terça-feira, 9 de setembro de 2008

A IV ESQUADRA DESTRUIU O IMPÉRIO.

Sim, a IV Esquadra acaba de afundar o Império, o livro de Michael Hardt e Antonio
Negri demonstrando, mais uma vez, que as respostas da história são impiedosas com
as modas intelectuais que, no seu tempo, brilhavam como indiscutíveis ou irrefutáveis.
A nefasta tese que aqueles autores propunham – pensar que existia um «império sem
imperialismo» foi sepultada pelos factos. Que descanse em paz.
Um pouco de história
Poderia argumentar-se: a quem interessa a morte de um desvario de dois intelectuais?
Resposta: a muita gente e especialmente, às forças sociais que lutam pela construção
de um mundo melhor, por uma sociedade socialista. Para compreender melhor o
porquê desta resposta convém fazer um pouco de história. Precisamente quando o
neo-liberalismo começou a sofrer os embates duma resistência que no início deste
século se estendia pelas mais diversas latitudes, apareceu o livro de Hardt e Negri. De
imediato a obra foi saudada por toda a imprensa imperialista mundial como o novo
«Manifesto Comunista» do século XXI; um manifesto que, ao contrário do seu
predecessor, escrito por Marx e Engels século e meio antes, demonstrava a sua
sensatez ao fulminar sem atenuantes os dinossauros que ainda falavam do
imperialismo, acreditavam que as transnacionais se apoiavam no poderio dos estados
nacionais e que estes, longe de estarem em vias de extinção, se fortaleciam no
capitalismo metropolitano, ao mesmo tempo que se debilitavam na periferia do sistema.
Um curioso manifesto comunista, em cujas páginas brilhavam pela sua ausência as
contradições de classes, a dialéctica e a revolução, e que erigia como modelo de luta
contra o fantasmagórico império... o bom São Francisco de Assis! (de quem se dizia
que amansava os lobos famintos com o som do seu violino) e relegando para o museu
dos arcaísmos revolucionários figuras como Che Guevara, Fidel, Lenine, Mao e Ho Chi
Mihn, entre tantos outros. Por várias razões, que não vem ao caso expor aqui, a
influência destes disparates nas primeiras reuniões do Fórum Social Mundial de Porto
Alegre foi enorme, e os que objectávamos contra as teses de Hardt e Negri tivemos de
remar contra a maré para conseguir que nos ouvissem. Muitos dos que nos impediram
um debate profundo sobre este assunto acabaram como representantes ideológicos
dos sinuosos governos de centro-esquerda que, pouco tempo depois, se instalariam na
região [América Latina].
Não era fácil contestar os argumentos de um pensador senhor de uma trajectória
marxista tão longa como Toni Negri. Império, escrito conjuntamente com o estadounidense
Michael Hardt – um professor de Teoria Literária da Universidade de Duke –
é um livro volumoso, arrevesado e por vezes críptico (ou confuso, se não quisermos
ser tão benévolos) cuja tese central: «o império não é imperialista» soou como música
celestial aos imperialistas Não causou surpresa, portanto, o dilúvio de elogios com que
o livro foi recebido pelo mundo «bem pensante» e pela indústria cultural do império:
não é todos os dias que dois autores que se auto-denominam «comunistas» defendem
uma tese tão grata e tão coerente com os desejos e os interesses dos imperialistas de
todo o mundo, e muito especialmente com os da «Roma americana», no dizer de José
Martí, que reporta os fundamentos materiais, militares e ideológicos sobre os quais
repousa todo o imperialismo como sistema.
A interminável sucessão de erros e confusões que se derramam ao longo do livro –
salpicadas, é verdade, com uma ou outra observação mais ou menos razoável – foi
objecto de numerosas críticas. Pensadores marxistas das mais diversas correntes
questionaram e refutaram essa obra [1]. Pelo nosso lado, assumimos como uma
exigência da militância anti-imperialista, dedicar um tempo precioso a escrever um
pequeno livro destinado a rebater as teses centrais de Imperio e a procurar contribuir
para neutralizar a profunda confusão ideológica em que, por causa delas, tinham caído
os movimentos da alter-globalização.
Acontece que, em linha com o discurso predominante do neo-liberalismo e sob uma
retórica de esquerda, o livro de Hardt e Negri contrariava, com uma insuportável
mescla de ignorância e soberba, toda a evidência empírica fornecida por numerosos
estudos sobre a dominação imperialista e suas consequências. Além da disparatada
tese central, de um império sem relações imperialistas de dominação, saque e
exploração, também se afirmava que o império carece de um centro, não tem um
«quartel-general» nem posto de comando e nem sequer se sustenta sobre base
territorial alguma; muito menos pode dizer-se que conte com o apoio de um Estado
nação. Para Hardt e Negri, o império é uma benévola constelação de múltiplos poderes
sintetizados num regime global de soberania, permanentemente posta em xeque por
uma fantasmagórica «multidão», uma vaporosa ou líquida, no dizer de Zigmunt
Bauman, agregação altamente instável e mutável, de sujeitos que, por um
incompreensível paradoxo, eram simultaneamente os verdadeiros criadores do império
e podiam ser os seus eventuais coveiros, se por milagre, lograssem curar-se da
esquizofrenia que os conduzira a criar algo que os oprimia e que, por outro lado,
queriam destruir.
