Por Gunter Zibell
"São dois os fatores principais que tiraram votos de Dilma na reta final.
a) Um deles foi sim a "emoção" dos eleitores cristãos, que aderiram de última hora a Marina. J. R. Toledo analisou bem isso no blog dele do Estadão, pois o movimento foi possível de captar pelo Ibope, que divulgou os percentuais de votos por religião declarada e se trata de linhas muito diferentes ao longo de setembro. A própria Marina acreditava em 15 milhões de votos, teve quase 20 milhões. Acho que se pode calcular entre 4 e 5 milhões de votos para Marina como sendo "anti-aborto", de pessoas relativamente indiferentes a outras questões sócio-econômicas. Metade desses votos transferiu-se ao longo de semanas, mas uns 2 milhões nos últimos dias.
O ponto aqui é que esses votos não são referentes a desenvolvimento sustentável ou a qualquer discurso propositivo. A plataforma de Marina tem vários focos e uma das coisas que ela fala desde o início é sobre plebiscito para aborto (e há cerca de um mês elogiei Marina por isso entre outras coisas.) Então cabe a Dilma e Serra definirem suas posições. Um presidente pode optar por não encaminhar projeto a respeito como também pode se comprometer a vetar leis a respeito.
(Eu pessoalmente sou intermediário em relação a essa questão : sou contrário ao aborto também por razões religiosas – não o recomendaria a ninguém; mas sou favorável à descriminalização, por julgar que essa questão é de foro íntimo e que não deveria fazer parte da legislação por ser justamente religiosa. E porque a criminalização não impede que 1 milhão de abortos sejam cometidos por ano, com riscos para as mães e, na verdade, sem punição legal efetiva para as mães e para as clínicas. Essa dubiedade pode ser removida e entendo que nesse caso plebiscito pode até ser um caminho, mas melhor seria discutir no Congresso e na AGU.)
b) Outro fator é a desconsideração sistemática da abstenção pelos analistas. Lembrei na sexta passada que o Datafolha pode não utilizar uma amostragem representativa da população total, mas, sim, mais próxima da população que vota. Supondo que desses 18% que não votaram talvez 60% sejam dilmistas teríamos quase 15 milhões de votos para Dilma e mais 10 milhões para a oposição.
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Portanto há dois caminhos para ajustar as pesquisas recentes às urnas. Se simularmos 2 MM indo de Marina para Dilma e somarmos 14 MM para um lado e 9 MM para outro (menos que a abstenção para considerar os indecisos), chegaríamos a 51,5% de válidos para Dilma, o que é bem próximo das pesquisas convencionais com dados coletados no final de setembro.
Parece que as duas coisas ocorreram simultaneamente e o único que resultou fora de esquadro foi a pesquisa de boca de urna do Ibope.
Fonte: Blog do Luis Nassif
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