram motivo de discórdia. Nos próximos anos, a IA vai revolucionar o trabalho e as relações humanas. Estamos diante do ato final da escravidão tecnológica ou no caminho para um novo Iluminismo? Uma coisa é certa, a segunda alternativa só será realidade com a plena vigilância da sociedade civil e das instituições. Incluindo, aí o jornalismo. Ao longo desses quase 30 anos, CartaCapital sempre esteve à serviço de um Brasil mais justo, plural e democrático. Sempre estimulou o pensamento crítico e combateu a ditadura do pensamento único na imprensa brasileira. |
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