Por tudo o que atrás se diz, poucas imagens poderiam ser mais do agrado do governo
dos Estados Unidos e das classes dominantes desse país e seus aliados em todo o
mundo, que esta embelezada visão das suas quotidianas tropelias, crimes, atropelos e
o genocídio que lenta e silenciosamente praticam, dia após dia, nos quatro cantos da
terra, e muito especialmente no Terceiro Mundo. Poucas, também, poderiam ter sido
mais oportunas em momentos em que os Estados Unidos se haviam convertido na
potência imperialista mais agressiva e poderosa da história da humanidade e no estado
nação imprescindível e insubstituível para sustentar com a sua formidável maquinaria
militar, a sua enorme gravitação económico-financeira, o fenomenal poderio da sua
indústria cultural (desde Hollywood até às suas universidades, passando pelos seus
fóruns de pensamento e os meios de comunicação de massas e, last but not least, o
seu controlo estratégico da Internet, não compartilhado sequer com a União Europeia
ou o Japão), e toda a arquitectura do sistema imperialista mundial.
A IV Esquadra entra em cena
Ora bem, se alguma prova faltava para invalidar irreparavelmente as teses centrais de
Império (e para convencer os mais recalcitrantes do carácter insanavelmente erróneo
desse livro) a reactivação ordenada pelo governo dos Estados Unidos da IV Esquadra,
trouxe a evidência necessária para encerrar definitivamente o caso. Ferido de morte
pela invasão e ocupação estado-unidense do Iraque, onde um Estado-nação conduziu
a golpada que, à velha maneira imperialista, arrasaria esse país para se apoderar das
suas riquezas petrolíferas e favorecer as «suas transnacionais», Império sucumbiu
definitivamente perante a nova iniciativa ordenada pelo Departamento de Defesa em
Abril de 2008 [3].
Desactivada desde 1950, a IV Esquadra (dos Estados Unidos, não de um poder “global
e abstracto” ou das Nações Unidas, como Hardt e Negri nos induziriam a crer) foi tirada
da sua letargia com o mandato específico de patrulhar a região e monitorizar os
acontecimentos que se possam produzir no vasto espaço formado pela América Latina
e Caribe. Não só se trata de controlar o litoral marítimo no Atlântico e no Pacífico, como
também – descaíram-se a dizer com evidente imprudência – poderia inclusive navegar
pelos caudalosos rios interiores do continente com o propósito de perseguir
narcotraficantes, apanhar terroristas e desenvolver acções humanitárias que
provocariam a inveja da Madre Teresa de Calcutá. Não é preciso ser muito perspicaz
para se dar conta que a penetração da IV Esquadra pelo Amazonas e seu eventual
estacionamento nesse rio outorgaria um sólido apoio militar à pretensão norteamericana
de converter essa região num «património da humanidade sob supervisão
das Nações Unidas». Tão pouco se requer demasiada imaginação para antever o que
poderia significar a navegação da IV Esquadra pelos grandes rios sul-americanos
(sozinha ou com o auxílio das forças locais aliadas do imperialismo) para manietar e
subjugar a que, num trabalho recente, Perry Anderson qualificou como a região mais
rebelde e resistente ao domínio neo-liberal do planeta.
Com esta iniciativa, os Estados Unidos, o centro indiscutido do império e locus onde
reside o seu quartel-general, vem completar pelos mares e rios o que já havia sido
parcialmente obtido mediante a instalação na nossa geografia de uma série de bases e
«missões militares» e pelo seu predomínio aéreo e do espaço exterior, especialmente
no terreno dos satélites: o controlo integral do que os especialistas em geopolítica dos
Estados Unidos chamam a grande ilha americana. Graças ao Plano Colômbia (e em
menor medida ao Plano Puebla-Panamá) e às numerosas bases militares com que
conta na região, Washington detém um decisivo e exclusivo controlo territorial que se
estende do México, no Norte, e chega até à Tripla Fronteira, com a Base Mariscal
Estigarribia no Paraguai, e inclusive até à própria Terra do Fogo, no extremo Sul da
Argentina, onde também há pessoal militar norte-americano [4].
Uma nota produzida há poucos meses por Stella Callón, informa que o governo da
província argentina da Terra do Fogo emitiu um decreto cedendo terras «para a
instalação de uma base estado-unidense que se supõe realizará “estudos nucleares
com fins pacíficos”». Esta decisão do governo provincial apoia-se numa lei aprovada
em 1998 pela Câmara de Deputados da Nação, durante a presidência de Carlos
Menem, em cujos anexos se contempla que «poderão realizar-se explosões nucleares
subterrâneas com fins pacíficos». O decreto do executivo local autoriza a instalação de
uma base do Sistema Internacional de Vigilância para a Prevenção e Proibição de
Ensaios e Explosões Nucleares... e habilita «os integrantes desta base com o livretrânsito
pela província, se assim o requererem os seus estudos». Por último, anota
Calloni que existe o perigoso antecedente da «imunidade total» que o Paraguai
outorgara, em 2005, às tropas estado-unidenses radicadas nesse país» e que motivara
a condenação unânime dos organismos defensores dos direitos humanos em toda a
América Latina [5].
