Carlos Augusto de Araujo Dória, 82 anos, economista, nacionalista, socialista, lulista, budista, gaitista, blogueiro, espírita, membro da Igreja Messiânica, tricolor, anistiado político, ex-empregado da Petrobras.
Um defensor da justiça social, da preservação do meio ambiente, da Petrobras e das causas nacionalistas.
sexta-feira, 30 de setembro de 2016
POLÍTICA - Ainda a participação da Jandira no debate.
ornalista e escritor Paulo Moreira Leite é diretor do 247 em Brasília
Os brasileiros tiveram uma lição inesquecível sobre a vida num país
onde não existe uma mídia livre, mas um conglomerado de emissoras que
tratam a democracia como extensão da sala de visitas de suas empresas. Os brasileiros tiveram uma lição inesquecível sobre a vida num país
onde não existe uma mídia livre, mas um conglomerado de emissoras que
tratam a democracia como extensão da sala de visitas de suas empresas. Estou falando da reação da apresentadora Ana Paula Araújo diante da
observação de Jandira Feghalli sobre o papel da TV Globo no golpe que
derrubou Dilma Rousseff. Na abertura do debate entre candidatos a
prefeito do Rio de Janeiro, Jandira fez uma declaração sobre o papel da
emissora no impeachment. Lembrou que a Globo “apoiou o golpe contra a
democracia, contra uma mulher eleita, cassada sem cometer crime”. Muito provavelmente orientada através do ponto eletrônico pela
direção de jornalismo da casa, o que é natural numa situação como esta,
Ana Paula afirmou que a realização do debate era uma demonstração de
“apreço pela democracia”. Falou que a Globo não era "obrigada" a fazer
debates -- sugerindo que podia tratar-se de um favor. Em seguida,
prosseguiu: “Não é a TV Globo que está sendo avaliada. É apenas escandaloso. Podemos até admitir que -- em parte graças a
inesquecíveis contribuições da própria TV Globo -- a política brasileira
atingiu um nível de avacalhação com poucos paralelos em nossa história. Mas nem por isso um debate entre candidatos a prefeito da segunda
maior cidade brasileira, alvo de reverência internacional após as
Olimpíadas e as Paralimpíadas, pode ser tratado como uma réplica da
Escolinha do Professor Raimundo. Candidatos a cargos públicos não podem
ser tratados como atores dóceis, que recitam um texto em troca do acesso
uma platéia imensa. Não são repórteres pautados e orientados. Tampouco
são humoristas, ainda que muitos sejam acima de tudo risíveis. São
protagonistas da vida real de um país, um Estado, uma cidade. Estão ali como expressão da soberania popular, base dos poderes da
República, como se aprende no artigo 1 da Constituição. Não podem ser
comandados, censurados, nem orientados. Muito menos, para proteger a
imagem de uma empresa privada, sujeita às chuvas e trovoadas naturais a
todo debate político. Vamos falar francamente. Depois que o papel vexaminoso da Globo no
golpe de 31 de agosto motivou centenas, talvez milhares, de cartazes
exibidos nas passeatas de protesto, tentar esconder essa situação num
debate sem censura é o máximo de arrogância. Outro aspecto. Uma emissora de TV não tem o direito de tentar
interferir diretamente num debate dessa natureza, como parte
interessada, muito menos de forma acintosa. Pode manifestar seu
desagrado como quiser e, pelo regime de monopólio que usufrui --
condenado pela Constituição -- escolher manifestar pela radio AM ou FM,
pelo jornal Extra, pelo Globo, pelo Valor Econômico, pela revista
Época... Mesmo que tenha preferências políticas óbvias, sempre negadas pelos
manuais da hipocrisia, não lhe cabe dizer qual o tema é pertinente num
debate, qual não é. Isso é responsabilidade dos candidatos, que não estão ali como amigos
nem como convidados – mas como homens públicos, com convicções e
responsabilidades, que disputam a atenção do eleitor para conseguir seu
voto. Tanto é assim que não basta registro para entrar na discussão. É
preciso legitimidade junto a uma parcela mínima de eleitores. Se há alguma instituição capacitada para estabelecer limites ao que
se diz no ar – eu acho que em eleição não há nem deveria haver – é a
Justiça eleitoral, não a jurisprudência de um grupo econômico. Frequentemente embriagada com sua audiência, com o preço milionário
que consegue cobrar pelos anúncios publicitários, em especial de
empresas públicas e, acima de tudo, pela reverência covarde que recebe
da maioria de nossos homens públicos, a emissora costuma veicular – como
fez pela boca de Ana Paula Araújo -- a noção de que está prestando um
favor aos brasileiros quando promove um debate eleitoral. Errado. Ainda que a maioria de nossos homens públicos tenha se habituado a
prestar reverência às emissoras de TV desde sempre, em particular desde
1988, quando aliados do monopólio privado dos meios de comunicação
ocuparam a Constituinte para derrubar todos artigos favoráveis a
democratização da mídia, elas são concessionárias do Poder Executivo.
Isso quer dizer que podem ter suas licenças cassadas no prazo de dez
anos – ou até enfrentar uma suspensão, em determinados casos. Ou perder
receitas publicitárias de empresas públicas garantem o pão de cada dia –
mesmo na campeã de audiência. Não vamos nos iludir, amigos. A atitude de Jandira Feghali foi um ato
de coragem que só ocorre de tempos em tempos. Mostrou que o rei está nu
– e por isso a reação foi rápida e direta, ainda mais numa conjuntura
em que a coalização golpista não consegue esconder sinais de fraqueza. Nada a lamentar. Só a postura dos demais candidatos, que perderam uma
ótima oportunidade para entrar no assunto e discutir uma questão de
particular relevância para a vida dos cariocas, habitantes de uma cidade
na qual a TV Globo tenta sobreviver como uma aristocracia em tempos
democráticos.
Nenhum comentário:
Postar um comentário