terça-feira, 7 de fevereiro de 2017

POLÍTICA - Porque o PT deve pedir desculpas ao Brasil.

Porque o PT deve pedir desculpas ao Brasil (mas não pelas razões que os coxinhas apontam)

Escrito por ,
(Foto: ainda não encontrei o crédito, mas imagino que seja de um fotógrafo da Globo)
Claro que ainda tem um punhado de zumbis que prossegue babando: “a culpa é do petê!”, “o petê destruiu o Brasil!”.
A voz desses pobres coitados se esgarçam rapidamente, perdendo volume e sentido, conforme os meses transcorrem e o povo entende quem realmente governa o Brasil hoje.
Na verdade, o PT não governa o Brasil desde meados de 2014, quando Dilma desistiu de fazer política e entregou o país à Globo.
Quer dizer, em muitos aspectos, o PT tem, sim, muita culpa pelo que está acontecendo. Sua covardia não merece perdão.
Eu vejo, por exemplo, muita gente criticando o novo prefeito de São Paulo, João Dória, por sua atividade midiática frenética, sempre postando vídeos no Youtube.
João Dória está corretíssimo. Está fazendo o que sugeríamos, gratuitamente, durante anos, aos governos do PT, em especial o de Dilma Rousseff.
Que usasse a internet, que fizesse política!
O PT preferia pagar R$ 60 milhões a João Santana, contratar uma agência norte-americana, e se manter em silêncio.
Ao contrário de João Dória, que posta vídeos no youtube, Dilma preferia fazer omeletes na Ana Maria Braga, ou pior, não fazer nada, não ter nenhum tipo de política de comunicação com o povo que a elegeu.
Nenhum governador ou prefeito ou mesmo dirigente político do PT faz diferente hoje. Então, a crítica que o PT hoje (embora, na maioria das vezes, por baixo dos panos) faz à Dilma não é honesta, porque esse desprezo pela internet é uma doença que acometeu todo o partido. E que não foi curada até hoje.
Por acaso algum ministro petista de Dilma fez diferente?
Não fez.
Alguns pseudo-pensadores do PT se penduraram – argumentativamente – nos blogs como tábua de salvação, alegando que eles seriam contraponto à grande mídia e, portanto, salvação do partido. Foi um desrespeito aos blogs, que não tem obrigação de salvar ninguém, além de uma estratégia estúpida, porque se o público entendesse que os blogs eram “aliados” do PT, um partido então no governo, haveria um problema de credibilidade que desarmaria os próprios blogs.
Prejudicaram os blogs, o governo, o PT e a pluralidade midiática nacional, ou seja, o país.
Percebendo a burrice do PT, um secretário de comunicação de Dilma, doido para trair, teve uma ideia maliciosa, e vazou o próprio email à grande imprensa, num texto em que chamava os blogs de “guerrilheiros”, em tom falsamente elogioso, que não passou de uma jogada desonesta, armada com a mídia, para prejudicar os blogs.
Esse era o tipo de pessoa que o governo contratava para gerir a sua comunicação. Hoje esse mesmo secretário é assessor de Michel Temer… Quem irá saber desde quando esse cara não estava, nos bastidores, trabalhando para os golpistas?
Enquanto isso, não havia nenhuma política pública em prol da internet. Por exemplo, os ministros e a própria presidenta poderiam prestar contas online, criar web-rádios, webtvs, oferecer infográficos inteligentes para que as redes sociais tivessem mais ferramentas para se contrapor à campanha de terrorismo político e econômico que a grande mídia fazia diuturnamente.
Mas era como se não houvesse governo.
Lembro-me que até mesmo Eduardo Cunha, antes de aderir abertamente ao golpe, dava entrevistas em que denunciava, meio perplexo meio sarcástico, a absoluta falta de comunicação do governo.
Eu acho que parte das acusações que a mídia e a direita fazia aos blogs, de serem “financiados com dinheiro público” se deu porque eles achavam inacreditável que o governo não fizesse nenhum investimento político para se defender.
Como não podiam acreditar que o governo fosse tão inerte e estúpido, e como viam os blogs fazendo o único contraponto real à mídia, então entendiam que os blogs recebiam investimentos oficiais.