Resumindo: na actualidade, o controlo que os Estados Unidos detêm do espaço aéreo
latino-americano é absoluto e inexpugnável, tendo em conta a sua enorme
superioridade tecnológica que, entre outras coisas, lhe permitiu organizar e ajudar a
executar, passo a passo, a enigmática “operação resgate” de Ingrid Betancourt e dos
outros «reféns de ouro» que as FARC tinham em seu poder [6]. A isto deve
acrescentar-se a sua presença territorial e, agora, agregar-lhe o domínio dos mares,
com o qual o círculo se encerra sobre a América Latina e o Caribe. Círculo que se
estreita cada vez mais para os quatro governos que na nossa região estão travando
uma batalha diária e sem quartel contra o imperialismo: Cuba, Venezuela, Bolivia e
Equador.
Missões declaradas e latentes
Uma versão «cândida» da missão da IV Esquadra (apta para consumo das boas almas
incapazes de reconhecer a maldade) ofereceu-a há poucas semanas o Almirante
James Stavridis. Numa nota, reproduzida nos principais periódicos da América Latina,
este militar defende que «o restabelecimento da IV Esquadra» é um reconhecimento à
«excelente cooperação, amizade e mútuo interesse nas Américas entre a nossa
armada e as armadas de toda a região». Depois de assegurar que «não há navios
permanentemente afectadas à IV Esquadra… e não terá nenhum navio porta-aviões»
destacou que entre as principais operações marítimas que poderiam levar a cabo com
as armadas da região, incluem-se, (significativamente em primeiro lugar) «a assistência
humanitária …, o apoio às operações de paz, a assistência nas situações de desastres
e as operações de auxílio, nas operações anti-droga e …de cooperação regional e de
treino inter-operacional» [7].
É evidente que a linguagem usada por Stavridis não por acaso tem a suficiente
ambiguidade para ocultar as verdadeiras intenções que se ocultam detrás de tão
significativa decisão. É concebível pensar que os Estados Unidos vão reactivar a IV
Esquadra para oferecer «assistência humanitária» à América Latina e ao Caribe?
Ninguém pode acreditar em semelhante coisa, porque para isso não é precisa uma
esquadra naval e além disso porque semelhante rasgo de altruísmo jamais figurou na
agenda da política exterior estado-unidense. Esta política continua fiel ao velho dictum
de John Quincy Adams, sexto presidente dos Estados Unidos, quando afirmou que
esse país «não tem amizades permanentes, mas sim interesses permanentes».
Esta política, portanto, pouco tem de novo. A Doutrina Monroe, formulada em 1823 - ou
seja, um ano antes da batalha de Ayacucho que complementaria a primeira etapa da
luta pela independência dos nossos povos! - apontava nessa direcção e reafirmava o
«interesse permanente» dos Estados Unidos em controlar e dominar a América Latina.
Tal como assinala o historiador Horacio López, em fins do século XIX um oficial da
Armada estado-unidense, Alfred Thayer Mahan, aperfeiçoaria no plano da geopolítica
as recomendações que emanam da Doutrina Monroe [8]. A preocupação de Mahan
surgiu como resposta perante a problemática colocada pela guerra hispano-americana
que culminou, no Caribe, com a incorporação de Cuba e de Porto Rico à sua
hegemonia (ainda que sob diferentes condições) e a estratégia que os Estados Unidos
deviam por em prática para assegurar o seu indisputado predomínio no Caribe, definido
a partir de então como o Mare Nostrum estado-unidense. Contrariando as
interpretações dominantes no seu tempo, Mahan defende que a extensão do poder
continental dos Estados Unidos passava pelo controlo global dos oceanos e das linhas
de comunicações marítimas, o que exigia a construção de uma poderosa esquadra
militar e mercantil. A partir destas premissas, Mahan, observa López, evidenciou a
necessidade de construir um canal no Centro-América para permitir, em caso de
conflitos, o rápido traslado da esquadra de guerra estado-unidense de uma costa à
outra, dado que a travessia pelo estreito de Magalhães consumia, nessa época, mais
de sessenta dias de navegação.. Uma vez construído o canal, suscitar-se-ia o
problema da sua defesa para evitar que caísse em mãos inimigas. López cita o
sociólogo porto-riquenho Ramón Grosfoguel, que afirma que «como uma maneira de
assegurar a defesa do futuro canal, Mahan recomendou que antes de o construir, os
Estados Unidos deviam adquirir o Hawai e controlar militarmente as quatro rotas
marítimas caribenhas a noroeste do canal: o Paso de Yucatán (entre Cuba e México); o
Paso de los Vientos (a principal rota norte-americana de acesso ao canal entre Cuba e
o Haiti); o Paso de la Mona (entre Porto Rico e a República Dominicana) e o Paso de
Anegada (perto de St. Thomas nas águas orientais de Porto Rico). Mahan recomendou
às elites norte-americanas a construção de bases navais nestas zonas como passo
prévio à construção de um canal e como passo indispensável para transformar os
Estados Unidos numa super potência» [9].
