Por Fernando Damasceno
“É uma situação que tem a ver com a relação de uma empresa privada com o Estado equatoriano. De nenhuma maneira essa situação afeta as excelentes relações bilaterais que mantemos com o Brasil e com seu governo, com quem temos áreas muito importantes de colaboração em muitos temas”, ressaltou a ministra.
Lula, por sua vez, disse confiar num rápido acordo entre as partes envolvidas. ''Na hora em que chegar a necessidade de eu falar com o Rafael [Correa], falarei'', disse. ''Quando tiver uma decisão, tenho certeza de que o presidente Rafael Correa vai me telefonar e vai discutir comigo, como dois dirigentes civilizados fazem''.
Exageros por toda a parte
Não poderia ser diferente a reação dos líderes políticos dos dois países. Jornais como O Estado de S. Paulo chegam a falar em ''crise bilateral'' ao tratar do caso. O governo equatoriano, no entanto, exige apenas o que lhe é de direito: o pagamento de uma indenização por falhas no funcionamento e paralisação da central hidrelétrica San Francisco, construída pela empreiteira. A obra apresentou falhas e deixou de funcionar um ano depois de ser concluída.
Paralisada desde 6 de junho, a hidrelétrica San Francisco é a segunda maior do Equador e o governo argumenta que sua paralisação estaria colocando em risco o abastecimento de energia no país. A Odebrecht também é responsável pelas obras de outra hidrelétrica, uma rodovia e um aeroporto no Equador.
A grita do dia, após a intervenção do governo nas obras, diz respeito à ''ameaça'' de Rafael Correa em não pagar ao BNDES o empréstimo de US$ 243 milhões tomado para a construção da hidrelétrica.
''Esse crédito foi dado por meio da Odebrecht e também tem graves irregularidades, porque tem dinheiro que nem sequer entra no país, é dinheiro que se contabiliza lá [no Brasil] como crédito interno e na verdade é um dinheiro emprestado à empresa. É um empréstimo de mais de US$ 200 milhões para um projeto que não presta'', explicou Correa.
Dívida não é do Equador
A ministra da Casa Civil, Dilma Rousseff, trouxe um pouco de luz ao imbróglio nesta quinta-feira (25), ao comentar rapidamente o caso. ''O empréstimo foi feito para a Odebrecht, e não para o governo equatoriano''.
Em nova nota divulgada ontem, a Odebrecht disse que os problemas que resultaram na paralisação da usina decorreram ''de erupção do vulcão Tungurahua (...) não considerada no projeto de engenharia de responsabilidade do governo equatoriano''.
A empresa disse que só não assinou um acordo com o governo, o qual incluía assumir os custos dos reparos, estimados em US$ 25 milhões, e a a extensão da garantia por mais um ano, porque não teve a ''anuência'' das outras empresas do consórcio, a francesa Alstom e a austríaca VA Tech Hydro.
Esquema conhecido
Esse jogo de ''não é comigo'' praticado pelas empresas envolvidas com a hidrelétrica equatoriana já é conhecido dos brasileiros, bem como alguns dos personagens envolvidos. Entre os funcionários brasileiros da Odebrecht que tiveram os direitos constitucionais suspensos pelo governo do Equador devido a problemas na hidrelétrica San Francisco está o engenheiro Fabio Gandolfo.
Em janeiro de 2007, Gandolfo comandava a construção da linha 4-amarela, cenário do maior acidente da história do metrô de São Paulo, quando a abertura de uma cratera perto da marginal Pinheiros deixou sete mortos e vários feridos. Laudo do IC (Instituto de Criminalística) apresentado em agosto apontou problemas na execução da obra e deficiência na fiscalização.
Segundo informações da Folha de S.Paulo, depois do acidente, Gandolfo, funcionário da empresa há 20 anos, foi ''promovido'' a chefe das operações no Equador, cargo que ocupa desde junho de 2007.
Exemplo a ser seguido
Cada caso dessa natureza merece ser analisado individualmente, mas a postura do presidente Rafael Correa precisa servir de exemplo não-somente para países da América do Sul, mas para todas as nações em desenvolvimento do planeta.
Não há mais espaço nas relações político-econômicas para empresas multinacionais entrarem em outros países, executarem serviços de baixa qualidade e nada ser feito contra tais ações. O que deve ser buscado em pleno século 21 é um procedimento simples e perfeitamente cabível a qualquer nação soberana: serviços bem feitos devem pagos corretamente; descumprimento de contratos devem ser resolvidos judicialmente, e não a partir de pressões e gritaria via imprensa.
Fonte: Site Vermelho.
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