terça-feira, 9 de setembro de 2008

PETRÓLEO - De Caraminguá a Tupi.

Mair Pena Neto.


Monteiro Lobato deve estar sorrindo no céu com o futuro descortinado pela descoberta da camada do pré-sal, que pode conter bilhões de barris de petróleo. Do poço Caraminguá no 1, no Sítio do Picapau Amarelo, ao poço de Tupi, na bacia de Santos, o petróleo passou de sonho à realidade redentora do Brasil.

A referência da ministra da Casa Civil, Dilma Rousseff, ao livro “O poço do Visconde”, de Lobato, mostrou-se pertinente por homenagear o pioneiro da luta pelo petróleo no Brasil, antes mesmo que qualquer gota tivesse jorrado, mesmo no fictício poço do visconde, explorado pela Companhia Donabentense de Petróleo.

A Petrobras foi criada cinco anos após a morte de Lobato e se tornou uma gigante sem jamais ter deixado de ser estatal. A ela deverá caber um papel preponderante sobre a exploração das reservas do pré-sal, que poderão garantir ao país um novo salto de qualidade.

O governo tem sido criticado por contar com o ovo antes da galinha. De já pensar na aplicação dos recursos do possível óleo sem que uma sonda sequer tenha tocado as camadas ultraprofundas do pré-sal. O papel de um governo é planejar o futuro e não ser surpreendido por ele. O petróleo só começará a sair do pré-sal a partir de 2010, mas a legislação sobre ele precisa ser debatida desde já por toda a sociedade brasileira.

O presidente Lula afirmou que a riqueza do pré-sal não pode ficar na mão de meia dúzia de empresas já instaladas nas bacias petrolíferas brasileiras. Ele quer que parte do que venha a ser arrecadado com o petróleo se destine a reparar questões sociais históricas, como a pobreza e o atraso na educação.

A preocupação do presidente faz sentido. As empresas estrangeiras sempre estiveram de olho no petróleo brasileiro e a Standard Oil usou o famoso Repórter Esso para omitir notícias sobre a campanha “O Petróleo é Nosso”, nos anos 50, que mobilizou a população e acabou originando a criação da Petrobras. Mais do que isso, distribuiu verbas publicitárias à publicações contrárias à nacionalização do petróleo.

CPI criada após a morte de Getúlio Vargas para investigar empresas de petróleo no Brasil concluiu que as atividades da Esso iam além de objetivos meramente comerciais para se imiscuir na vida política do país.

O mercado e seus representantes já se manifestaram pela manutenção das regras atuais, que deixa o petróleo com as empresas, com o pagamento de royalties e participações especiais. O governo, por sua vez, não quer perder o bonde da história e pretende gerir diretamente as riquezas. É um compromisso que merece ser levado adiante no mínimo para honrar a memória de Monteiro Lobato.
Fonte:Direto da Redação.

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