Se examinarmos o itinerário da política exterior desse país, poderemos comprovar que
as recomendações de Mahan não caíram em saco roto: os Estados Unidos
apoderaram-se de Cuba e de Porto Rico e, indirectamente, das pequenas nações do
Caribe e da América central; fizeram o mesmo com o arquipélago do Hawai em 1898 e
pouco depois apropriaram-se das Filipinas, das Ilhas Marianas e de outras possessões
no Pacífico Ocidental. Todo este esforço foi coroado com a cuidadosamente planeada
secessão da província norte colombiana do Panamá, em 1903, e a assinatura de um
tratado que permitiria a construção do Canal, que seria inaugurado em 1914 [10].
Nessa oportunidade, as autoridades «independentes» do Panamá concederam aos
Estados Unidos os direitos a perpetuidade do canal e uma ampla zona de 8
quilómetros de cada lado, a troco de uma soma de 10 milhões de dólares e duma
renda anual de 250 000 dólares. Esta situação seria modificada graças ao Tratado
Torrijos-Carter, assinado em 1977, e que devolveria o Canal à soberania panamiana
em 31 de Dezembro de 1999.
Desta sumária descrição, surge com bastante clareza a coerência da política externa
da Casa Branca para a América Latina, o papel importantíssimo desempenhado pela
Armada e, em consequência, a muito fundada suspeita que a reactivação da IV
Esquadra é chamada a desempenhar um papel muito mais importante que o anunciado
pela propaganda oficial. Por outras palavras, que a sua missão verdadeira pouco tem a
ver com a manifestamente declarada.
Sabemos por experiência os problemas de definição em que esbarra quem pretenda
decifrar o significado de «segurança regional», «terrorismo» e «narcotráfico» quando
estas expressões são propostas nos discursos ou documentos oficiais do governo dos
Estados Unidos. Quem quer que se oponha aos desígnios imperiais, pode ser
fulminado com o qualificativo de terrorista ou narcotraficante ou, mais fácil ainda, como
«cúmplice» daqueles. O argumento da luta contra o narcotráfico não é só falso; é
também cómico. O Afeganistão e a Colômbia, dois países onde a presença norteamericana
é esmagadora (poderia dizer-se inclusive que, sobretudo no primeiro caso,
são países «ocupados» militarmente por Washington) não é por acaso que registam
nos últimos anos uma vigorosa expansão do cultivo de papoila e coca e, além disso, o
tráfico de substâncias proibidas, o que não deixa de parecer insólito que ocorra sob a
zelosa vigilância dos que agora se arrogam a responsabilidade de combater o
narcotráfico na América Latina. Um estudo recente conclui que a invasão e ocupação
do Afeganistão desde Outubro de 2001, «não destruiu a economia da droga nesse
país. Pior ainda, o Afeganistão voltou a converter-se no maior produtor mundial de ópio
… e a cultura da papoila expandiu-se por todas as províncias do país e representa 92
% do ópio produzido em todo o mundo e aproximadamente 90 % de toda a heroína
consumida». E no que toca ao caso colombiano, os autores defendem que «apesar de
anos de campanhas de erradicação, a produção e fornecimento de drogas ilegais
permaneceram estáveis na região» [11]. O relatório de 2008 da Organização das
Nações Unidas contra a Droga e o Crime (UNODC), revela que em 2007 a colheita de
papoila no Afeganistão foi a maior desde que existem registos estatísticos e que a
produção de ópio duplicou entre 2005 e 2007. Ali se assinala ainda que, nesse país,
também se verifica uma impetuosa expansão do cultivo de marijuana [12].
E na Colômbia estima-se que no último ano, a superfície semeada com coca se
incrementou em 27 por cento, apesar das campanhas de pulverização, da presença de
tropas norte-americanas e das políticas de «combate» ao narcotráfico delineadas pelo
governo colombiano mancomunado com a Casa Branca. Perante a contundência
destes factos, quem poderia ser tão ingénuo para crer que a IV Esquadra levantaria
âncora para perseguir narcotraficantes quando sob a protecção das tropas norteamericanas,
o cultivo e tráfico de estupefacientes floresce no Afeganistão e na
Colômbia? O que a experiência sugere é que, quase de certeza, uma das suas
principais missões será organizar o tráfico de drogas, de modo tal que o lucro
arrecadado acabe por ser canalizado para a banca norte-americana encarregada de
lavar o dinheiro sujo.
O pretexto da luta anti-terrorista contra o radicalismo islâmico é tão pouco convincente
como o anterior. Com excepção dos atentados à Embaixada de Israel e à AMIA,
ocorridos em Buenos Aires nos princípios dos anos noventa (e cuja génese,
responsáveis e executores ainda se encontram na sombra graças à pasmosa
ineficácia, ou corrupta cumplicidade, de alguns funcionários do Estado argentino, nos
seus diferentes ramos) não existe na região actividade alguma comprovada de células
vinculadas à Al Qaeda ou a outra organização similar. A luta contra o terrorismo
internacional deveria ter lugar em Washington, pois ali se encontram os seus principais
responsáveis: a escandalosa protecção oficial concedida ao terrorista comprovado e
confesso Luís Posada Carriles e a não menos escandalosa detenção, em condições
inumanas que não se aplicam nem ao mais desalmado criminoso, dos cinco jovens
cubanos que se infiltraram nas organizações terroristas sedeadas em Miami, retiram
por completo a mais mínima pretensão de verdade ao proclamado objectivo da Casa
Branca de combater o terrorismo [13].
