A necessária renovação do PT e o vexame no Estado de São Paulo, por Laura Capriglione

Sugestão de MiriamL
Do blog de Laura Capriglione
A necessária renovação do PT e o vexame no Estado de São Paulo
Laura Capriglione
A eleição de Geraldo Alckmin (PSDB) em primeiro
turno, a vitória acachapante de José Serra sobre Eduardo Suplicy, o
inchaço da “bancada da bala”. É fácil falar sobre o conservadorismo dos
paulistas. Acabo de pescar na rede essa análise: “Os paulistas ainda
choram a derrota de suas oligarquias no movimento constitucionalista de
1932. Desde então, votaram contra Getúlio, ajudaram a derrubar Jango,
votaram contra Lula e Dilma e continuarão votando contra qualquer
candidatura progressista”.
Pois eu acho que o problema não são “eles”.
É preciso reconhecer. O Partido dos Trabalhadores
jogou mal em SP. Fez um joguinho indigno naquele que é o seu berço
histórico. Não se deve nunca esquecer que a mesma terra bandeirante que
se bateu contra Getúlio foi onde renasceu o movimento estudantil que
ajudou a por a pique a Ditadura Militar e foi onde surgiram as grandes
greves operárias que criaram Lula e o próprio PT, além de um imenso
cordão de movimentos sociais.
Se fosse um atavismo de São Paulo ser esse matadouro
de utopias, não seria neste solo que nasceria o sonho de um país de
todos, sem miséria. Nem Fernando Haddad teria sido eleito. Nem Marta ou
Erundina teriam se criado.
No entanto, o PT, nesta eleição, teve a sua pior performance em anos.
E não foi no interior conservador que aconteceu a debacle. Foi no chamado cinturão vermelho da cidade de São Paulo.
Bairros pobres e históricos redutos do PT, como o
Campo Limpo, na zona Sul, terra onde vive Mano Brown, por exemplo, ou
Itaquera e São Miguel Paulista, na zona Leste, sufragaram mais Aécio do
que Dilma. Capela do Socorro, lar do sarau da Cooperifa, do poeta Sergio
Vaz, também. E a Pedreira, Ermelino Matarazzo e Cangaíba…
Vai falar lá que aquela gente morena, parda e preta, que eles são a elite branca, fascista, oligarca ou coisa que o valha.
Quem errou foi o PT vacilão paulista.
Que, durante os últimos quatro anos, deixou o tucano
Alckmin mais do que à vontade, mesmo sendo o governo dele um desastre
completo. Veja a Suíça revelando as contas secretas dos operadores do
escândalo do metrô; a Cetesb (estatal do próprio governo paulista)
mostrando que a USP Leste foi implantada sobre um lixão tóxico; o Estado
perdendo a guerra com o crime; as universidades estaduais falidas (o
reitor imposto por Serra conseguiu o impossível: destruir a economia
milionária da maior universidade paulista); as torneiras secas…
E cadê os deputados estaduais do PT para denunciar
tantas mazelas e apresentar alternativas? Na maior parte dos casos,
serviram apenas para reclamar que a base de apoio de Alckmin não deixa
instalar nenhuma CPI. Queriam o quê?
O PT não disse a que veio. Mas o pior foi ter-se
desplugado dos movimentos sociais. O PT de São Paulo, que sempre se
aliou aos movimentos sociais, passou a ter medo deles… Por que é que até
agora não foi usada a cláusula do Estatuto das Cidades que permite
taxar até a quase expropriação os imóveis vazios por anos?
E o PT sem os movimentos sociais é como avião sem asa, Piu-piu sem Frajola, Romeu sem Julieta, Claudinho sem Buchecha.
O problema não é o PT dançar. O problema é o que vem
junto. Para ficar em um exemplo: cresceu a chamada “bancada da bala”,
aquele grupo dos deputados identificados com o slogan “Bandido Bom é
Bandido Morto!”
O medo é sempre um mau conselheiro. Mas, sem
alternativas, até mesmo um mau conselho é melhor do que nenhum. Quando a
“Revista da Folha” perguntou ao candidato petista Alexandre Padilha
como ele pretendia combater o crime organizado, a resposta foi pífia.
“Não pode permitir que facções tomem conta das penitenciárias e as
transformem em escritório, com celulares à solta.”
Sabe de nada, inocente.
O PT fez uma campanha coxinha em São Paulo, para não
assustar o eleitor tucano. Como resultado, ficou sem o eleitor tucano e
sem o eleitor petista. E o entregou para um aventureiro como Paulo Skaf.
Até o Aloízio “Carisma Zero” Mercadante, em 2010,
teve mais votos para o governo do Estado do que Padilha. Quase o dobro.
35,23% contra 18,20% do total de votos válidos.
Agora, é juntar os cacos e apostar na renovação dos
quadros partidários, que terão de vir, como sempre foi, dos movimentos
sociais. Um partido que substituiu José Dirceu, José Paulo Cunha e José
Genoino, dirigentes históricos, como seus principais puxadores de votos
para deputado, por um cara como o Andrés Sánchez, dirigente do
Corinthians, não é muito diferente de outro, que tem o Tiririca. Puro
oportunismo.
Sem essa renovação, o PT pode até ganhar a eleição
presidencial, mas as dores de cabeça e os sustos ainda estarão logo ali
na frente, esperando. Búúúú!
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