Direita do Japão se assusta com crescimento de comunistas.
O Partido Comunista do Japão tem aumentado paulatinamente o número de filiados e espera, em breve, retornar ao número de 500 mil membros que ostentava em 1990. A direita japonesa começa a suar frio com as notícias do crescimento, principalmente entre a juventude, e faz suas análises. Em artigo publicado no jornal conservador Sankei News, do Japão, Kuwahara Satoshi procura dissecar o que motivou tal corrida às fichas de filiação do PC japonês.
O Vermelho reproduz a seguir a íntegra do artigo, publicado esta semana pela revista americana Monthly Review.
"O Partido Comunista do Japão está repentinamente atraindo novos membros. De acordo com um comunicado do partido, o número de membros filiados atingiu o ápice em 1990, com 500 mil membros e depois iniciou um declínio, chegando a flutuar nos últimos dez anos em 400 mil filiados. Segundo a direção da Juventude Comunista, mais de 9 mil pessoas se filiaram ao partido desde o fim do quinto encontro do Comitê Central da União da Juventude Comunista, realizado no início de setembro.
O secretário-geral do Partido, Shii Kazuo relatou em uma nota do Comitê Central que o livro de Kobayashi Takiji, The Cannery Boat, se tornou um grande sucesso entre a juventude do país (até 13 de agosto deste ano a editora Shinchosha revelou que vendeu 1.561.000 cópias dessa novela marxista), aumentando o interesse em Marx.
"Até mesmo uma rede de televisão está planejando fazer um show denominado 'O capitalismo já atingiu o seu limite?', solicitando que o PC do Japão participe da sua elaboração. Isso não tem precedentes. É uma situação que nosso partido jamais havia passado", comentou.
O objetivo anunciado do partido é de obter até 20 mil novas filiações até o fim deste ano.
O que é interessante é que 20% dos novos membros são jovens abaixo dos 30 anos, e outros 20% são idosos acima de 60 anos. O comunicado da UCJ faz uma análise da tendência:
"Jovens, que foram educados a pensar que tudo era culpe deles, que não tinham futuro não importa o quanto trabalhassem, começaram a pensar que isso é uma questão de responsabilidade política e que eles precisam mudar a política. A reforma do sistema de saúde (separando pessoas acima dos 75 anos do resto da população idosa e as empurrando para um sistema separado de assistência, mais caro e menos completo em benefícios) fez com que os mais velhos também pensassem 'é esse o prêmio que recebemos por sacrificar nossas vidas pela nação ao longo de todos esses anos?', passando a olhar com mais cuidado para o nosso partido".
Por outro lado, Akagi Tomohiro, um escritor e analista que é especialista em questões da classe operária, afirma que "os jovens não estão se voltando em massa para o Partido Comunista. Vídeos do secretário-geral Shii criticando de forma arguta o problema do contrato de trabalho certamente fez sua parte ao serem distribuídos na Internet. Mas, na realidade, o problema é que os jovens estão desiludidos com o partido dirigente, e não esperam muito diferente do Partido Democrático, daí as pessoas acabam dando apoio ao PC mais como resultado de uma escolha por eliminação", acredita.
O ex-senador pelo PC, Fudesaka Hideyo, (que foi obrigado a renunciar ao cargo por ter cometido o crime de assédio sexual, inclusive sendo expulso do partido e que agora se tornou um conservador comentarista de política na TV) acredita que "não há dúvidas que o rápido crescimento do partido reflete a expansão do número de pobres no país. O partido está atraindo aqueles que se sentem abandonados pelas políticas dos dois grandes partidos, o Liberal Democrata e o Democrata".
"O partido também tornou a filiação mais fácil. Seria possível que tantos idosos entrassem no partido sem apoio de muitos filiados que os tem ajudado ao longo de suas vidas? Digo isso porque a circulação do Akahata [jornal Bandeira Vermelha, nota do tradutor] não aumentou", salienta o ex-senador.
Referindo-se à nova tradução de "O Capital", feita por Matoba Akihiro para a Shodensha e que já vendeu 500 mil exemplares, Fudesaka observa: "Como diz Shii, certamente existe um interesse crescente em Marx, mas isso não se traduz necessariamente em interesse no socialismo — Há muitos que rejeitam o socialismo. Eu quero ver o que o Partido Comunista vai fazer em relação a esse dilema. "
Como os intelectuais conservadores vêem esse fenômeno? O perito em Política Externa Takubo Tadae soa um alarme: "A Dieta [parlamento] dividida, com a maioria do Partido Democrata [oposição] no Senado, tem paralisado a política, e os cidadãos não sabem para onde está indo o Japão e não tem nada que possam fazer para resolver isto. Além disso, a questão do salário e da redistribuição da riqueza está fora da ordem do dia, os trabalhadores têm vindo a empobrecer mais e mais, e as diferenças de classe estão aumentando. Esse é o pano de fundo para a composição do crescimento atual do Partido Comunista. Este é um perigoso presságio. Que aconteceu quando a democracia deixou de funcionar? Os políticos devem aprender com a história".
O artigo original, em japonês, foi publicado no jornal conservador Sankei News em 3 de agosto. Foi traduzido por Yoshie Furuhashi para o inglês e publicado esta semana na revista de esquerda americana Monthly Review.
Fonte:Vermelho.
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