As hipóteses analisadas por Bolsonaro para não terminar na cadeia
Futuro ex-presidente, que tem certeza sobre seu encontro marcado com a Justiça, estuda possíveis saídas para não acabar preso após todos os crimes que cometeu. Entenda os cenários estudados
A eleição de 2022 finalmente acabou, depois da campanha mais polarizada, violenta e suja de que se tem notícia desde a redemocratização. Jair Bolsonaro (PL), após gastou bilhões com benefícios sociais direcionados às camadas mais pobres, o que constitui crime eleitoral, e de tentar todo tipo de expediente utilizando a estrutura do Estado, saiu derrotado e Luiz Inácio Lula da Silva (PT) já tem data para colocar a faixa verde e amarela e subir pela terceira vez a rampa do Palácio do Planalto.
Tendo em vista a gama monumental de crimes cometidos no decorrer de seu caótico mandato como presidente, Bolsonaro ainda não tem data, mas sabe que tem encontro marcado com a Justiça. Não há dúvidas entre analistas políticos e juristas de que o futuro ex-presidente será colocado no banco dos réus num futuro próximo. Para evitar isso, o mandatário de extrema direita que está em aviso prévio analisa com seu círculo palaciano mais íntimo hipóteses para tentar se safar.
Sem foro privilegiado e sem poder, quando ficará muito mais vulnerável e não poderá lançar mão de suas bravatas e da valentia covarde com que peita as instituições no exercício do cargo, o primeiro presidente brasileiro a não ser reeleito para um segundo mandato, desde que isso tornou-se possível, calcula milimetricamente qual movimento fará para tentar se blindar.
Veja as hipóteses cogitadas por ele:
– Tomar uma postura “democrática”, discreta, e endossar um discurso de pacificação da sociedade, para usá-lo como moeda de troca. O discurso seria o de que, caso a Justiça marche para cima dele, a tensão permanente seguiria em frente e o risco das coisas se radicalizarem ainda mais durante o mandato de Lula seria grande, o que não faria bem ao Brasil. Nessa situação, Bolsonaro se colocaria como uma liderança política "normal" e adotaria uma vida partidária como outros ex-presidentes.
– Fomentar, ainda que de maneira indireta, a tensão permanente de seus numerosos e violentos seguidores. Assim como estão fazendo bloqueios e tentando incendiar o país agora, logo após a derrota, mantê-los o tempo todo em estado de histeria, sempre dispostos a irem para as ruas realizarem suas badernas (e usando as centenas de milhares de armas a que tiveram acesso legalmente) pode criar uma espécie de “guarda” de Jair Bolsonaro, caso ele seja incomodado pela Justiça. Trata-se de uma clara e inequívoca intimidação às autoridades. No entanto, não existem garantias de que o chamado “gado” vai persistir radicalizado e tão revoltoso durante muito tempo.
– Trabalhar para manter uma forte unidade da bancada bolsonarista no Senado e na Câmara, que se fortaleceu muito este ano. Com um grupo fortíssimo de senadores e com lunáticos, fardados e toda sorte de sujeitos ultrarreacionários ocupando cadeiras de deputado federal, Bolsonaro conseguiria exercer grande pressão, ao menos em nível político, sobre os tribunais e o Ministério Público. No entanto, mesmo que consiga uma frente incansável, barulhenta e poderosa, não há exatamente uma garantia de que a pressão desses parlamentares será eficiente contra juízes e procuradores.
– Usar a mesma bancada forte no Congresso para empurrar goela abaixo, aos trancos e barrancos, garantias legais que o deem imunidade como ex-presidente, algo muito semelhante aos dispositivos aprovados no parlamento chileno que renderam proteção ao ex-ditador Augusto Pinochet, no início dos anos 90. No entanto, esse movimento poderia ser complicado por dois motivos: tentar implantá-lo no melhor estilo “trocar o pneu com o carro em movimento” seria difícil, ou então poderia não haver tempo suficiente para que isso se resolva a seu favor.
– Soltar o famoso “atestado”. Bolsonaro fará 68 anos em 2023 e ao passo que sua idade avança os problemas de saúde oriundos do episódio da facada, de 2018, poderia “piorar”. Não seria nada difícil para ele arranjar médicos e gente influente para garantir que sua saúde está péssima, o que seria também um movimento similar ao de Pinochet quando foi detido em Londres, em 98, para ser levado a uma corte espanhola para responder por crimes contra a humanidade. A pressão excessiva de profissionais da medicina dizendo que o ditador estava moribundo acabaram pesando decisivamente para que a Justiça britânica o liberasse para voltar ao Chile.
– Fugir para um país onde vá permanecer seguro. Bolsonaro andou se aproximando de algumas monarquias ditatoriais do mundo árabe, como os Emirados Árabes Unidos, o Barein e a Arábia Saudita. Caso decida por isso, a coisa poderia ocorrer de duas formas: escapar ainda durante o mandato, até 31 de dezembro, usando sua imunidade de chefe de Estado e com aeronaves oficiais do governo, no melhor estilo Alberto Fujimori, o presidente peruano que, no cargo, foi para o Japão e por lá ficou, abandonando seu terceiro mandato ainda bem no início, em novembro de 2000, para não ser preso no país que chefiava, ou poderia haver ainda uma fuga discreta após a posse de Lula, meses depois, quando dificilmente alguma ação penal estará em fase adiantada. De longe, o radical de extrema direita adotaria um discurso de perseguido político e inflamaria seus extremistas com essa versão.
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