domingo, 7 de setembro de 2008

ARTIGO - O parto de uma nação.

O Nassif com muita propriedade mostra que estamos numa encruzilhada. Não dá para parar a história, mesmo que a Veja e a imprensa golpista consigam, como o Nassif gosta de dizer, destruir a reputação de pessoas como o delegado Paulo lacerda, o juiz De Sanctis, o delegado Protógenes, o ex-ministro Márcio Thomaz, o Paulo Fontelles, etc.Estes, estão mais do que nunca empenhados na guerra entre a lei e o crime organizado, com um detalhe, é um crime organizado do pessoal do' colarinho branco', do pessoal 'acima de qualquer suspeita'. O Daniel Dantas, o 'gênio do mal' é uma criação da era FHC, é fruto da 'privataria' que foram as privatizações dos tucanos.
Carlos Dória.

ARTIGO - O parto de uma nação.
Luis Nassif

O parto de uma Nação.

É extraordinário o que estamos testemunhando nesses tempos de Satiagraha: é o parto de uma Nação.

Haveráainda muita frustração pela frente, muita sensação de impotência, muitoceticismo se o país conseguirá ser alçado à condição de Naçãocivilizada. Mas a marcha da história é inevitável.

Está-se emplena batalha da legalidade contra o crime organizado. Os jovensjuízes, procuradores, policiais que ousaram arrostar décadas depromiscuidade estão no jogo. Se eventualmente forem calados agora, adecepção geral será o combustível para a reação de amanhã.

O país está submetido a duas forças que caminharam em paralelo mas, agora, começam a colidir.

Umadelas, a consolidação de valores republicanos – não necessariamente depráticas - como a impessoalidade no trato da coisa pública, atransparência cada vez maior, movimento acelerado pelo advento de novastecnologias de informação, a reação contra a impunidade.

Aomesmo tempo, tem-se um país institucionalmente refém de desequilíbriosenormes. A falta de transparência do ciclo que se esgota abriu espaçopara amplos abusos em todos os poderes – Executivo, Legislativo,Judiciário e mídia, grande capital.

Criou-se uma enorme Nação derabo preso em um momento em que a disseminação de valores e detecnologia definia novos níveis para a transparência.

Ao mesmotempo, o mundo (e o Brasil) ingressou em um ciclo de financeirizaçãoque permitiu a expansão ampla do crime organizado. Descrevo em detalhesesse processo no meu livro “Os Cabeças de Planilha”. Já tinha descritoesse modelo no meu “O Jornalismo dos anos 90”, no capítulo referente àCPI dos Precatórios.

A falta de regulação e controle nosmercados, a existência de paraísos fiscais, a complacência dasautoridades reguladoras (e da mídia) criaram uma imensa zona cinzentaonde se misturou a contravenção fiscal com a corrupção política, asimbiose de “figuras notáveis” com o crime organizado. A falta de umregramento adequado e de instituições que combatessem os abusos,permitiu essa promiscuidade ampla.

Esse é o nó.

Agora, asinstituições estão aí. Mas há um pesado passivo que não interessa amuitos que venha à tona. O resultado dessa batalha de transição é quedefinirá os rumos do país: se submetido aos limites da lei; ou do crimeorganizado.

Os novos atores

Aí entram dois atores. O primeiro, a mídia.

Jáescrevi várias vezes sobre o tema, e volto a ele. Nesse ambientepromíscuo, parte da mídia passou a se valer da denúncia não como uminstrumento de melhoria dos hábitos econômicos e políticos, mas comoinstrumento seletivo de poder. O esgarçamento dos critériosjornalísticos abriu espaço para os abusos que, agora, chegam a um pontode alto risco para imagem da mídia.

Nesse movimento, papelessencial foi desempenhado pela diretoria de redação da Veja. Graças aoseu amadorismo, conduzindo uma operação de alto risco – os pactos comDaniel Dantas - escancarou um modelo que, em mãos mais hábeis, levariamais tempo para ser percebido.