Quanto às intenções humanitárias da IV Esquadra, não deixam de ser um simples
pretexto para encobrir as suas verdadeiras e inconfessáveis intenções: posicionar-se
na região para estar preparada para intervir mal o exijam os imperativos da conjuntura
[14].
Contrariando as piedosas declarações de Stavridis, um comunicado oficial do
Departamento de Defesa dos Estados Unidos afirmou que a IV Esquadra contará com
todo o tipo de navios, submarinos e aviões, e que o seu porto (Mayport, no Estado da
Florida) é uma base naval que conta com um vasto arsenal nuclear. Segundo esse
comunicado, o objectivo da reactivação da IV Esquadra foi «responder ao crescente
papel das forças de mar na área de operações do Comando Sul (dos Estados Unidos)
e demonstrar o compromisso de Washington com os seus aliados regionais» [15]. Não
é preciso puxar muito pela imaginação para saber quem qualificam como «aliados
regionais» e quem, como Cuba, Venezuela, Equador e Bolívia, são considerados como
os «inimigos globais» que desestabilizam a região e atentam contra a “segurança
marítima” da região. A declaração oficial do Pentágono não podia ter sido mais vaga:
esta força teria a seu cargo várias missões, num leque que vai desde “operações
contingentes, a luta contra o «narco-terrorismo» até certas actividades relacionadas
com a segurança no teatro de operações. Como pode observar-se, a IV Esquadra tem
um mandato para fazer praticamente qualquer coisa, e não é por acaso que a sua
reactivação tenha coincidido com o bombardeamento por parte da Força Aérea da
Colômbia de um acampamento das FARC, precariamente instalado em território
equatoriano e a poucos quilómetros da fronteira, operação esta que, à semelhança da
«libertação» dos quinze reféns em poder das FARC, não teria sido possível sem o
apoio informático e de satélite dos Estados Unidos. Tão pouco é casual que tenha lugar
quando os esforços para desestabilizar os governos da Venezuela, do Equador e da
Bolívia puseram em evidência as suas limitações e os governantes desses países
conseguiram, pelo menos até agora, superar todos os obstáculos e ingerências
interpostas pela Casa Branca e seus lugar-tenentes na região. A contundente vitória de
Evo Morales no recente referendo revocatório de 10 de Agosto, deve ter mergulhado
no desespero muita gente em Washington e na Media Luna da Bolívia.
Para resumir: o certo é que o Pentágono prevê dotar a IV Esquadra com um
equipamento similar ao que têm a Quinta Esquadra, que opera no Golfo Pérsico, e a
Sexta, estacionada no Mediterrâneo. Declarações posteriores do Pentágono admitiram
que pelo menos um porta-aviões e vários submarinos farão parte da esquarda
encarregue de patrulhar em águas latino-americanas. Nesse mesmo fax proveniente de
Washington - e publicado por La Nación com a assinatura do seu correspondente
nessa cidade, Hugo Alconada Mon - diz-se que «na órbita do Comando Sul operam
hoje 11 barcos, um número que poderia aumentar no futuro». Que tipo de navios serão
desenvolvidos «é a questão do momento, das missões específicas… mas os primeiros
indícios apontam para o resplandecente porta-aviões George H. W. Bush, que estará
operativo no fim deste ano, como possível núcleo da IV Esquadra» [16].
Segundo o mesmo enviado a Washington, «o almirante Gary Roughead, gestor
intelectual do renascimento da unidade» tem como meta «assegurar a segurança neste
mundo globalizado». Interrogado sobre o significado dessa expressão, Roughead
limitou-se a dizer que a IV Esquadra poderá estar «pronta em qualquer momento para
qualquer desafio. Por isso somos uma Armada global». Se recordarmos a
extraordinária amplitude que a nova doutrina estratégica norte-americana, anunciada
em Setembro de 2002 - a guerra infinita e global contra o «terrorismo» e o facto de que
a paranóia oficial reinante em Washington considera como «terrorista» todo aquele que
resista às agressões do imperialismo - poucas dúvidas ficam acerca do real papel que
haverá de desempenhar a IV Esquadra: ser um elemento de chantagem e dissuasão
para os governos da região que se oponham aos imperialistas e um significativo apoio
“extramuros” para os seus aliados entre as classes dominantes locais [17].
