terça-feira, 7 de fevereiro de 2017

POLÍTICA - Moro em Nova Iorque.


Heloisa Villela, de Nova York: Juiz Moro, quem não dialoga, ouve gritos de protesto

07 de fevereiro de 2017 às 16h28

Moro na Columbia 4
 por Heloisa Villela, de Nova York
Nessa segunda-feira (06/02), o juiz Sérgio Moro entrou e saiu de Nova York sem ser notado pela imprensa americana.
Ontem, ele subiu ao palco montado na biblioteca da Universidade de Columbia para começar a palestra sobre a Operação Lava Jato, o combate à corrupção e a política brasileira.
Ao se aproximar do microfone, foi imediatamente interrompido por uma mulher que estava na plateia.
Ela não estava sozinha na audiência ou nas convicções. Bastou ser retirada do recinto para que outra retomasse o protesto.
E a cena se repetiu. Cinco manifestantes foram afastados, um a um.
Todos inconformados com a parcialidade das investigações da Lava Jato, os vazamentos seletivos das denúncias e o processo de impeachment contra a presidenta eleita Dilma Rousseff.
Aos manifestantes, quase todos da organização Defende Democracy in Brazil, se juntaram alunos da New School, co-patrocinadora do evento, que propuseram incluir, pelo menos, uma voz discordante na mesa redonda, para que o debate fosse mais equilibrado.
Luiza Nassif, integrante do grupo da New School, disse que os estudantes conseguiram verba da faculdade para pagar passagem e estadia de um jurista para fazer o contraponto a Moro no debate.
A organização do evento, porém, não abriu a possibilidade de incluir mais uma pessoa no painel.
Gustavo Azenha, um dos quatro brasileiros responsáveis pela organização do seminário, disse que foi procurado pelos alunos da New School na última hora, quando o programa já estava pronto e fechado. “Até acrescentar uma cadeira aqui nesse palco seria difícil”, alegou.
Questionei-o:
— Mas se está claro que existem opiniões diferentes, que se manifestaram aqui dentro, não seria mais democrático incluir alguma voz distinta?
Ele retrucou:
— Nem todos os que estão na mesa pensam da mesma maneira.
Insisti:
— E qual deles tem críticas à operação?
Gustavo Azenha não respondeu, emudeceu.
Os alunos da New School redigiram uma carta aberta às duas instituições expressando “profunda preocupação e decepção”.
“Quando suas instituições dão voz ao Juiz Sérgio Moro, vocês dão legitimidade a um homem cujas ações e agenda pessoal violaram princípios básicos da Justiça internacional e jogaram o Brasil em um abismo político-econômico”.
Na palestra, Sérgio Moro admitiu que a Lava Jato criou instabilidade política no Brasil, mas disse acreditar que, no longo prazo, a operação tornará o País mais competitivo no mercado internacional, possibilitando maior atração de investimentos estrangeiros.
O seminário em Nova York contou com o apoio de vários centros da Columbia e da New School, além da Organização UMBRASIL.
Depois da palestra, Sergio Moro respondeu nove perguntas da plateia.
Sobre as acusações de parcialidade das investigações, disse que o apoio popular à Lava Jato mostra que o trabalho está no caminho certo.
Negou que o pai, já falecido, tivesse ligações com o PSDB.
E quando uma pessoa da plateia perguntou por que ainda não indiciou os senadores Aécio Neves e José Serra (PSDB), citados várias vezes em denúncias de corrupção, Moro respondeu: “não é da minha jurisdição”.
Quando um dos presentes fez referência à foto de Moro e Aécio sorrindo lado a lado, a plateia vaiou. E, no final do debate, aplaudiu Sergio Moro de pé.
Do lado de fora, nas escadarias de Columbia, a feminista, professora e doutora de Ciências Políticas e Sociais da New School, Nancy Fraser, se juntou aos protestos dos estudantes.
Disse que esperava ver outras vozes incluídas no debate, já que o encontro contou com o apoio financeiro da universidade na qual ela trabalha.
Fica a lição para os organizadores e o próprio juiz Sérgio Moro: quem não dialoga, ouve gritos.

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