Mas os blogs não recebiam nada. Eram instrumentos independentes, críticos, que operavam por conta própria e com financiamento próprio. Quando as informações da Secom apareciam, incluindo as despesas de estatais, a grande mídia tinha que fazer uma ginástica um tanto ridícula para tentar acusar os blogs. Um dos jornalistas responsáveis pela pistolagem contra os blogs, Fernando Rodrigues, do UOL, atacava os únicos dois ou três blogs que tinham tido a sorte de receber algum tipo de publicidade federal. Como os valores eram muito pequenos, ele usava a velha artimanha de juntar muitos anos acumulados para impressionar o zépovinho. Ou então usava uma estratégia ainda mais desonesta, que era dar o valor por clique, comparando um blog político destinado a um nicho com o valor por clique pago ao UOL, um portal cuja audiência incluía sites de pornografia e chats eróticos.
Nos últimos seis meses de governo Dilma, o número de blogs que recebiam publicidade federal cresceu de três para uma dúzia, mas ainda pequenos valores, que não mudavam em nada a estrutura de comunicação de nenhum deles. Foi o suficiente, porém, para a grande mídia fazer dezenas de matérias, ao longo de 2015 e 2016, sobre a decisão do governo Temer de “cortar” verbas da imprensa alternativa. Eles, os editores da grande mídia, devem ter ficado, no entanto, um tanto perplexos, mesmo decepcionados, com os valores quase irrisórios repassados a tão poucos blogs políticos. Um detalhe é importante ressaltar: a grande imprensa promoveu perseguição seletiva e ideológica a um grupo restrito de blogs. O governo Dilma tinha ampliado os repasses de publicidade institucional para dezenas, quiçá centenas, de sites, mas apenas aqueles blogs que faziam críticas à mídia foram alvo da pistolagem jornalística. Em minha pesquisa junto aos dados da Secom, por exemplo, eu identifiquei que sites de canais de TV fechada, como os da Fox, recebiam bem mais recursos do que qualquer blog (bem típico do governo Dilma, repassar recursos publicitários à Fox, mas não à imprensa alternativa), mas a grande mídia usou sua artilharia apenas contra os blogs políticos antihegemônicos.
Sintomaticamente, um dos poucos ministros de Dilma que tentou fazer um pouco de comunicação direta com a população foi Joaquim Levy, o cavalo de troia que a oposição conseguiu enfiar dentro do governo para destruí-lo. Mas Levy logo parou, intimidado pela avassaladora inércia do Planalto.
Os erros do PT foram inúmeros, e eu acho que o partido deveria pedir desculpas ao Brasil:
  • por nomear ministros do STF que se revelaram golpistas e covardes;
  • por aceitar passivamente, com estúpida cumplicidade, o jogo corporativo do Ministério Público;
  • por aprovar leis punitivas que se voltaram contra o próprio partido, contra empresários, contra cidadãos, contra o país!
  • por reagir ao massacre de que não só ele era vítima, mas a própria democracia, com um silêncio ultrajante.
Tudo isso ajudou a cozinhar o processo de instabilidade política que produziu o golpe.
Não há inocentes na política brasileira. O PT vendeu a alma ao diabo para tentar governar por alguns anos, fez coisas boas, mas o diabo veio cobrar a conta. E não falo da corrupção. Falo da covardia e da inércia em relação à mídia. O silêncio covarde do PT foi o preço cobrado pelo diabo para que ele pudesse governar. Esse silêncio foi elogiado. Valeu-lhe a participação no regabofe dos ricaços. E o resultado está aí.
A corrupção é uma questão importante, mas acho que tudo em torno desse tema foi exagerado, distorcido, manipulado.
Quando a poeira baixar, os historiadores provavelmente descobrirão que a corrupção na era petista foi uma das menores de toda a república, ao mesmo tempo em que foi o período em que se inauguraram ferramentas de transparência e combate a corrupção que jamais existiram antes.
A corrupção não é o problema principal do país. Somente a evasão fiscal, por exemplo, corresponde a dezenas de Lava Jato por ano.
Gostaria de enfatizar esse ponto. Eu acho a estimativa dos desvios por trás da Lava Jato absolutamente exagerada, porque sempre houve a intenção de usá-los como instrumentos semióticos em prol da mudança de regime.
