As prisões do deputado estadual Natalino Guimarães (sem partido), do vereador Jerominho Guimarães (PMDB), irmão do deputado, e sua sobrinha, Carmem Jerominho (PTdoB), candidata a vereadora nas próximas eleições, escancaram outra face das milícias no Rio de Janeiro: sua tentativa de influir nas eleições. Ignorados oficialmente ou tratados com benevolência, quando surgiram, há cerca de oito anos, esses grupos se tornaram mais um elo da corrente criminosa que busca subjugar a sociedade carioca. À frente da Comissão Parlamentar de Inquérito criada na Assembléia fluminense, o deputado Marcelo Freixo (PSOL) comenta o fenômeno das milícias e os trabalhos da CPI.
CartaCapital: Qual o clima na Assembléia em relação à CPI?
Marcelo Freixo: Apresentei o pedido no início de 2007. Como havia muitos pedidos na fila, não andou. Na ocasião, não havia uma discussão na mídia a respeito do tema, apenas uma ou outra reportagem. A sociedade e o poder público também não se interessaram. A esta altura, o prefeito Cesar Maia tratava as milícias como um mal menor, falava em ‘autodefesa comunitária’. O comando da polícia dizia que não era fácil enfrentá-las, porque elas sumiam quando a polícia aparecia.
CC: E qual era a opinião na Assembléia?
MF: Diziam que não era um tema relevante. Prevalecia a idéia de que os grupos estavam vencendo o tráfico, trazendo mais tranqüilidade às comunidades. Hoje, essa perspectiva foi derrotada, mas demorou muito para isso acontecer. Passado um ano e meio do primeiro pedido de CPI, acontece um fato que muda o tom da discussão. Refiro-me à tortura sofrida por uma equipe de reportagem do jornal O Dia, na Favela do Batan. Esse episódio foi decisivo. Uma boa parcela da imprensa e da sociedade passa a ver com outros olhos, e o poder público é obrigado a reagir. Também é preciso dizer que, enquanto as vítimas eram pessoas pobres, boa parte da opinião pública e do poder não se sensibilizou. Milhares de pessoas extorquidas e mortas não foram suficientes para chamar a atenção. Mas, quando isso acontece com uma equipe de jornalistas...
CC: Há resistências em relação à atuação parlamentar?
MF: Conseguimos formar uma equipe de deputados dispostos a trabalhar, que não recua diante de nenhuma ameaça de reação violenta. Temos tido uma colaboração da direção da Assembléia e não houve nenhum pedido feito pela CPI que não tivesse sido atendido. Já podemos dizer que ganhamos a batalha pedagógica de entendimento do que são as milícias. Temos vários líderes presos, a publicidade das ações contra as milícias já está nas ruas, braços econômicos foram quebrados. Sepultamos a tese das milícias como um mal menor. Um crime organizado, em condomínio de território, feito por agentes públicos com perspectiva de poder não pode, nem aqui nem em nenhum lugar do mundo, ser considerado um mal menor.
Fonte:Carta Capital.
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