De: Elizabeth Dezouzart Cardoso
Assunto:Carta de um amigo
Amigos,
Repasso carta recebida de um amigo que é professor da UFF e, no momento, encontra-se na França com sua mulher fazendo seu pós-doutorado sem, no entanto, se esquecer de nosso país.
Ele é profundamente religioso, como vocês poderão observar, e tem um bom senso muito grande.
Acho que sua carta pode levar a reflexões profundas sobre o momento atual da história do Brasil. Por isso, peço que a leiam e reflitam.
Ele próprio me autorizou a repassar e eu o faço com prazer. Boa leitura.
Subject: Carta aos amigos - Marcio e Claudia
Paris, 15 de outubro de 2010.
Queridos amigos,
Esperamos que estejam todos bem, com muita Luz e Paz.
A grande graça que recebemos, de realizarmos nosso pós-doutorado no exterior, retirou-nos do Brasil num momento importantíssimo de nossa história, mas acompanhamos os acontecimentos com a seriedade que o momento exige, e aproveitamos esse Dia do Professor para nos manifestarmos, além de enviarmos os parabéns para todos, pois os líderes religiosos são, também, professores.
Meishu-Sama ensina que devemos entregar nas mãos de Deus, depois de fazermos a nossa parte. Nós aceitaremos o resultado dessas eleições presidenciais como Vontade Divina, mas não podemos nos omitir e esta carta visa contribuir com a nossa parcela de compreensão a respeito dos acontecimentos.
O povo brasileiro tem motivos de sobra para não gostar de política, e é verdade que ainda há muita corrupção nas instituições e nos processos. Esta ainda é a realidade que temos. Na Nova Era, temos certeza, a política será a atividade nobre que nela vislumbraram os grandes filósofos, pois os homens continuarão tendo de gerir a vida coletivamente, decidir o que fazer com a terra, como garantir a sobrevivência de todos, como se relacionar com os recursos naturais, como educar as novas gerações... Por isso, Meishu-Sama é um defensor incondicional da democracia.
Por isso, não achamos que o Bem está de um lado, e o Mal de outro. Tudo tem Bem e Mal, e tudo se processa pela dialética da Harmonia. Mas estamos convocados a construir a história do Brasil, num momento de fronteira entre dois projetos que, mesmo que alguns digam que são iguais, que é tudo a mesma coisa, em nossa opinião, guardam distinções profundas.
Nós nunca fomos petistas, e nem sempre votamos no PT. Na Prefeitura de Niterói, por exemplo, nosso colega Godofredo, com quem temos uma fraterna convivência, foi um desastre total. Portanto, não se trata de defender um partido. Também não se trata de defender uma pessoa, seja o Presidente Lula ou a Dilma, porque um governo não é a expressão de um indivíduo, mas de muitas pessoas que se articulam em torno de um projeto, muitas delas desconhecidas para nós. Para falar dos conhecidos, quem pode negar a importância de Guido Mantega, Celso Amorim, Fernando Haddad, Franklin Martins e outros, na condução do governo que chamamos Lula? Também muitos interesses empresariais, muitos interesses pessoais, muitas forças internacionais interferem em qualquer governo de qualquer país do mundo. Esse é o mundo dos homens, e o Brasil tem nele uma posição de pouca autonomia.
Sentimos que há muito mais preconceito do que elementos concretos na reação à Dilma e o que ela representa. A estória de que ela foi terrorista é uma distorção sem tamanho da atitude dos jovens que tentaram resistir ao verdadeiro terrorismo da ditadura militar. Nesse sentido, ela foi tão terrorista quanto Nelson Mandela, que lutou contra o apartheid, e hoje é símbolo da justiça e da paz entre os homens.
Mas consideramos que uma proposta de governar um país assenta sobre alguns pilares básicos. As duas candidaturas, que aí estão, expressam duas propostas de governo que já tiveram oportunidade de se colocarem em prática, com resultados muito diferentes. O que nos leva a considerar a proposta do grupo que se reuniu em torno da candidata Dilma Roussef melhor do que o grupo anterior:
- O Brasil conseguiu ter recursos para pagar uma dívida externa que nos tinha sido impingida desde a década de 1960, que só aumentou nos oito anos de governo FHC/Serra e que a mídia já nos convencera de que era impagável;
- O Brasil passou quase incólume por uma grave crise econômica internacional, graças às medidas de fortalecimento interno da economia, com forte intervenção do Estado por meio de medidas precisas (poucos têm a dimensão de quais seriam as conseqüências sem essa condução);
- Contrariando todas as idéias de que só haveria crescimento econômico com mais submissão ao capital externo, esse governo conseguiu taxas de crescimento surpreendentes com maior distribuição de renda. Pôs em prática o que os grandes economistas brasileiros defendiam desde a década de 1950, fortalecendo o mercado interno, o que favoreceu a indústria e diminuiu enormemente a pobreza;
- Conseguiu a façanha de retirar mais de 30 milhões de brasileiros da situação de miséria. A imprensa séria já mostrava esse quadro bem antes das eleições. A revista “Isto é”, por exemplo, fez uma matéria muito interessante mostrando como mudou a alimentação das famílias mais pobres;
- Reduziu o desemprego às taxas mais baixas das últimas décadas, ao mesmo tempo em que elevou o valor real do salário mínimo (de cerca de 70 para 210 dólares). Parte dessa redução deu-se por meio de concursos públicos, que estavam zerados no governo FHC/Serra, e que melhoraram significativamente muitos dos serviços públicos (Vimos isso na universidade e, agora, na Polícia Federal, por conta das providências de viagem). Pensamos que, a médio prazo, essa política conseguirá deter o efeito imediato de encantamento com as políticas assistencialistas, diminuindo o seu espaço frente a um mercado de trabalho que se expande e remunera mais dignamente;
- Reduziu acentuadamente o desmatamento da Amazônia e as queimadas, fatores importantes no combate do efeito estufa do planeta, com atitudes firmes em relação aos grandes proprietários, sobretudo, depois da entrada do Ministro Carlos Minc nos dois últimos anos de governo.