Mesmo se acreditarmos nos números exagerados da Lava Jato, e em toda essa ladainha inventada para produzir a narrativa de “maior corrupção da história”, mesmo assim, a evasão fiscal no Brasil em apenas 12 meses é dezenas de vezes maior do que desvios da Petrobrás acumulados em vários anos!
A despeito de todos esses erros do PT e dos governos petistas, a responsabilidade maior pelo golpe deve ser atribuída, evidentemente, aos próprios golpistas.
Além disso, muitos dos erros do PT foram – se é que isso é possível – bem intencionados. Os petistas, por exemplo, foram uma das primeiras vítimas da lavagem cerebral da grande mídia. Eles acreditavam na Globo. Muitos acreditaram – a própria Dilma, e vários de seus principais ministros – que discutir mídia era uma iniciativa autoritária da esquerda.
Claro que isso se devia a uma profunda ignorância (alimentada por uma mistura de covardia, oportunismo e preguiça intelectual) sobre como funciona a comunicação de massa em outros países democráticos.
O PT cometeu, enfim, terríveis erros políticos, que eles mesmos entendem hoje que foram erros, embora a covardia que os fez cometê-los seja a mesma que os faz, hoje, não admiti-los.
Setores da militância falam que não se deve “lavar roupa suja” em público, o que é apenas uma desculpa para prosseguir chafurdando na covardia, na ignorância e na inércia, visto que esses erros jamais serão sanados se não houver um debate público, aberto, e não uma discussãozinha fechada entre os responsáveis por esses mesmos erros. Em política, a única maneira de progredir, de superar as crises internas partidárias, é justamente “lavando a roupa suja em público”.
O que os golpistas fazem hoje com o Brasil, porém, não são erros. Uma coisa é fazer um pacto com o diabo para governar. Outra é deixar o próprio diabo governar. O diabo não está disposto a nenhuma “autocrítica”, nem sonha em abrir um debate sobre o que deveria ou não ter feito.
Hoje o Globo, que não apenas é porta-voz oficial do golpe, como é a força principal do golpe, deu a seguinte notícia:
Recessão faz economia de 12 estados e do DF retroceder seis anos
Os dois anos de recessão que o país amargou em 2015 e 2016 fizeram a economia de 12 estados mais o Distrito Federal (DF) retroceder ao patamar do início da década. É o que mostra estudo da Tendências Consultoria Integrada, obtido pelo GLOBO. De acordo com as projeções do economista Adriano Pitoli, o Produto Interno Bruto (PIB) de todas as 27 unidades da federação encolheu neste biênio. E, para 13 delas, o tombo foi tão grande que anulou a expansão vivenciada entre 2011 e 2014. Ou seja, o PIB desses estados e do DF está hoje de um tamanho menor do que o registrado ao fim de 2010.
Segundo os cálculos da Tendências, as perdas mais expressivas ocorreram nos quatro estados do Sudeste (São Paulo, Rio de Janeiro, Espírito Santo e Minas Gerais), no Rio Grande do Sul e Paraná, no Amazonas, Rio Grande do Norte, Pernambuco, Alagoas, Sergipe e na Bahia, além do Distrito Federal. Ou seja, o estudo da Tendências mostra que a recessão que atingiu o Brasil foi disseminada, afetando tanto as regiões mais ricas do Sudeste e do Sul, como estados do Nordeste. Os números oficiais dos PIBs estaduais são medidos pelo IBGE, mas os últimos dados disponíveis são de 2014.
(…) O Rio de Janeiro, cujo PIB encolheu 7,2% em dois anos, de acordo com o estudo, tem um dilema ainda maior, devido à crise de suas contas públicas.
Já estamos bem além da recessão econômica pura e simples. Estamos retrocedendo economicamente. E a responsabilidade disso é do golpe. O Rio – e de certa forma, todo o país – vinha reestruturando sua economia em torno da indústria do petróleo, que incluía o setor de navegação, a construção de plataformas, refinarias, e a imensa gama de fabricação de derivados de petróleo.
Os coxinhas que entendem petróleo apenas pela prisma do “preço da gasolina” apenas contribuíram, com sua ignorância, para a maior corrupção de todas: a entrega do nosso patrimônio. Petróleo é um universo: plásticos, fertilizantes, indústria, navios, energia, infra-estrutura, força geopolítica, soberania. O resultado, além de tudo, num desfecho patético, é que a gasolina vai ficar mais cara do que nunca – porque os exploradores capitalistas, ao contrário do que pensa o zumbi midiático, não são “bonzinhos”.
