por Lauro Allan Almeida Duvoisin e Miguel Enrique Stédile
Trabalhamos com todos os tipos de golpes
Olá! Nem só de Golpes de Estado vive a elite brasileira. Enquanto isso, o governo Lula aposta na economia para deixar a questão militar para trás.
.E a Faria Lima, hein? Austeridade, transparência e responsabilidade fiscal é boa para o mercado financeiro só quando se trata das contas do Estado e investimento social. Nesta semana, tornou-se público que uma das queridinhas do mercado, as Lojas Americanas, cometeram fraudes contábeis e fiscais, maquiando e super estimando lucros e ações da empresa. Trocando em miúdos, as Americanas “pedalaram” ao não contabilizarem R$20 bilhões em dívidas com bancos. Segundo Luís Nassif, o golpe estava em curso há pelo menos dez anos sob a batuta dos três maiores bilionários do Brasil, Jorge Paulo Lemann, Beto Sicupira e Marcel Telles. Além de “homem mais rico do Brasil” e ícone da religião empreendedora, Lemann atuou decisivamente na privatização da Eletrobrás e é o principal financiador do RenovaBr, organização que “formou” 217 candidatos nas últimas eleições, elegendo 18 deputados federais e estaduais. A fraude não impediu que os bilionários distribuíssem gordos R$550,6 milhões em dividendos para os acionistas. Graças a maquiagem, as Americanas se apresentavam como papéis confiáveis na bolsa e estavam presentes em 1.057 fundos de investimentos, distribuindo os estragos do golpe entre CPFs e CNPJs. Além disso, a fraude respinga nos gigantes do mercado bancário, como Bradesco, Santander, Itaú, Safra e BTG. Por sua vez, um ícone do golpe contra Dilma, a FIESP, também demonstrou que sabe usar as mesmas técnicas para resolver problemas internos. O presidente da entidade Josué Gomes foi destituído do cargo numa assembleia esvaziada e articulada pelo ex-presidente e bolsonarista fiel Paulo Skaf. A briga seguirá na justiça. Mas, mesmo em tempos do terrorismo em Brasília, a FIESP não se envergonhou de incluir entre as acusações contra Gomes, a assinatura em um Manifesto pela Democracia contra os atos bolsonaristas de 7 de setembro passado. A alta intelectualidade empresarial paulista ainda confundiu o paisagista Burle Marx com Karl Marx. E, ainda que a reindustrialização seja uma das pautas centrais do novo governo, é evidente que disputar o controle da entidade é fundamental para a oposição no topo do PIB.
. Virtude e fortuna. Enquanto frequentavam as páginas policiais, os bilionários brasileiros preferiram se ausentar do manifesto de 200 milionários e bilionários de 13 países pelo aumento da taxação das próprias fortunas. O texto é uma autocrítica e um reconhecimento de que nas últimas décadas “a riqueza só flui em direção para cima”. Mas é tímido, muito tímido, considerando que, na mesma semana, a Oxfam apresentou seu novo relatório anual sobre a desigualdade global, constatando que a fortuna dos super ricos aumenta a uma taxa de US$ 2,7 bilhões por dia e que o 1% mais rico do mundo ficou com quase 2/3 de toda riqueza gerada desde 2020. Os dois documentos foram apresentados no Fórum Econômico Mundial, em Davos, onde Fernando Haddad também passou por sua primeira prova de fogo com o capital global. O ministro avaliou que o Brasil pode crescer além das previsões com a combinação de reindustrialização e foco na economia verde, defendeu a integração regional e sinalizou que a reforma tributária e o substituto do teto de gastos serão prioridades a curto prazo. A reforma tributária, aliás, tem sido um sinal de unidade entre Haddad, Simone Tebet e Geraldo Alckmin, ao contrário do que torcia a Faria Lima. A proposta é unificar os impostos que incidem sobre o consumo, simplificar a arrecadação e taxar no destino, não na origem, combatendo a guerra de incentivos fiscais. Obviamente, o sucesso de Haddad é determinante para o futuro do governo. Para Alon Feuerwerker, a iniciativa está com Lula agora e o governo só terá obstáculos se a deterioração econômica se acelerar e se errar na identificação do inimigo principal nesta etapa.
. Esqueletos fardados no armário. A pauta positiva na economia também é fundamental para que Lula e o governo tirem de uma vez a pauta militar da ordem do dia. O problema é que quanto mais as investigações vão deixando para trás a camada intermediária do bolsonarismo, mais se aproxima dos mentores intelectuais do golpe, Bolsonaro e a turma de verde oliva. A investigação do Ministério Público Federal se divide em quatro núcleos: autores intelectuais dos atos; financiadores; autoridades de Estado omissas; e executores. Até agora, só os últimos estão nos presídios. Porém, com o rascunho de uma minuta de golpe encontrado na residência de Anderson Torres - que na prática daria a uma junta militar a decisão sobre quem ocuparia a presidência da República - e os indícios de que o General Braga Netto liderou reuniões para anular o resultado das eleições apertam a saia justa para ambos os lados, Lula e os militares. Da parte do presidente, a desintoxicação militar no governo ganhou velocidade nesta semana, com exonerações no GSI e na PRF, além do símbolo em restituir a Comissão de Anistia, sem militares e com ex-perseguidos políticos. O Ministério da Justiça também já tem um dossiê em curso que revela quais oficiais da ativa foram lenientes com os acampamentos golpistas. Os militares também seriam alvo de punições mais duras no pacote antiterrorismo que o governo prepara como resposta às invasões em Brasília. O problema é justamente como se livrar destes oficiais sem que o corporativismo militar dê unidade e proteção aos golpistas? Menos sorte tem o capitão Jair Bolsonaro. Curiosamente, o PT e o PL convergem na mesma avaliação: Bolsonaro está isolado e com capital político reduzido. O PT também compartilha a mesma opinião que ministros do STF de que a prisão de Bolsonaro poderia revitalizar o movimento e apostam na inelegibilidade, ainda neste semestre, para anulá-lo por hora.
.Ponto Final: nossas recomendações.
.Assista a íntegra da entrevista de Lula para Natuza Nery.
Na Agência DW, três reportagens sobre o tema da fome e da alimentação: relatório da FAO aponta a América Latina como o lugar mais caro para consumir alimentos saudáveis; no Brasil, o aumento de casos de furtos famélicos e uma entrevista com o representante da FAO para o continente sobre os desafios de Lula para combater a fome.
.Como a guerra na Ucrânia se tornou laboratório para armas ocidentais. Na CNN, como o Ocidente transformou a Ucrânia em campo de testes para novos armamentos.
.Quando o teatro combateu a escravidão. O Jornal da USP resenha livro de João Roberto Faria sobre o engajamento artístico na luta contra a escravidão no século XIX.
. O Guerrilheiro do conhecimento livre. A Jacobin presta uma homenagem à Aaron Swartz, jovem militante da luta pelo acesso livre ao conhecimento científico e caçado juridicamente por grandes corporações, nos dez anos de sua morte.
'Torcer sem assédio foi emocionante': o jogo das mulheres no Couto Pereira. No UOL, como foi o histórico jogo de futebol exclusivamente com torcida feminina no Paraná.
Ponto é editado por Lauro Allan Almeida Duvoisin e Miguel Enrique Stédile.
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