- Fez o maior investimento em educação a que assistimos na história brasileira. Os recursos do Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação foram mais fortemente repartidos. Foram construídas 14 novas universidades públicas, e todas as outras estão com obras de expansão, além de ter realizado muitos concursos para professores e técnicos. Foram criadas centenas de escolas de educação profissional e técnica, cerca de 400 em todas as regiões do Brasil. O projeto de lei que estabelecia o piso salarial de 900 reais para os professores da educação básica enfrentou a fortíssima reação exatamente dos governadores do PSDB, tendo à frente Ieda Crusius. (Há muitas críticas pertinentes aos programas de educação deste governo, mas há também muita confusão entre o que são as diretrizes dos governos estaduais e municipais e o que é a política do governo central);
- O investimento em pesquisa também cresceu enormemente, com a ampliação significativa dos recursos e das bolsas para pesquisadores, tanto por meio das agências nacionais, como pela canalização de recursos às agências estaduais. Acabamos de conseguir uma conquista importante, na área da pós-graduação, com a possibilidade de bolsas de mestrado e doutorado para os nossos alunos que têm vínculo empregatício como professores;
- Interrompeu-se o processo irresponsável de privatização, que entregou nas mãos de grupos internacionais empresas brasileiras altamente lucrativas, como a Vale do Rio Doce, a preço de banana. Os custos dessas transações para a população brasileira foram altíssimos. Ao final do governo FHC, era certa a privatização do Banco do Brasil e da Caixa Econômica Federal, tidos como não lucrativos. O último governo demonstrou como era possível modernizá-los, e o BB fechou o ano passado como o mais lucrativo de todos os bancos. Ao mesmo tempo, reativou o papel social dos bancos públicos, tanto BB e CEF como o BNDES, com financiamentos na área social, como habitação e infraestrutura.
- A questão da Petrobrás é a uma das mais delicadas, porque estava em curso a privatização da empresa e, agora, temos as enormes reservas do pré-sal no litoral brasileiro. Há uma distinção profunda entre as propostas dos dois candidatos: o governo de FHC quebrou o monopólio da Petrobrás, em 1997 (Lei 9.478), permitindo a exploração por empresas estrangeiras, e defende o regime de concessão, pelo qual a empresa estrangeira torna-se dona do petróleo que ela explorar. Em contrapartida, o governo Lula recobrou o controle acionário da Petrobrás pelo Estado brasileiro e propõe o regime de partilha, que preserva a propriedade estatal do petróleo encontrado, pagando à empresa privada pelo trabalho de exploração.
- Apesar da alardeada corrupção (que não foi exclusiva desse governo, basta retomar os jornais do período anterior), nunca vimos a Polícia Federal trabalhar tanto, mesmo contra os próprios petistas. Seus quadros foram aumentados por meio de concursos e seus salários melhorados. O combate ao tráfico de drogas foi muito mais eficiente, com a prisão de indivíduos importantes. Também os grandes infratores financeiros, como Daniel Dantas, a dona da Daslu, e outros, foram investigados com muito mais seriedade.
Enfim, estamos levando em conta as questões que verdadeiramente importam num projeto de nação, porque repercutem no nosso cotidiano, mas muitas vezes não queremos nem pensar nelas. Questões como casamento entre homossexuais, aborto e algumas outras, dependem, sobretudo, da pressão da opinião pública sobre o Congresso Nacional. As que nós levantamos aqui estão ligadas verdadeiramente a um projeto de governo. Nada disso é continuidade em relação ao governo do PSDB, muito pelo contrário.
A vida do brasileiro melhorou significativamente, e isso é inegável. Os programas que estão em andamento no Rio de Janeiro, de construção de casas populares e de pacificação das favelas, não seriam possíveis sem o enorme apoio do governo federal. Todos nós respiramos melhor nesses últimos anos, e o país ganhou respeito internacional (estamos vendo isso aqui na Europa), junto com a maior auto-estima do brasileiro.
Acreditamos que, se deixarmos de lado os nossos preconceitos, veremos que, do ponto de vista da construção de um mundo melhor, as realizações dos homens que se reuniram em torno de Dilma, caminharam muito mais nesse sentido.
Oferecemos a vocês essa reflexão, sem a pretensão de sermos donos da verdade, mas certos de que VOTAR EM DILMA, no segundo turno, significa reconhecer os avanços e conquistas econômicas e sociais já alcançados e assegurar a possibilidade de podermos continuar a caminhar rumo a um país mais digno, mais humano, mais fraterno, próspero, saudável e feliz.
Com o nosso carinho e saudades.
Marcio e Claudia.
P.S. Os que concordarem e desejarem, podem enviar nossa carta para outros amigos e parentes.
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