O documento do Comando Sul dos Estados Unidos denominado US Southern
Command Strategy: 2016 Partnership for the Americas é qualificado pelo especialista
em relações internacionais Juan Gabriel Tokatlian como «o plano mais ambicioso
concebido desde há anos por uma agência oficial estado-unidense concernente a esta
região» [18]. Segundo este documento, na nova conformação da política estadounidense
para a nossa região não desempenham papel algum nem os tradicionais
instrumentos de predomínio militar, como a Junta Inter-americana de Defesa ou o já
defunto Tratado Inter-americano de Assistência Recíproca, passado a melhor vida
quando da Guerra das Malvinas em 1982; nem mesmo organismos multilaterais como
a OEA ou as Nações Unidas. Assinala, no entanto, que «as instâncias políticas internas
(os Departamentos de Estado, Justiça e Tesouro) de interacção com o hemisfério, se
evaporaram no documento. O Comando Sul anuncia o seu papel e projecção na área
para os dez anos seguintes como o faria um procônsul continental». E isto apesar de
na região «nem existirem tiranos com armas de destruição massiva, nem formas de
terrorismo transnacional de alcance global» [19].
A militarização da política internacional é uma das consequências da nova doutrina
estratégica anunciada ao mundo em Setembro de 2002 e ratificada agora pelo
Pentágono através do seu instrumento regional, o Comando Sul. Note-se que o reverso
desta concepção que militariza a cena internacional é a criminalização do protesto
social no plano doméstico, contra o qual aponta a já referida legislação antiterrorista
aprovada, sob forte pressão estado-unidense em quase todos os países da área. E
para combater em ambos os terrenos, o internacional e o nacional, o império apela à
eficácia dissuasiva das armas. Esse e não outro é o papel real que a IV Esquadra será
chamada a cumprir na América Latina e no Caribe [20].
Um debate terminado, uma confusão a menos
Como dizíamos no princípio, a entrada em funcionamento da IV Esquadra liquidou o
debate em torno da natureza do império. Tal como o expõe o marxismo, as
controvérsias teóricas e políticas não se resolvem com engenhosos jogos de linguagem
ou com assanhadas pirotecnias verbais, mas sim na vida prática de povos e nações. E
o debate sobre o livro de Hardt e Negri já terminou. O primeiro golpe mortal tinha-o
dado a Guerra do Iraque, que desde o princípio demonstrou claramente ser uma
clássica guerra imperialista de anexação lançada para se apropriarem do petróleo
iraquiano. E o golpe de misericórdia acaba de lhe ser dado pela decisão de reactivar a
IV Esquadra. Para estudar seriamente o imperialismo, Hardt e Negri deveriam ter-se
inspirado na atitude de V. I. Lenine – um autor por quem não ocultam o seu desprezo –
quando se propôs investigar a natureza do imperialismo no início do século XX: ler toda
a literatura relevante produzida pelos intelectuais da burguesia imperialista. Em vez de
disso, Hardt e Negri deleitaram-se vagueando pelos inconsequentes meandros da
filosofia pos-moderna francesa, enquanto o império verdadeiro - não o que eles viam
nas suas alucinações - desfilava diante das suas dilatadas pupilas sem que disso
tivessem a menor consciência. O seu desconhecimento da densa literatura imperialista,
produzida pela direita norte-americana desde o tempo de Reagan até aos nossos dias,
é imperdoável. Se tivessem tido a curiosidade própria do espírito científico e se
tivessem dado ao trabalho de ler alguma coisa, ainda que fosse o que escrevia um dos
porta-vozes mais representativos do pensamento imperialista norte-americano e
principal colunista de assuntos internacionais do New York Times, Thomas Friedman,
ter-se-iam proporcionado um duche de sobriedade e dado provavelmente conta de que
algo não funcionava muito bem na sua teoria [21].
Pouco antes do aparecimento de Império, Friedman escreveu uma nota, em que dizia,
sem qualquer rebuço, que «a mão invisível do mercado global nunca opera sem o
punho invisível. E o punho invisível que mantém o mundo seguro para o florescimento
das tecnologias de Silicon Valley chama-se Exército dos Estados Unidos, Armada dos
Estados Unidos, Força Aérea dos Estados Unidos e Corpo de Marines dos Estados
Unidos (com a ajuda, incidentalmente, de instituições globais como as Nações Unidas
e o Fundo Monetário Internacional. … Por isso, quando um executivo diz tais coisas,
como: “Não somos uma companhia estado-unidense. Somos IBM-US, ou IBM-Canadá,
ou IBM-Australia, ou IBM-China” digo-lhes: Ah, sim? Bom, então da próxima vez que
tenham um problema na China chamem Li Peng para que os ajude. E da próxima vez
que o Congresso liquide uma base militar na Ásia – e você diz que não o afecta porque
não o preocupa o que Washington faz - chame a Armada da Microsoft para que lhe
assegure as rotas marítimas da Ásia. E na próxima vez que um congressista novato
republicano queira encerrar mais embaixadas estado-unidenses, chame a America-On-
Line quando perder o seu passaporte» [22].
Este é o «império realmente existente», o «xerife solitário» de que fala Huntington, com
a omnipresença dos estados metropolitanos, e sobretudo do Estado fundamental para
a preservação da estrutura imperialista mundial: os Estados Unidos; com a proliferação
de grandes empresas «nacionais» com projecção global apoiadas pelos seus Estados
(os mesmos que, na sua cândida assombração, Hardt e Negri julgavam desaparecidos)
e com a decisiva componente militar que caracteriza esta época – em que os povos
estariam supostamente colhendo os dividendos da «paz mundial», uma vez implodida
a antiga URSS, factor do equilíbrio de terror atómico dos anos da Guerra-Fria, na qual,
paradoxalmente, floresce a doutrina da «guerra infinita», interminável e contra todos,
proclamada por George W. Bush.
