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Princesa Isabel, Bento Gonçalves e o fantasma da escravidão que assombra os vinhedos do Rio Grande no Século 21 (Por Adeli Sell)
Dilligenza dovuta non c'é in Bento"Dilligenza dovuta", isto é, prévia e devida diligência ou "due dilligence" não há em Bento Gonçalves. NON C'É in Bento, para ser entendido por alguns. A velha Vila Isabel dos primeiros imigrantes era um ermo e laborar nas roças era durissimo. Em se plantando, dava para comer e viver. E "la nave" ia para frente. Afinal, tinham vindo para "fare la mérica". Trocaram o velho nome pelo de um gauderio que não passa de um mito, perdedor dos seus propósitos, com uma biografia pouca digna para ser um herói, Bento Gonçalves. Com o passar dos tempos, Bento passa a ser referência na indústria moveleira, a partir de derrubadas de matos sem limites. Lembrar é preciso. E esqueceram do velho nome, o da princesa que assinou a lei da libertação dos escravos. E agora a cidade está na mapa de praticar trabalho análogo à escravidão. Agora, tem - ninguem duvida - uma bela marca no enoturismo e na boa gastronomia. Quem não gosta de um bom vinho ou de uma espumante de qualidade regando uma boa comida típica? Mas é preciso lembrar do outro lado da moeda. Em passado recente, tivemos o triste episódio contra o Ministro da Suprema Corte, Luiz Fux, que - sob ameaças - deixou a cidade sem ter podido falar. E isso que é um liberal dos quatro costados. Um escárnio que agora fazem de tudo para esquecer. Como querem esquecer a campanha que fizeram contra pessoas e uma marca de vinhos pela cesta presenteada ao atual presidente Lula. Outro escárnio. Tentam esquecer. Mas por nossa luta pela Memória todos os episódios da vida cotidiana são resgatados. O país é surpreendido pelo uso de mão de obra análoga à escravidão, na velha Vila Princesa Isabel, hoje, Bento Gonçalves,.este era senhor de escravos com discurso republicano e abolicionista. Correram para dizer que era um "terceiro", o tal."gato" baiano, mas se esquecem de olhar para si e para a ética que se exige das empresas, ou seja, se você contrata tem que saber da "dilligenza dovuta", traduzindo "pesquisa devida e prévia" ou ainda na língua "universal", "due diligence". Vá e consulte as páginas das três vinícolas contratantes do terceiro/gato. Escondido consegui achar numa um Código de Ética. Protecao de dados pessoais encontrei, mas não de forma adequada com a lei. Uma delas dá destaque ao que seria uma política de compliance, dando ênfase aos princípios ESG. Chega a falar que tratam de "mitigar riscos". Outra fala até dos ODS da ONU, a terceira fala em Sustentabilidade ambiental. Isto é, usa-se maquiagem como base para ter aparência de legitimidade ética. É como as empresas que fazem greenwashing, ou seja, pintam ou lavam tudo de verde para parecer sustentável. Não desdenho que possam realizar atividades nas áreas sociais, ambiental e de governança. Mas como os sites se apresentam já é um indicativo que mais interessam as Notas dos vinhos e espumantes, todo o modelo de enoturismo que montaram, engolindo o complexo de pessoas, empregados, famílias produtoras, nós os consumidores - é secundário. A Alemanha tem uma Lei de Vigilância que deve abranger todas as atividades da empresa e na Noruega há o Ato de Transparência. Empresas da área da moda que praticamente tudo terceirizam tiveram suas marcas manchadas e detonadas nas redes sociais por uso de trabalho análogo à escravidão . Boicotes existiram e há grandes possibilidades de boicote a estas três marcas. Duas delas são mais populares e talvez terão menos desgaste, mas há outra que terá imensas dores de cabeça a perturbar seus executivos. Mas como este tipo de empresariado é regra geral covarde tende a não aprender com seus graves erros. Seria o grande momento de uma reengenharia e de governança, para entrar de cabeça nas adequações legais, em empunhar a bandeira ESG. Poderão até chamar seus apaniguados das entidades "master", porém deste mato não sai coelho. Caminham até ali,.no velho estilo "pro-forma". Somente uma consultoria independente e ousada pode mudar a cadeia da uva e do vinho, colocá-la na modernidade. Quando dos episódios da deriva, vizinhos largando veneno no ar e prejudicando seus parreirais, chiaram. Mas não se engajaram em nenhuma ação contra o uso dos venenos. O que farão agora? Para o bem do Rio Grande do Sul e do setor vitivinícola quem não os ajudaria? Mas a pergunta é: querem ser ajudados? Adeli Sell é escritor, professor e bacharel em Direito. |
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