segunda-feira, 11 de julho de 2022

O dilema do Biden

 


O dilema de Biden com o boicote à Rússia, por Luis Nassif

Para dar conta do recado, terá que haver uma enorme flexibilização na legislação ambiental além de reduzir o desestímulo do mercado de capitais ao investir no setor. 

Foto: Walta Info

A Europa enfrenta recessão econômica, produção industrial em queda, salários comprimidos, e fábricas fechando nas áreas química, siderúrgica e de máquinas.

Parte relevante da crise é o aumento dos preços do petróleo, decorrência da guerra da Ucrânia e do boicote da Rússia. 

A Europa continua dependendo em 45% do gás russo, 27% do petróleo e 40% do carvão.  As sanções contra a Rússia reduziram em 80% as exportações de energia. E o quadro se torna mais sensível com as metas da União Europeia, de reduzir  a dependência do petróleo russo até 2030. Será impossível o aumento da oferta dessa energia para substituir a dependência da Rússia.

Só a ameaça de corte do petróleo russo no inverno fez a Alemanha e outros países europeus a colocar em prática racionamento no fornecimento de gás à indústria.  Dependendo do rigor do inverno europeu, a insatisfação popular poderá ser gigantesca, com enfraquecimento da frente de boicote à Rússia.

Esses problemas já reduziram em 1% a produção industrial europeia em março, e um crescimento de apenas 0,3% em abril. Essa desaceleração da economia europeia aumenta a possibilidade de uma recessão mundial.

Aí se entra na sinuca de bico do governo Biden.

Uma de suas bandeiras era a energia verde, a redução da dependência dos combustíveis fósseis. Para tanto, foram aprovadas medidas ambientais mais rígidas e houve desestímulos ao aporte de capital do mercado em setores fósseis.

No entanto, para mitigar a crise, o governo Biden terá que enfrentar desafios complexos.

Um deles, mais simples, é aumentar a proporção de vendas de GNL para a Europa. De fato, a proporção aumentou de 34% para 74% das exportações americanas de GNL.

Por outro lado, a própria política energética de Biden, de redução do carbono, esbarra na poluição extrema do gás de xisto – base do aumento da produção energética americana. 

Trata-se de uma incoerência percebida pelo público. De um lado, a revolução verde. De outro, a exigência para que as empresas petrolíferas investissem maciçamente no aumento da produção de combustíveis fósseis.  

Além disso, os EUA terão que recorrer a importações de dois países tidos como adversários, a Venezuela e o Irã. Além disso, a maior capacidade ociosa de refino está na China.

Para dar conta do recado, terá que haver uma enorme flexibilização na legislação ambiental além de reduzir o desestímulo do mercado de capitais ao investir no setor. 

Sem isso, é enorme a possibilidade de que a União Europeia flexibilize as retaliações contra a Rússia e aumente os estímulos a um acordo de paz.

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