Se algo de bom pode surgir da desafortunada notícia da activação da IV Esquadra, é
que a mesma nos permite deixar para trás a alucinada visão sintetizada em Império e
que tanto atrasou a tomada de consciência das forças da esquerda, os seus partidos e
movimentos sociais acerca da verdadeira natureza do inimigo imperialista. Como o
menino da história, que gritou que «o rei vai nú!», a recente decisão de Washington
tem um valioso efeito pedagógico: desaloja do crucial terreno das ideias as erróneas
interpretações do imperialismo contemporâneo, como a de Hardt e Negri, o que é o
imprescindível primeiro passo para traçar um panorama mais claro e realista, tanto dos
desafios que o imperialismo apresenta aos nossos povos, como para construir as
estratégias, tácticas e instrumentos políticos e ideológicos mais apropriados para o
combater com êxito.
Notas:
[1] Consultar entre muitos outros: Alex Callinicos, “Toni Negri en perspectiva” (
http://revoltaglobal.cat/IMG/pdf/form_CallinicosToniNegrienperspe.pdf); Néstor Kohan, “
El “Imperio” de Hardt & Negri y el Regreso del Marxismo Eurocéntrico”
(http://www.cuestiones.ws/semanal/030503/sem-may03-03-kohan.htm)
Slavoj Zizek, ¿Han re-escrito Michael Hardt y Antonio Negri el Manifiesto Comunista
para el siglo XXI? (2001) http://es.geocities.com/zizekencastellano/arthardtnegri.htm
François Houtart, Tarik Ali, Peter Gowan y Rafael Hernández, “¿Qué imperialismo?”,
en Temas (La Habana: 2003), Nº 33-34, Abril-Septiembre; Leo Panitch e Sam Gindin,
“Capitalismo global e imperio norteamericano” parte I y II, en Socialist Register en
Español (Buenos Aires: CLACSO, 2004 y 2005); John Bellamy Foster, “Imperialism
and ‘Empire’ ”, em Monthly Review , Vol. 53, Nº 7, Diciembre de 2001.
[2] Ver o nosso Imperio & Imperialismo. Una lectura crítica de Michael Hardt y
Antonio Negri (Quinta Edición, Premio Extraordinario de Ensayo 2004 de Casa de las
Américas) [Buenos Aires: CLACSO, 2004].
[3] No Prólogo à 5ª Edição do nosso Imperio & Imperialismo dizíamos que “a guerra
do Iraque, declarada unilateralmente pelos Estados Unidos, teve sobre a análise
proposta naquela publicação o mesmo efeito que sobre a auto-estima norte-americana
tivera a queda das Torres Gémeas de Nova York.” (v. op, cit, p. 6)
[4] Sobre o tema das bases militares estado-unidenses na América Latina, consultar os
diversos trabalhos de Ana Esther Ceceña e, especialmente, “Subjetivando el objeto
de estudio, o de la subversión epistemológica como emancipación”, en Ana E.
Ceceña, compiladora, Los desafíos de las emancipaciones en un contexto
militarizado (Buenos Aires: CLACSO, 2006), pp. 13-43. Também da mesma autora,
Álvaro Uribe y la base de Manta
http://www.prensamercosur.com.ar/apm/nota_completa.php?idnota=3833 e, por último,
o seu muito instrutivo sítio web: http://www.geopolitica.ws/
[5] Stella Calloni, “Alertan sobre una base estadounidense para estudios nucleares en
Tierra del Fuego”, em La Jornada (México), 14 de Octubre de 2007.
[6] Esclareçamos, para que não haja a menor dúvida, que condenamos sem
atenuantes a utilização dos sequestros como uma arma de luta política e que por isso
mesmo, celebramos o regresso à liberdade dos reféns nas mãos das FARC. De
qualquer modo, subsistem demasiadas incógnitas acerca da natureza desse “resgate”
que, seguramente, com o passar do tempo, poderão ser esclarecidas, trazendo não
poucas surpresas.
[7] Cf. “La importancia de trabajar juntos”, em La Nación (Buenos Aires) 10 de Junio
de 2008.
[8] Horacio López, Secesionismo, anexionismo, independentismo en Nuestra
América (Caracas: El perro y la rana, 2008), p. 23. O livro fundamental, no qual Mahan
expõe a sua doutrina é The Influence of Sea Power upon History, 1660–1783 (1890,
não por acaso reeditado nos anos de Ronald Reagan: 1987).
[9] Ramón Grosfoguel. “Los límites del nacionalismo: lógicas globales y
colonialismo norteamericano en Puerto Rico”, em Jorge Enrique González, Editor.
