O efeito Kataguiri na redação da Folha. Por Pedro Zambarda
por : Pedro Zambarda de Araujo
“O cara estuda quatro anos de jornalismo, passa por aulas que nem quer frequentar, fica várias noites sem dormir em cima de uma reportagem pra perder o emprego pro Kim Kataguiri”, diz uma entre milhares de menções ao líder do Movimento Brasil Livre (MBL) no Twitter.
As piadas em torno de sua contratação como novo colunista da Folha viralizaram.
Mas dentro da Folha de S.Paulo a coisa não está tão divertida. A colunista Laura Carvalho, professora do Departamento de Economia da FEA-USP com doutorado na New School for Social Research (NYC) se manifestou com ironia, conversando com Gregório Duvivier no Twitter. “Parabéns! Dividiremos espaço na Folha com Kim Kataguiri. Não consigo imaginar nada mais gratificante”, disse, para depois apagar a mensagem. Duvivier respondeu no mesmo tom: “Desculpa, Laura, não sei quem é”.
Laura não é a única. Repórteres do jornal me contam que nunca uma contratação foi tão lamentada e ridicularizada na própria empresa.
Katakury estreou com um texto chamado “Passe livre para o terrorismo”, atacando o MPL.
“No protesto do Movimento Passe Livre da última quinta-feira, uma bomba caseira foi lançada dentro da estação Consolação do metrô, deixando um funcionário ferido. No dia seguinte, nenhum espanto. Havia sido apenas mais um protesto do MPL”, mentiu, inventando um episódio que simplesmente não aconteceu.
Com erros desse naipe e um discurso inflamado apelando para a “zoeira”, os leitores da Folha ganharam uma propaganda do Movimento Brasil Livre. KK fará companhia a expoentes da direita como Reinaldo Azevedo e o senador do DEM, Ronaldo Caiado.
“Kim Kataguiri, o jovem e sábio homem cujo maior feito foi emular uma espécie de Coluna Prestes às avessas acompanhado de meia dúzia de retardados, agora é colega”, disse uma de minhas fontes.
No HuffPost, KK escreve de graça por causa da política editorial da publicação, que prioriza os salários para repórteres e editores e aceita gratuitamente textos de colaboradores, que são divulgados à esquerda dentro da homepage original.
Na Folha, segundo me contaram, ele estaria recebendo 15 mil reais. Um jornalista chegou a postar uma série de desabafos em sua conta de Facebook. “O cara nunca saiu das teorias do liberalismo clássico do século XIX, o que mostra a superioridade de um Rodrigo Constantino em relação a ele. Até o Olavo de Carvalho xingando no twitter é mais inteligente que isso, porque esse cara já até mandou foto de bunda pra jornalista”, escreveu, em diferentes posts.
No dia seguinte, com medo de ser demitido, ele retirou as mensagens do ar.
Um levantamento do site Comunique-se apontou que pelo menos 1400 jornalistas foram dispensados no ano de 2015. O Grupo Globo promoveu cortes de pelo menos 185 profissionais, principalmente entre os seus jornais, enquanto o Estadão demitiu 97 pessoas. A Folha de S.Paulo cortou 19 pessoas.
“Parabéns, Folha, agora dá pra mudar o seu slogan: não dá mais pra ler”, escreveu outro jornalista. É a meritocracia ao estilo Kataguiri.
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