segunda-feira, 27 de outubro de 2014

POLÍTICA - A eleição vista da Europa.


day after

A eleição vista da Europa


Mídia europeia ressalta que a vitória de Dilma se deveu, sobretudo, ao sucesso das políticas sociais inclusivas do seu governo, seguindo a trilha dos dois governos do ex-presidente Lula

por Flávio Aguiar           
the guardian
'The Guardian' dá destaque ao discurso de Dilma, que pregou unidade por um país melhor
Havia uma indisfarçável música de fundo entoada com esperança em parte da mídia aqui no Velho Continente: uma vitória de Aécio sinalizaria o começo do fim do ciclo de esquerda na América do Sul e Latina. Para quem torcia por isto, não deu certo. Mas no “day after” a cobertura saiu equilibrada.
Ressalta-se que a vitória da presidenta Dilma se deveu, sobretudo, ao sucesso das políticas sociais inclusivas do seu governo, seguindo a trilha dos dois governos do ex-presidente Lula.
Também se ressalta o favorecimento da política de pleno emprego no país, em que pese – ressaltam os comentários – a inflação “alta” (mas a mídia aqui é mais sensata, ninguém fala em “descontrolada”) de 6,5% e o “patinar” do PIB brasileiro.
Por vezes esses comentários vêm envoltos em paradoxos verbais: o mesmo comentário fala em “pleno emprego” e em “economia moribunda”. É que a formação da maioria dos economistas e jornalistas econômicos aqui segue a escola de Armínio Fraga: um tanto mais de desemprego faria “bem” à economia, tornando o país mais “competitivo”.
Como aqui é mais corriqueiro tratar as coisas pelo nome que têm, os comentários não ocultam o fato de que o governo liderado pelo Partido dos Trabalhadores é mais comprometido com o “redução da desigualdade”, e que a candidatura de Aécio era mais “pro-business”, o que devemos traduzir por “pró-mercado”.
Isso não quer dizer que esta formulação seja sempre positiva: há muita gente por aqui, na mídia e fora dela, que preferia a eleição de alguém “pro-business” no Brasil.
Também houve espaço para se comentar que a campanha eleitoral foi muito “suja”, com acusações mútuas de corrupção, escândalos, nepotismo, incompetência. Mas como também aqui se costuma chamar os bois por seus nomes, também se mencionou o fato de que grande parte das denúncias partia ou era amplificada por uma mídia “dominante” que era extremamente “hostil” à presidenta. Como exemplo, ganhou destaque a capa de Veja com a acusação de que ela e Lula “sabiam de tudo”.
Numa observação mais acurada,o correspondente do The Guardian, Jonathan Watts, apontou que esta denúncia (envolvendo a Petrobras) foi o carro-chefe do apelo de Aécio a seus eleitores. Mas que elas (a denúncia e a campanha de Aécio) ficaram soterradas por uma série de contra-ataques a que ele não conseguiu dar respostas capazes de neutralizá-los, que iam das denúncias de nepotismo, sobre o aeroporto em Cláudio e também as lembranças de seu alegado comportamento violento com sua companheira. Diz o correspondente que a “negativa” do candidato não conseguiu deter a queda de sua popularidade entre as mulheres e que isto lhe foi fatal.
Também ganhou destaque o elevado número do não comparecimento (29 milhões) e de votos nulos e brancos (sete milhões): juntos, eles totalizaram 36 milhões, ou 25% do eleitorado.
Para finalizar, assim como no Brasil, especula-se sobre quem será o próximo ministro da Fazenda, dando-se por certa a substituição de Guido Mantega. Aliás, esta foi uma das campanhas mais insistentes dos porta-vozes da City londrina no Financial Times e na The Economist, que não cessavam de pedir a cabeça do ministro.
De um modo geral, a cobertura da vitória de Dilma Rousseff reequilibrou a cobertura da mídia europeia sobre o Brasil, muito marcada neste ano da Copa pela contínua exposição do país como “inviável” em vários sentidos, da incompetência à corrupção, da indigência aos preconceitos raciais e sociais.

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