Nación y nacionalismo en América Latina (Buenos Aires: CLACSO, 2007)
[10] Será supérfluo sublinhar que esta estratégia, a da secessão, foi desenterrada em
datas recentes pelo Departamento de Estado para conter a maré de esquerda que
cresce no continente. Não é casual que tentativas separatistas, abertamente
acalentados por Washington, tenham surgido em Zulia, Venezuela, no litoral
equatoriano, ressuscitando uma ancestral mas largamente esquecida demanda em prol
da fundação da República de Guayas, com sede em Guayaquil e na Media Luna
boliviana, onde a estratégia da secessão está na ordem do dia, potenciada sem dúvida
pela esmagadora vitória de Evo no referendo revocatório do passado 10 de Agosto,
que parece ter convencido a reacção racista e fascista da Bolívia que a “solução” para
a crise contempla só duas possibilidades: o golpe de Estado ou a secessão. O primeiro
ensaio bem sucedido desta estratégia imperialista de secessão teve lugar no Texas,
em 1845, então pertencente ao México e que logo terminara sendo anexada ao
território dos Estados Unidos. Desde então, a secessão tem um lugar privilegiado no
manual de operações do Departamento de Estado.
[11] Segundo a Agência das Nacões Unidas contra a Droga e o Crime (UNODC na sua
sigla em inglês), no ano de 2006 o cultivo de papoila cresceu 59 por cento, enquanto
que a do ópio cresceu 49 por cento. Num recente artigo, Peter van Ham e Jorrit
Kamminga [“Poppies for Peace: Reforming Afghanistan’s Opium Industry”, em
Washington Quarterly, Invierno 2006-2007, pp. 69-81] examinam profundamente a
situação da economia da droga no Afeganistão e sua possível reconversão. Nada disso
teve sequência, no entanto, sob a ocupação norte-americana.
[12] UNODC, Informe Anual 2008, p. 1.
http://www.unodc.org/documents/wdr/WDR_2008/Executive%20Summary.pdf
[13] Sobre o caso Posada Carriles e a questão “dos 5” consultar o nosso “El
terrorismo como política de estado”, página 12 e Rebelión, do dia 11 de Dezembro
de 2007.
[14] Apesar disto, em meados de Junho de 2007 a Câmara de Deputados da Argentina
transformou em lei um projecto do Poder Executivo que reprime o accionar do
terrorismo e também o seu financiamento. A lei responde tanto a uma reivindicação dos
Estados Unidos como a pressões do Grupo de Acção Financeira Internacional, que
ameaçava fazer um pronunciamento público declarando a Argentina país não seguro.
Essa mesma chantagem foi exercida sobre quase todos os países da região que, salvo
algumas poucas excepções, aprovaram em tempo recorde a legislação solicitada pelo
império. Tão vaga é a caracterização (de terrorismo) que a lei faz, que em vários
países da região surgiram fortes protestos contra a sua aplicação para perseguir
lutadores sociais ou movimentos que se opõem às políticas neoliberais. Cf. “Aprueban
una ley antiterrorista que era reclamada por Estados Unidos”, en Clarín (Buenos
Aires), 14 de Junho de 2007. Veja-se também a nota de Fernanda Balatti, “El
terrorismo según Argentina”, em Le Monde Diplomatique (Buenos Aires), año IX,
Número 108, Junio 2008, p. 6.
[15] http://www.defenselink.mil/releases/release.aspx?releaseid=11862
[16] Cf. Hugo Alconada Mon, “Estados Unidos con más presencia en la región”, em
La Nación (Buenos Aires), 28 de Abril del 2008.
[17] Hugo Alconada Mon, “Estados Unidos pone en marcha la IV Flota”, em La
Nación (Buenos Aires), 13 de Julho de 2008.
[18] “El militarismo estadounidense en América del Sur”, em Le Monde
Diplomatique (Buenos Aires), Año IX, Número 108, Junio 2008, p. 5. Este artigo faz
parte de um excelente dossier dedicado ao tema e que incluí os seguintes trabalhos:
Fernanda Balatti, “El terrorismo según Argentina”; “¿Adiós a la base de Manta en
Ecuador”, por Adriana Rossi; “La construcción de la soberanía regional”, por Daniel
Pignotti; e “Apropiación de recursos naturales”, por Serena Corsi.
[19] Ibid., p. 5.
[20] Sobre a criminalização do protesto social existe uma amplíssima literatura
especializada. Em conexão com o tema do nosso trabalho, remetemos para a leitura do
texto de Fernanda Balatti acima mencionado.
[21] Não só não leram Friedman. Na realidade, não leram nenhum dos numerosos
intelectuais orgânicos do imperialismo como Robert Kagan, Charles Krauthammer,
Michael Ignatieff, Samuel Huntington, William Kristol, Norman Podhoretz e tantos
outros, muitos deles reunidos em torno do projecto do Novo Século Americano, do qual
a Administração Bush Jr. recrutou numerosos funcionários para ocuparem cargos
chave na estrutura governamental, como Richard Cheney, Paul Wolfowitz, Elliot
Abrams, John R. Bolton, Donald Rumsfeld e muitos mais.
[22] Thomas L. Friedman, “Foreign Affairs; Techno-Nothings”, em New York Times ,
18 de Abril de 1998.
* O autor Professor Titular de Teoria Política na Universidade de Buenos Aires e
Investigador Superior do CONICET.
Fonte:Diário.info

Um comentário:

Anônimo disse...

Muito bom esse texto. Vera Pereira