sexta-feira, 19 de setembro de 2008

CRISE AMERICANA - Estados Socialistas da República da América.

“A transformação dos Estados Unidos em USSRA (Estados Unidos Socialistas da República da América) já ocorreu. Os camaradas Bush, Paulson e Bernanke simplesmente socializaram os prejuízos dos ricos.” Esta é a síntese do mordaz colunista de CartaCapital e professor da New York University, Nouriel Roubini, sobre o enterro dos cânones neoliberais e a operação salva-bancos desencadeada pelo Tesouro americano.

O economista enumera a série de atitudes para tirar o sistema do atoleiro, que terá um custo fiscal a ser pago pelos contribuintes dos países envolvidos: o resgate das companhias hipotecárias Fannie Mae e Freddie Mack, a ajuda financeira aos credores do banco de investimentos Bear Stearns, a compra da maior seguradora mundial, American International Group (AIG), e os bilhões de dólares emprestados a preço de banana ao mercado na tentativa de preservar o santuário da riqueza americana.

Na quinta-feira 18, os bancos centrais mundiais despejaram mais caminhões de dinheiro no sistema, na tentativa de evitar o temor de quebradeira em cascata. O Fed anunciou mais 180 bilhões de dólares de linha de financiamento. O Banco da Inglaterra, 45 bilhões de dólares. O Banco Central Europeu, 55 bilhões, acompanhados de iniciativas semelhantes por seus pares asiáticos.

O paradoxo é que toda essa confusão foi criada por um bando de fanáticos que rezavam pela cartilha ideológica de um laissez-faire descontextualizado historicamente, ao impor suas próprias regras, regulação e supervisão. Tudo sob a complacência dos hoje “neobolcheviques” Henry Paulson (Tesouro), Ben Bernanke (Federal Reserve) e George Bush (Presidência), além das agências de classificação de riscos. Sem contar Alan Greenspan, antecessor de Bernanke, cultuadíssimo nos anos de forte expansão do PIB dos EUA, mas cuja leniência na “era dourada” permitiu que esta bolha crescesse a uma proporção assustadora. Não por acaso, a maior crise desde a Grande Depressão da década de 30 ocorreu na administração republicana de George W. Bush. E as respostas intervencionistas também. “Quem antes no governo apoiaria a estatização com tanta ênfase?”, provoca James Galbraith, professor da Universidade do Texas. Assistimos ao retorno do Estado forte nas atividades econômicas, com Bush no papel de porta-voz do novo socialismo.

Quanto ao futuro, é óbvio que não teremos um novo boom de crédito, diz o economista. “O futuro está nas mãos de um Estado responsável, especialmente no que se refere a políticas fiscais conseqüentes.” Ninguém nem discute mais a ausência de um Estado forte, afirma. “John McCain vai perder as eleições, porque continua a distribuir conselhos, como os republicanos faziam há vinte anos ao Brasil. Não haverá tempo de mudar o discurso agora”, aposta. Em tese, Barack Obama ganha eleitoralmente com o aprofundamento da crise. Acontece que nem os democratas parecem saber o que fazer para sair da enrascada. As intervenções públicas de Obama têm sido tímidas, até agora. Pouco incisivas.
Fonte: Carta Capital.

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