Embora se classifique como “um liberal” e lembre que “a Dilma é muito mais à esquerda” do que ele, o líder petista admite que os empresários do cartel da mídia conservadora, em curso no país, ainda os consideram “do andar de baixo”

Por Redação – de São Paulo
A campanha da imprensa conservadora contra o Partido dos Trabalhadores (PT) foi alvo de críticas do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, em entrevista a blogueiros, nesta quarta-feira, na sede paulistana do instituto que leva o nome dele. Lula lamentou que os veículos de comunicação ligados às forças da ultradireita, no país, transformaram-se em corporações, “dirigidas por executivos”.
Massacrado, ao longo de seus oito anos de governo por jornais, rádios, revistas e canais de TV de propriedade das seis famílias que comandam a mídia hegemônica, no Brasil, Lula lamenta a evolução dos níveis de administração do cartel midiático e lembra o tempo em que combinava editoriais no jornal O Globo, com João Roberto Marinho, um dos donos das Organizações Globo, ou no diário conservador paulistano Folha de S. Paulo, “com o ‘doutor’ (Octavio) Frias”. O mesmo ‘doutor Frias’ que autorizava o empréstimo de carros do jornal para o transporte de presos políticos, na época da ditadura.
— Antes, jornal tinha dono — lembrou, em um tom saudosista.
Lula, na entrevista aos blogueiros, disse que a presidenta Dilma precisa parar de se preocupar com quem é contra

O ex-presidente disse que sua sucessora, Dilma, precisa parar de se preocupar com quem é contra
Embora tenha tentado conquistar o apoio dos meios conservadores da mídia, ao longo de seus oito anos de mandato e nos quatro anos seguintes, de sua sucessora, Lula parece ter percebido que, cada vez mais, a mídia independente faz a diferença no diálogo com os setores mais progressistas da população, responsáveis pelas vitórias que obteve nas urnas.
— Nunca fui bem-tratado, sempre fui tratado com certo desdém (pela imprensa) — constatou, ao seguir adiante na resposta à editora do blog Maria Frô, Conceição Oliveira, sobre o tratamento carinhoso dispensado tanto por Lula, quanto pela presidenta Dilma Rousseff, aos meios de comunicação que, diuturnamente, publicam ataques indistintos no noticiário contra o PT, em todo o país.
Lula criticou o noticiário tendencioso
Lula criticou o noticiário tendencioso que espalha o ódio no país
Ao longo dos mais de 12 anos em que o PT permanece à frente da Presidência da República, os meios de comunicação conservadores receberam, em verbas publicitárias do governo federal e de suas estatais, perto de R$ 1 bilhão por ano. Durante a gestão Lula, o ex-ministro Franklin Martins, da Comunicação Social, tentou reorganizar a política de comunicação federal – que não foi adiante na gestão de Dilma – de forma a promover a mídia independente, sem a qual a vitória nestas eleições seria inviável, segundo admitiu o próprio Lula, nesta entrevista aos blogueiros:
— Graças a Deus, a gente tem uma imprensa alternativa, que dá esperança de que a gente possa fazer um enfrentamento — elogia.
Apesar dos equívocos nos pesos concedidos às mídias conservadora e independente, Lula sugere que haja um movimento, em nível nacional, para que os meios de comunicação que integram o campo das esquerdas possam se reunir e, de forma coordenada, passar a exercer um peso mais consistente junto à Secretaria de Comunicação Social da Presidência da República.
— Eles (da mídia conservadora) criaram o Instituto Millenium e não somos capazes de conversar 30 minutos para criar unidade de informação a nível nacional — critica o ex-presidente.
Embora se classifique como “um liberal” e lembre que “a Dilma é muito mais à esquerda” do que ele, o líder petista admite que os empresários do cartel da mídia conservadora, em curso no país, ainda os consideram “do andar de baixo”.
— Os quatrocentões não aceitam sequer o novo rico — disse, ao afirmar que sempre “teve lado. Eu sei de onde eu vim. Fui presidente e voltei para o mesmo lugarzinho que eu ‘tava”.
O fato de haver a melhora na qualidade de vida dos segmentos mais pobres da população, segundo Lula, “gerou o ódio na elite brasileira”. Apesar da concessão de bilhões dos cofres públicos aos empresários, donos dos maiores meios de comunicação do país, afirma o possível candidato petista ao Planalto, em 2018, “que há má vontade de alguns setores da imprensa com o governo da Dilma, há”:
— Vocês repararam que Dilma deu reajuste no salário mínimo, para os aposentados e para os professores e ninguém falou nada?
O ódio que permeia a elite brasileira tem chegado às redes sociais e Lula prometeu seguir os passos do escritor e compositor Chico Buarque, que começa a processar, judicialmente, aqueles que lançam ataques à sua honra ou à de sua família.
— Soube ontem que um lutador disse que meu filho tem um iate de 80 pés! Como um sujeito tem a desfaçatez de mentir? Um homem sério e uma mulher séria nesse país não podem admitir a execração de pessoas — protestou.

Financiamento público

Na visão ‘liberal’ do ex-presidente, que hoje se considera “mais à esquerda” do que quando começou na vida pública, há uma clara perseguição aos petistas, tanto na sociedade quanto no Judiciário. Ele citou a prisão do tesoureiro do PT, João Vaccari, que segue preso em Curitiba, por determinação do juiz federal Sergio Moro. “É como se o PT fosse imbecil”, disse, ao citar que — para setores da sociedade brasileira — há doações de campanha, que vêm da mesma fonte, e são válidas para os partidos da direita, que têm o apoio dos meios de comunicação, e originárias de propinas, quando destinadas ao PT.
— Ora, os empresários são os mesmos. Ninguém vai pedir dinheiro na favela. O Vaccari é bancário. É inteligente — disse, e questionou: “Vocês acham justo o Vaccari estar preso, sem ser julgado?”
Nesse momento, na entrevista aos blogueiros Altamiro Borges, do Blog do Miro; Breno Altman, do site Opera Mundi; Conceição Lemes, do site Viomundo; Joaquim Palhares, da agência brasileira de notícias Carta Maior; Miguel do Rosário, do site O Cafezinho e Renato Rovai, do Blog do Rovai, entre outros, Lula afirmou ser favorável ao financiamento público de campanha.
— A Dilma precisa parar de se preocupar com quem é contra e construir um novo relacionamento com quem está a favor. Ela precisa saber que não está sozinha. Que tem muita gente ao lado dela — concluiu.