segunda-feira, 20 de outubro de 2014

POLÍTICA - É realmente imperiosa a reforma política.


Ricardo Kotscho 

Eles já estão abusando da nossa paciência

  
Ainda bem que falta apenas uma semana. Assim como eu, acredito que ninguém mais aguenta ver as caras e ouvir as vozes de Dilma Rousseff e Aécio Neves repetindo sempre as mesmas coisas, dia após dia, para provar que o outro é pior. Debates e a overdose de propaganda eleitoral no rádio e na televisão se limitam a elencar corrupções e desmazelos sem fim dos governos do PSDB e do PT nos últimos 20 anos. O que vai sobrar disso?
Para quem ainda consegue assistir a este espetáculo de desconstrução mútua, resta a impressão de que estão em disputa a presidência da Petrobras e o governo de Minas, não o futuro do Brasil. Foi assim, mais uma vez, no debate de domingo à noite na TV Record.
Como os dois já não têm mais nada de novo a nos dizer, acabam sempre voltando aos mesmos cardápios dos seus marqueteiros fornecidos ao longo de toda esta interminável campanha eleitoral. Desta vez, como suas pesquisas internas mostraram que pegou muito mal junto ao eleitorado o vale tudo de baixarias do debate anterior, Aécio e Dilma resolveram deixar as respectivas famílias de fora e tentaram discutir suas propostas. Não conseguiram, porém, passar de platitudes básicas ao disputar a paternidade do Bolsa Família, pregar o combate à corrupção e à inflação, ambos a favor da água encanada e da energia elétrica.
Assisti ao penúltimo debate apenas por dever de ofício para chegar à conclusão de que esta campanha presidencial de 2014 só serviu para escancarar a falência do atual sistema político-partidário do país e o esgotamento deste formato de democracia representativa, que afasta os eleitores dos eleitos e clama por uma renovação de lideranças e de ideários.
Por mais diferentes que sejam suas trajetórias de vida, ideologias e projetos para o país, os dois candidatos finalistas são igualmente autoritários, chatos, previsíveis, burocráticos no pensamento e lentos na ação mobilizadora. Que me perdoem pela franqueza, mas ambos são de dar sono e nos tiram até a vontade de votar.  Eles já estão abusando da nossa paciência.
Desse jeito, ao invés de conquistar os indecisos para desempatar o jogo, Dilma e Aécio vão acabar provocando um aumento de votos nulos, brancos e abstenções, os chamados "eleitores de ninguém" que, somados, atingiram 29% dos 143 milhões de brasileiros aptos a votar no primeiro turno. Que esperanças ainda podem nos dar Aécio, o irônico do sorriso sarcástico, e Dilma, a implacável superiora dona das verdades?
Entramos na última semana do combate eleitoral diante de duas realidades bem distintas e de desfecho imprevisível, que podem ser decisivas no domingo: de um lado, o vazamento programado na imprensa das delações premiadas sobre a Petrobras, tendo como alvo o PT de Dilma; de outro, o iminente colapso do abastecimento de água em São Paulo, o maior colégio eleitoral do país, que pode abalar o tucanato de Aécio.
Seja qual for o resultado final, constato que temos hoje, basicamente, dois grandes problemas: os candidatos e os partidos. Como não dá para importar candidatos nem existe democracia fora dos partidos, espero que o próximo presidente e a sociedade brasileira tenham como prioridade absoluta a reforma política. Sem isto, tudo o mais será jogar conversa fora.

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