domingo, 21 de setembro de 2008

ARTIGO - Ironias da história.

Os colunistas liberais do “Financial Times” estão dando um show de lógica e pragmatismo nesta crise. Martin Wolf, o ícone, e seu colega John Kay, escrevem com todas as letras o que muitos tentam camuflar. Não enrolam e vão direto ao ponto: reguladores jamais regulam suficientemente o sistema e, no fim das contas, governos intervirão para salvar o mundo financeiro da lambança que provocam.

Interesantíssimas as conclusões de Wolf para o que está ocorrendo. À pergunta “o que deu errado?”, ele mesmo responde – e, convenhamos, de modo surpreendente, para um liberal de casaca como ele. “A fé exagerada nos mercados não regulados comprovou ser uma cilada”, escreveu Wolf num artigo traduzido pelo “Valor”, em 17 de setembro.

Outro trecho do mesmo artigo:

“No mundo atual, governos socorrem economias abaladas por crises de quatro formas: oferecem generosa liquidez de credor de última instância, por meio de bancos centrais; contabilizam enormes déficits para compensar a transição do setor privado para o superávit financeiro; substituem dívida privada por dívida pública, para recapitalizar sistemas financeiros (muitas vezes por meio da pura e simples estatização); e podem adotar a erosão inflacionária do valor da dívida privada (e pública). Tudo é provável agora, inclusive, a última opção”.

Agora, John Kay, em texto também traduzido pelo “Valor”, em 18 de setembro:

“Assim como Martin Wolf, também anseio por um mundo em que os reguladores consigam moderar a instabilidade inata do sistema financeiro. Meu anseio, porém, é temperado por modestas expectativas sobre o que a regulação pode realizar. O realismo de Martin, que compartilho, admite que as expectativas do público são muito mais altas e os políticos alegarão que reagem a essas expectativas. Mas os políticos fracassarão. A próxima crise financeira será diferente em origem e as regras que serão implantadas para fechar as porteiras dos estábulos vazios de hoje provarão ser irrelevantes.”

E a conclusão:

“Martin e eu reconhecemos que, na próxima crise, como nesta, o contribuinte intervirá para financiar o cassino visando proteger a utilidade”. (“utilidade”, nas palavras de Kay, é o sistema financeiro que as pessoas e as empresas confiam ser capaz de intermediar suas transações normais, fazendo e recebendo pagamentos, tomando e emprestando dinheiro e quetais)

As reflexões de Wolf e Kay, no momento em que a Corporação Financeira Chinesa, o gigantesco fundo de investimento estatal da potência emergente comunista, negocia metade do capital do Morgan Stanley, segundo maior banco de investimento americano, numa das maiores ironias da História, ajudam a entender por que o socialismo naufragou e o capitalismo seguirá sua marcha.

É que o ideal do socialismo é socializar lucros, enquanto o do capitalismo é socializar prejuízos. Ninguém quer o primeiro e todos querem o segundo.
Fonte: Blog do José Kupfer.

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