terça-feira, 19 de janeiro de 2016

POLÍTICA - O mercado e o BC.

O 'mercado' mete pé no pescoço do BC

Por Fernando Brito, no blog Tijolaço:

O mercado já fez chegar aos seus cronistas que, se depois das previsões ruins para a economia mundial e piores para as brasileiras, o Banco Central não conceder um aumento generoso nas taxas de juros, isso terá sido porque o seu presidente, Alexandre Tombini, terá ‘cedido às pressões do petismo’.

A coluna de Fábio Alves, no
Estadão, diante de uma manifestação de Tombini onde diz que serão levadas em consideração na reunião do Conselho de Política Monetária as avaliações divulgadas horas atrás pelo FMI (ué, não deveriam ser levada em conta?) descreve, quase desenhando, o discurso chantagista do mercado:
A surpresa com a nota divulgada hoje, comentando as projeções do FMI, levanta suspeitas de que o BC sofre ingerência política, de que interesses contrários à alta de juros – necessária para controlar expectativas ainda elevadas – exerceram pressões de última hora sobre ele, Tombini.

Depois de guiar as apostas de investidores para uma elevação da Selic de 0,50 ponto – como era até ontem -, essa reviravolta com um comentário que abre espaço para não subir juros ou, se subir, num ritmo mais brando, vai solapar ainda mais a credibilidade das palavras de Tombini ou de outros diretores do BC sobre os próximos passos da política monetária.


Não é preciso um discurso de esquerda para responder a isso, basta o equilíbrio do insuspeito e experiente George Vidor, ontem, em
O Globo, usando as conclusões de uma instituição nada “bolivariana, a Standard&Poors:

A tentativa de segurar a inflação por meio de taxas de juros excessivamente altas é admissível por um breve período de tempo. Se tal política se estende por meses a fio, efeitos colaterais negativos passam a comprometer esse esforço. Equivale a um tiro no pé. Mas esse fenômeno não costuma ser levado em conta pela cartilha da maioria dos analistas financeiros e geralmente é associada a uma visão de economistas complacentes com a inflação e que desprezam a política monetária. Mas, desta vez, a crítica partiu nada menos de uma instituição respeitada pelos mercados financeiros: a agência internacional de classificação de risco Standard&Poor’s.

Feroz em toda parte do mundo, no Brasil o mercado financeiro é ainda mais, é sanguinário.

Exige superávits – que são necessários – mas não tem o menor pudor em esconder que os encargos financeiros (leia-se, taxa de juros) representam quase quatro vezes o déficit na conta receita/despesa não financeira. E tem que ser coberto da mesma maneira, com a emissão de dívida.

Tivemos anos e anos sob Fernando Henrique Cardoso com as despesas estatais sufocadas, investimento perto de zero e a entrada, afinal dilapidada, dos recursos de uma privatização sem freios. No entanto, nossa dívida subiu como nunca por conta de juros estratosféricos, muito mais até do que os que temos hoje.

Não serão juros altos – e isso se provou ao longo do final de 2014 e de todo 2015 – que vão segurar a inflação brasileira. Não existe inflação de demanda no Brasil, nem mesmo de demanda por crédito que poderia ser contida por isso.

Se não podemos controlar fatores externos, como a queda acentuada no preço das commodities, há fatores internos que podem ser amenizados no curto prazo: o retorno ao um mínimo de estabilidade politica – e por isso trabalham tanto contra ela – o alívio na pressão de custos sobre a energia provocada pela seca de dois anos que parece estar sendo encerrada, além da absorção do impacto da variação cambial, praticamente concluída.

O Governo precisa, sim, focar no destravamento dos setores que possam replicar rapidamente no nível de atividade econômica, como a infraestrutura e a construção civil. Geram emprego e renda que se refletem em outros setores da economia.

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