Obama Barack e McCain estiveram em Miami prometendo "mundos e fundos" para a comunidade anti-castrista. Espero que passadas as eleições, atendam o desejo da maioria dos americanos que desejam o diálogo com países do "eixo do mal".
Carlos Dória
Argemiro Ferreira.
Embora sejam poucas - ou insuficientemente divulgadas - as pesquisas nos EUA sobre política externa, quando elas são feitas costumam desmentir o propalado desinteresse dos americanos pela questão. Agora, por exemplo, foi surpreendente o resultado de pesquisa feita pelo Chicago Council on Global Affairs, que expôs um apoio significativo a substancial correção de curso.
Depois dos oito anos de belicismo e agressividade do governo Bush no mundo (veja o presidente na foto ao lado, fingindo que é piloto de guerra), nada menos de 88% dos democratas e 81% dos próprios republicanos estão convencidos de que chegou a hora de mudar. Os EUA, segundo respondeu segmento esmagador dos que se inclinam pelos dois partidos, deviam melhorar a postura e fazer mudanças na política externa, mesmo em relação a certos temas sensíveis.
A marcha-a-ré positiva foi defendida como “muito importante”, devendo incluir até conversas com líderes de governos hoje rotulados de “inamistosos”, como os de Cuba (70% apoiam tal retomada do diálogo), Coréia do Norte (68%), Irã (65%), Birmânia (63%) e Zimbabwe (61%). Ao mesmo tempo, foi expressiva a maioria (67%) contrária a um compromisso por tempo indeterminado no Iraque.
Melhorar a imagem no mundo
Segundo Marshall M. Bouton, presidente do Chicago Council (fundado em 1922 e chamado antes de Chicago Council on Foreign Relations), os americanos continuam comprometidos com um engajamento internacional do país e querem ainda “que os esforços internacionais sejam mais concentrados e seletivos”, com ênfase no “arsenal diplomático para a solução de conflitos”.
Na pesquisa, as pessoas foram solicitadas a qualificar o nível de importância de 14 metas relacionadas para a política externa. Para 83% a meta “melhorar a postura dos EUA no mundo” foi considerada “muito importante”. Foi a que recebeu mais apoio nesse primeiro nível, ficando até acima do ítem “proteger os empregos dos trabalhadores americanos”, que teve o respaldo de 80%.
Segundo o Chicago Council (leia AQUI, em documento PDF, a íntegra da pesquisa) os americanos estão preocupados com a perda de influência dos EUA no mundo nos últimos anos. Para 53% das pessoas ouvidas, houve queda na capacidade do país de alcançar suas metas de política externa. Apenas 10% disseram que essa capacidade aumentou. Os americanos, afinal, parecem conscientes do efeito negativo das políticas e das guerras de Bush.
A pesquisa foi feita antes de ser anunciada a repentina mudança do governo, que passou a admitir um cronograma para a retirada de tropas do Iraque. Mas já então a grande maioria dos entrevistados manifestou-se a favor de um cronograma de retirada em período não superior a dois anos: 24% defenderam uma retirada “imediata”; e 43% preferiram uma retirada no prazo máximo de dois anos.
Adesão a tratados internacionais
Somente 32% das pessoas ouvidas declararam-se a favor da permanência das tropas de combate “por tanto tempo quanto seja necessário para estabelecer um Iraque mais estável e seguro”. Sobre o Iraque, a divisão dos entrevistados em linhas partidárias ficou clara: 58% dos republicanos (e apenas 9% dos democratas) apoiaram uma permanência indefinida das tropas - aparentemente, na linha do candidato Joe McCain, que falou em ficar “até 100 anos, se necessário” (veja AQUI quadros oficiais das baixas de soldados americanos e civis iraquianos na guerra).
A maioria dos americanos ouvidos na pesquisa do Chicago Council considerou ainda que a guerra foi um erro lamentável. Para 59%, a ameaça do terrorismo não diminuiu em consequência da guerra. E nada menos de 76% concordaram em que o conflito “custou centenas de bilhões de dólares que poderiam ter sido usados em programas nos EUA, resolvendo graves problemas internos.
Apesar da grande procupação dos americanos com o envolvimento de suas forças no Iraque, a pesquisa mostrou também que maioria substancial apóia vigorosamente a participação em tratados e acordos internacionais aos quais o governo Bush deixou de aderir nos últimos anos. E 88% disseram que os EUA deviam assinar o tratado de proibição ampla dos testes nucleares.
A presença das bases militares
Mais dois tratados tiveram o apoio da grande maioria dos americanos: 76% declararam-se favoráveis a um novo tratado sobre as mudanças climáticas (os EUA estão fora do Protocolo de Kyoto) e 68% gostariam que o país aderisse ainda ao acordo de Roma, que criou o Tribunal Penal Internacional para julgar acusados de crimes de guerra, genocídio e crimes contra a humanidade (veja AQUI a lista dos 108 países que aderiram ao estatuto de Roma, boicotado pelo governo Bush).
Uma maioria de 56%, também bipartidária, é favorável a um acordo com Teerã sobre o programa nuclear iraniano, caso o governo daquele país concorde com inspeções da ONU e acesso permanente dos inspetores às instalações. Segundo os entrevistados, sob essa condição o Irã devia ser autorizado a continuar produzindo combustível nuclear para a geração de eletricidade.
Apesar de tanto apoio a mudanças na política externa, os entrevistados não dispensaram uma “presença robusta dos EUA no mundo”: 63% apoiam um papel ativo nos assuntos mundiais e a manutenção de poderio militar superior; e 57% consideraram ser essa uma meta “muito importante” na política externa. Também a manutenção de bases militares pelo mundo teve largo apoio.
Fonte: Blog do Argemiro Ferreira.
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