Quando o ministro do STF, Luis Roberto Barroso, fala em falência do sistema de financiamento da universidade pública, ele apenas repercute uma grande mentira, porque ele não menciona a campanha de destruição contra a economia fluminense provocada pela Lava Jato. Ora, se a UERJ tivesse financiamento privado, ela iria quebrar do mesmo jeito, porque a Lava Jato quebrou as grandes empresas de construção pesada, que são privadas. Com Estado e empresas quebradas, de onde Barroso pensa que sairia o dinheiro para financiar uma universidade?
A economia é um ecossistema delicado. O combate à corrupção praticado pela Lava Jato jamais poderia ter sido conduzido de maneira tão irresponsável.
Hoje eu vejo o Brasil consumido por uma grande confusão mental, causada sobretudo pela absoluta falta de entendimento sobre o que está acontecendo.
A Globo surfa despudoradamente no populismo penal. Desde a Ação Penal 470 que a grande mídia procura emplacar a tese de que a “prisão de poderosos” mostra que a justiça é igual. Ora, essa tática foi usada na ditadura militar. Lá também foram presos “poderosos”. Grandes empresários, por não estarem bem posicionados politicamente, foram destruídos pelo regime militar. Políticos até então poderosos, como Carlos Lacerda, o queridinho da burguesia, foram cassados. Em todas as ditaduras, vemos a mesma coisa. O que não se diz é que o sistema não prende exatamente poderosos, e sim “ex-poderosos”. Afinal, se fossem tão poderosos, não estariam sendo presos! Conforme o poder vai se deslocando, e alguns poderosos vão deixando de ser poderosos, eles se tornam vulneráveis às mesmas brutalidades que o Estado sempre infligiu aos pobres. Os novos poderosos (e muitos deles já o eram, mas aumentaram o seu poder) continuam impunes, como sempre, e vendendo ao povo a lenda de que os “poderosos” estão sendo presos. É o circo romano!
Na Grécia antiga, em que os regimes políticos se sucediam freneticamente (ao menos à luz do distanciamento histórico, onde dez, vinte anos, não parecem quase nada), o conflito entre as elites sempre foram o principal motivo das guerras domésticas nas quais as cidades-estado se autoconsumiam. Poderosos, como a Odebrecht de hoje, como um Eike Batista, eram depostos, presos, mortos, exilados, para que outros ascendessem e tomassem o poder. As democracias sempre surgiam como uma reação revolucionárias das massas para interromper esse processo insano de autodestruição.
O resultado de todas as guerras sempre foi o mesmo: miséria e sofrimento para os mais vulneráveis e pobres. No Brasil não é diferente. O autoritarismo judicial empregado pelas elites contra os pobres passou a ser usado contra empresários e políticos vistos como peças a serem derrubadas no xadrez do golpe. Quer dizer que sejam inocentes? Não. Não são inocentes. Provavelmente muitos deles mereciam mesmo estar atrás das grandes, sendo processados, investigados, punidos por seus crimes de corrupção.
Provavelmente, o setor de construção civil merecesse, há muitos anos, passar por um processo de regulamentação, que quebrasse antigos monopólios e abrisse o mercado para construtoras pequenas, médias, ou mesmo estrangeiras.
O problema é que a economia, assim como a política, são como que seres vivos. Os remédios tem de ser ministrados com responsabilidade, prudência, e extremo cuidado, para não matar o paciente.
A tirada de Rodrigo Janot, em Davos, dizendo que a Lava Jato é “pró-mercado” é obviamente um argumento desesperado, de quem sabe que a operação provocou um efeito sistêmico terrível, que literalmente destruiu milhões de empregos e fez o PIB do Brasil retroceder muitos anos. O sofrimento social causado por essa irresponsabilidade é incalculável. Janot tenta redimir sua culpa dizendo que a Lava Jato é “pró-mercado”, ou seja, que ela quebrou um cartel na construção civil e, portanto, abriu espaço para a modernização do setor.
Ora, em todos os setores da economia, em qualquer país do mundo, criam-se carteis. Nos setores de autopeças, petróleo, energia nuclear, informática, para onde você olhe, há carteis, no primeiro, segundo, terceiro, quarto mundos, nos EUA, na Europa, na China, na Coréia do Sul, no Japão, na Rússia.
Mas em lugar nenhum do mundo, carteis são combatidos com a destruição das empresas! A esquerda, mergulhada no magma emocional da luta política contra as corporações, não compreende o que se passa. Como ela pode reagir à quebra de empresas, como a Odebrecht, contra as quais ela passou vida lutando? Eis aí a armadilha do golpe.
Um troll do blog, por exemplo (e agora eles são muitos por aqui, porque eu resolvi abrir a porteira para deixar a boiada entrar, pensando em depois convertê-los todos em churrasco), comentou um post em que denuncio o risco corrido pelas instituições financeiras, na esteira da quebradeira sistêmica provocada pela Lava Jato:
“Ora, um socialista defendendo bancos?”
Eles estão desesperados. Não sabem mais como defender um golpe que está consumindo rapidamente toda a atividade econômica do Brasil.
Primeiramente, eu iria responder que não sou socialista, embora a maioria de meus amigos – e uma parte de meus leitores – o seja. A leitura de O Capital do Século XXI, do Piketty, está me convertendo, todavia, ao socialismo, mas sobre isso falaremos depois.
Não defendo nenhum banco, naturalmente. O Itaú, por exemplo, controla as jazidas brasileiras de nióbio, um mineral que só o Brasil possui, e que é essencial para produção de ligas de aço usadas em aviões, propulsão de foguetes e vários materiais supercondutores. Estranhamente, a imprensa brasileira jamais fez muitas reportagens sobre o tema, que é uma mais sinistras caixas-preta da nossa economia. Ninguém sabe direito quanto rende, quando poderia render, como é o mercado mundial de nióbio. Só mesmo o pobre Enéas, ultrarreacionário, porém nacionalista, ousou fazer uma campanha política incluindo o controle brasileiro sobre o nióbio como bandeira eleitoral.
Na minha opinião, bancos privados deveriam cuidar apenas de carteiras de investimentos, e num ambiente fortemente regulado pelo governo. O crédito para empresas e cidadãos, porém, deveria ser monopolizado por bancos públicos. Para mim, isso é necessário para a saúde do próprio capitalismo.
Entretanto, é preciso ser muito alienado, mal intencionado, ou burro, para torcer para a falência súbita de todo o sistema bancário nacional, porque isso acarretaria na perda da poupança de milhões de brasileiros. E, sem uma estrutura política ou ideológica firme por trás, o que nasce dessa destruição, como vimos acontecer nos EUA após a crise de 2008, não é uma sociedade socialista, mas, ao contrário, monstros corporativos privados sem nenhum tipo de limite geográfico ou controle nacional.
Esse parece ser o caminho do país, todavia. O Brasil não vai desaparecer – ele apenas vai piorar. Quando a destruição da nossa economia for completa, ela vai renascer em seguida. Essa é a razão da confiança dos golpistas. Por isso Janot torra nosso dinheiro indo a Davos dizer que a Lava Jato é “pró-mercado”. Eles sabem que a economia será reconstruída, mas o problema é que será sob bases infinitamente mais injustas, menos democráticas, com menos soberania nacional.
As dificuldades fiscais imensas que estamos enfrentando já expressam essa nova realidade. É o Estado mínimo, em que os impostos cobrados à classe média e aos pobres são cada vez mais pesados, ao mesmo tempo em que não se oferece mais nenhum serviço público, nem previdência, nem saúde, nem educação.
Como as ruas estão caladas, alguns se perguntam? Cadê o movimento dos 20 centavos que não mais se ergue contra o aumento das passagens? Ora, há um tanto de hipocrisia e cinismo nessas indagações, porque se omite o aumento brutal da repressão no país. Com Dilma, respirava-se uma liberdade política da qual ainda vamos sentir muitas saudades. Os manifestantes podiam se manifestar, e não se pode culpá-los por fazê-lo quando havia essa liberdade e confiança, e não fazê-lo agora, quando não há mais esse espírito, quando vigora o medo, a delação, a repressão, a violência.
Em 2013, a manipulação da mídia mostrou bem como se pode abusar do direito à manifestação. O MP e a Polícia Federal também abusaram de suas liberdades. Sob Dilma, procuradores e delegados podiam investigar à vontade. A tendência hoje é haver cada vez mais restrição a isso, como fica patente com o caso do helicóptero do pó, abafado pela PF, imprensa e MP num manto de estranho silêncio.
Neste sentido, acho perfeitamente compreensível que Michel Temer indique Alexandre de Moraes, atual ministro da Justiça, para a vaga de Teori, cuja morte “acidental” nunca foi tão oportuna para um regime político. Independente das teorias de conspiração, o governo Temer, que é ideologicamente tucano, faz o que todo governo deveria fazer, ao nomear um ministro do STF: escolher um nome de confiança, alguém com longa vida partidária em suas hostes. O PT deveria ter escolhido gente de sua inteira confiança para o STF, para a PGR, para os tribunais superiores, mas preferiu fazer barganhas menores com esses cargos, prejudicando a si, às empresas e ao país.
A nomeação de Moraes para o STF, no entanto, reforça a ditadura midiático-judicial que estamos vivendo. Os operadores do governo Temer, raposas políticas, farejando onde está o poder, deram um jeito para botar um quadro seu dentro deste poder.
A estabilidade política que não veio por bem, está vindo por mal. Com Moraes no STF, o grande capital terá dominado quase tudo: legislativo, executivo, judiciário, mídia. Haverá um movimento bastante óbvio, em breve, para manietar o Ministério Público. Num primeiro momento, isto será feito através da interferência necessária (diria até saudável, apesar dos pruridos éticos dos inocentes) na Procuradoria Geral da República. Os tucanos sabem que é preciso controlar o MP para poder governar, por isso eles sempre trataram de encher o governo de ex-procuradores e nomear para chefe da procuradoria alguém de sua mais absoluta confiança. Só mesmo os petistas para comprar o pseudo-republicanismo que a mídia lhes vendeu. Os petistas passaram anos batendo no peito, com orgulho, afirmando que não nomearam um “engavetador-geral” da república, e acabaram nomeando coisa muito pior: procuradores-gerais golpistas, aliados da mídia e da oposição para derrubar governos eleitos e prender gente sem prova.
O controle da mídia pelo governo, por outro lado, virá através de uma outra estratégia, que é aumentar a concentração do poder em mãos da Globo, coisa que já está acontecendo sob o governo Temer, e, na verdade, já vinha acontecendo sob as gestões petistas.
Os grandes movimentos nunca se dão de repente. Sob a gestão petista, havia ruídos, contradições, conflitos, na relação entre governo e mídia. Sob o novo regime, não há mais nenhuma contradição: há um entendimento do governo de que a Globo controla a mídia brasileira e ponto final. Globo e Planalto hoje são uma coisa só, pela simples razão de que as grandes reformas e privatizações defendidas pelo governo são também defendidas pela Globo. As críticas que aparecem servem apenas para iludir os incautos, para salvaguardar as aparências diante de uma das opiniões públicas mais inocentes e vulneráveis do mundo.
Além disso, a Globo é muito grande para ser controlada pelo governo. E essa magnitude da Globo não surgiu de graça. A Globo sempre foi o braço do imperialismo americano instalado em nosso território. O grupo sempre recebeu financiamentos privilegiados de bancos americanos, recebia filmes de holliwood em consignação, com exclusividade, e, não nos esqueçamos, nasceu de um aporte milionário financeiro da Time-Warner.
Haverá, portanto, uma aliança, muito parecida com a que vivemos na ditadura, entre o partido político da mídia e a casta burocrática, que controla as funções de comando do Estado. A grande mídia é uma espécie de seguro-fiança do grande capital – inclusive internacional – contra eventuais desmandos do Estado. À elite rentista e internacional tanto faz um governo forte, ditatorial, que promova uma estabilidade artificial, às custas de uma repressão brutal, como já está acontecendo e deve recrudescer, como um governo fraco, falsamente democrático (porque não ouve ninguém), e que possa ser manipulado com facilidade por manchetes de jornal, blindagem, chantagem e propinas. De um jeito ou outro, o grande capital precisa de uma mídia de confiança, que abafe e faça sombra sobre qualquer imprensa alternativa que ponha em risco as narrativas centrais da oligarquia, narrativas que justifiquem a exploração brutal da população pobre e da classe média por uma minoria de milionários.

Nenhum comentário: