quinta-feira, 16 de junho de 2022

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16 DE JUNHO DE 2022

Todos falam em democracia neste país que nunca a conheceu e, sobretudo, a praticou. Acabrunhadora a história do poder que as Forças Armadas exercem com absoluta tranquilidade na história nativa, desde o golpe destinado a derrubar a monarquia para impor a república, da qual os primeiros presidentes foram Deodoro da Fonseca e Floriano Peixoto, ambos generais.

Sempre foi poderosa a presença de um ministro da Defesa devidamente fardado, a não ser em raros momentos de lucidez, por exemplo, de Lula, quando em lugar do general foi chamado um civil perfeitamente habilitado a ocupar o posto. E aceitam-se, no país sem democracia, alguns mitos, entre os quais, o Duque de Caxias, autor do genocídio do povo paraguaio. 

Com Bolsonaro chegamos ao ponto alto deste recurso ao poder militar, buscado, inclusive, para manter-se na Presidência a todo custo e enquanto for possível. 

Recebo da excelente editora da seção Plural o seguinte recado: “A nuvem negra que encerrava o processo se espalha e responsabiliza o poder e o País no documentário Amigo Secreto, de Maria Augusta, sobre o impeachment de Dilma Rousseff. O novo filme da cineasta, a partir de uma linguagem documental e incisiva, evoca os mecanismos ilegais adotados pela Operação Lava Jato e o engajamento de Sergio Moro na prisão de Lula”. Que democracia é esta? Graças à propaganda midiática, um personagem deplorável sob todos os pontos de vista como Moro se torna herói.

Estadão, para variar, um dos autores do apelo às Forças Armadas a favor do golpe de 1964, sustenta que Lula calado é um poeta. O jornal paulista afirma que, quando o ex-presidente fala a respeito da guerra da Ucrânia, diz o que CartaCapital afirma desde o momento do ataque de Putin. E reitera a igual prepotência e violência do imperialismo soviético e do Tio Sam. Já O Globo define Lula como um “desorientado com a cena global”. Ao que tudo indica, os jornalões empenham-se em defesa da ideia desastrada da via do meio.

A polarização neste momento é clara e a possibilidade de que ele vença no primeiro turno as próximas eleições de outubro soa como provável, ou mesmo algo mais, a demonstrar que o povo brasileiro percebeu a demência bolsonarista e não pretende partilhar dela. Falo de um povo que não chegou a ser nação por enquanto, exatamente porque por aqui a democracia não vigorou e não vigora. Ainda assim, a necessidade de nos livrarmos do bolsonarismo é agora prioridade absoluta, ainda que, depois dos golpes praticados em conjunto pelos ditos poderes da República, tenham expulsado da cena uma presidenta legitimamente eleita.

Tudo converge para uma única verdade: o País nunca foi verdadeiramente democrático. 

Hoje, conforme o IBGE, 30% da população morre de fome e cerca do dobro teme sofrer a mesma sorte. Nunca tantos nativos dormiram nas calçadas, nunca tantos temeram o pior, nunca tantos já o vivem. Enquanto isso, Bolsonaro vai a Orlando e lá celebra o aniversário da Disney, evento retumbante que o induz a promover uma motociata para deslumbrar Tio Sam. E, naturalmente, o ex-presidente Trump, ainda cultuado, insisto, pelo nosso presidente, a maioria dos brasileiros o elegeu.

Prossigo na pergunta: seria esta a democracia? Cabe apenas perguntar a Bolsonaro se prefere Mickey Mouse ou o tio do Pato Donald, o Patinhas, que costuma mergulhar em uma piscina cheia de dinheiro até a borda.

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