O segundo ator são os órgãos derepressão ao crime organizado, que surgem no início dos anos 90 e seconsolidam a partir da gestão Márcio Thomaz Bastos no Ministério daJustiça.

A maior parte do dinheiro do crime organizado transitapelo mercado financeiro, através de operações esquenta-esfria, dedoleiros, de esquemas em paraísos fiscais, um universo intrincado quepassa ao largo da compreensão do cidadão comum.

Tenho muito orgulho em ter contribuído de alguma maneira para preparar esse terreno para o combate ao crime organizado.

Noinício dos anos 90 passei análises sobre o mercado financeiro para ojuiz Walter Maierovitch, o primeiro brasileiro a estudar seriamente ofenômeno do crime organizado.

No início de 2003, a convite deMárcio Thomaz Bastos dei uma das duas palestras de abertura doSeminário que ocorreu em Pirinópolis, juntando Ministério PúblicoFederal, Polícia Federal, COAF, Banco Central, Secretaria da ReceitaFederal. Juntei as informações e análises que tinha coletado nacobertura da CPI dos Precatórios e dos esquemas de doleiros – queserviram de base para meu livro.

Surpreendi-me ao me dar contada extensão do trabalho que se propunha, essa integração necessáriaentre os diversos órgãos, a busca de ferramentas de análise, deequipamentos de monitoração, o entusiasmo dos jovens funcionáriospúblicos e as figuras mais velhas, respeitáveis, de Cláudio Fontelles,Paulo Lacerda e Márcio Thomaz Bastos.

Montou-se a organização,preparam-se os funcionários públicos e lhes foi conferida uma missão. Eeles passaram a seguir o manual. Institucionalizava-se o combate aocrime organizado. E, institucionalizado, passava a se tornar, também,impessoal. Assim como em nações civilizadas, não havia mais intocáveisa serem preservados.

Nesse momento, deu-se o choque com o Brasil velho.

O choque do antigo

No início havia convivência estreita entre os dois poderes: a nova estrutura de repressão ao crime organizado e a mídia.

Houvemuitos abusos, sim, invasão de escritórios de advocacia, vazamento depeças do inquérito. É possível que abusos continuem a ser cometidos.Mas tudo era suportado, defendido pela mídia, na condição de aliadapreferencial, tendo acesso aos “furos” e blindagem contra abusos.

Aconvivência prosseguiu enquanto órgãos de mídia entendiam que a aliançalhes garantia salvo-conduto. Explodiu quando se revelou a extensão daOperação Satiagraha.

Aparentemente, a Operação Satiagrahaflagrou quatro grupos envolvidos com o crime organizado: advogados,juízes, políticos e jornalistas/empresas jornalísticas. O que sepretende, agora? Julga-se ser possível varrer o processo para baixo dotapete? Em plena era da Internet, dos blogs, dos sites, do e-mail,julga-se ser possível passar em branco essa monumental manipulação dasinformações que se vê agora?

O jogo está no fim. Daqui paradiante será esperneio. Continuarão assassinando reputações, promovendofactóides, manipulando ênfases. É possível que destruam Paulo Lacerda,Protógenes, De Sanctis e todos os que ousarem enfrentar esse tsunami.Mas não conseguirão parar a história.

Desse lamaçal, vai emergiruma nova mídia, uma reavaliação na qual os jornais sérios entenderão,em algum momento, que não dá mais para se envolver até o pescoço poruma solidariedade corporativista com os que transigiram.

E nãoadianta tentar transformar essa guerra em um Fla x Flu, Lula xoposição, PSDB x PT. Não cola. É uma briga da lei contra o crimeorganizado. Há que se definir limites para evitar abusos. Mas o queestá em jogo é a tentativa de desmonte dessa estrutura.

Apostarque serão bem sucedidos, será apostar no atraso, na falta de leis, namanutenção dos abusos da mídia e dos grampos ilegais, no império docrime organizado, na promiscuidade entre poderes.

É esse o país que vamos entregar para nossos filhos? É evidente que não.
Fonte:Blog Luis Nassif on line.

Nenhum comentário: