Os acontecimentos políticos quase nunca são o que parecem. A transferência da província de Anbar, que já foi o coração da rebelião sunita, do controlo dos militares dos EUA para as forças iraquianas é um exemplo disso. Os EUA vão lá manter 25 mil soldados, por isso é discutível até que ponto o governo iraquiano realmente assume o controlo.
Por Patrick Cockburn, do Counterpunch
Mas o futuro de Anbar é um indicador crucial para o destino do Iraque. Trata-se de uma vasta área e uma das poucas zonas do Iraque que é predominantemente sunita.
O governo iraquiano é dominado pelos partidos islâmicos xiitas em aliança com os nacionalistas curdos. A questão vital hoje é saber se o governo de maioria xiita consegue convencer a minoria sunita de que não vai ser esmagada logo que se retirem as forças dos EUA. O primeiro-ministro, Nuri al-Maliki, está muito confiante. Acha que conseguiu, nos últimos quatro meses, derrotar os milicianos xiitas do Exército Mahdi de Moqtada al-Sadr, assumindo o controlo de Basra, de Sadr City e de Amarah. Depois disto, recusou-se a assinar um novo acordo de segurança com os EUA, cujo presidente George W. Bush queria ver assinado em 31 de Agosto.
Nas últimas semanas, entrou em conflito com os seus aliados curdos em relação ao futuro do complexo petrolífero de Kirkuk e da cidade de Khanaqin.
Maliki pode estar a exagerar a mão, mas não há dúvida de que o Estado iraquiano se está a tornar mais poderoso, ao mesmo tempo que se enfraquecem o Exército Mahdi, os americanos e os curdos. Os americanos em particular sentem que ele exagera quando afirma que o seu sucesso contra o Exército Mahdi se deveu às forças de segurança iraquianas.
Estas tropas estavam a ter muito mau desempenho até receberem o apoio dos militares dos EUA. No entanto, a posição de Maliki é forte. Parece ter compreendido que ele precisa dos EUA, mas os EUA também não podem passar sem ele, e não estão em posição de o substituir, como fizeram com o seu predecessor, Ibrahim al-Jaafari.
Muito do que a Casa Branca está hoje a fazer tem em vista ajudar os republicanos nas eleições presidenciais. O objectivo é dar a a impressão de que o Iraque finalmente ficou favorável aos Estados Unidos e que a vitória está ao alcance. O "surge" (reforço de tropas) é promovido como a estratégia que permitiu a mudança de maré, e é verdade que a sublevação sunita contra a ocupação do EUA terminou em grande parte.
Mas isso aconteceu por razões que pouco têm a ver com o "surge", ou com acções americanas de qualquer tipo. O que foi crucial para o sucesso do governo contra o Exército Mahdi foi o apoio do Irão. Foram os iranianos que convenceram os milicianos xiitas a ir para casa.
É um grande atrevimento de Bush dizer que "Anbar já não está perdido para a al-Qaeda", já que nas últimas eleições presidenciais de 2004 ele garantia que os média estavam a exagerar o sucesso dos insurgentes.
Patrick Cockburn é autor de "Muqtada: Muqtada Al-Sadr, the Shia Revival, and the Struggle for Iraq.
Fonte: Esquerda.net
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