Trabalhadores que migraram do Nordeste para o Sudeste hoje fazem caminho de volta.
Joselma dos Santos se desiludiu com São Paulo e retornou para Pernambuco. Hoje, lidera equipe de 25 homens num estaleiro. Estamos diante de um novo Brasil, que se desconcentra economicamente e reduz as desigualdades sociais.
O fluxo migratório do Nordeste para o então chamado "Sul Maravilha" sempre foi uma tragédia para a economia da região, que perdia mão de obra, mercado consumidor, além do drama de ver muitas famílias segregadas. Para as regiões receptoras, restava a chaga da favelização, da violência urbana, consequência de uma população sem vínculos históricos e sem qualificação; e por isso principal vítima das crises econômicas que se sucederam ao longo das últimas décadas.
Essa mudança econômico-social, resultado da desconcentração dos investimentos regionais, é parte importante dessa retomada do país. Lembro que há poucos dias numa rede social li o post de um importante político mineiro lamentando a ida da nova fábrica da FIAT para Pernambuco, o que como brasileiro ele deveria comemorar. Isso sem esquecer pólo farmacoquímico na Mata-norte, Kraft Foods e Sadia, Transposição, Ferrovia Transnordestina e, claro os Arranjos Produtivos que do sertão ao litoral, do gesso de Araripina ao Porto Digital, estão cada vez mais dinâmicos pelo extraordinário momento econômico do Nordeste que cresce promovendo justiça social.
Em Pernambuco, estado que já comemorava a implantação de uma refinaria, de um grande complexo petroquímico, de um polo naval que deverá ter, além do Atlântico Sul, outros estaleiros, a exemplo do Promar, anunciou há pouco, além da FIAT, a construção da CSS – Companhia Siderúrgica Suape. Todos estes empreendimentos representam algumas dezenas de milhares de novos postos de trabalho que se multiplicarão, atraindo mais investimentos e serviços.
Esse é o Brasil novo que vai se formando, sem voluntarismo, mas com visão sustentável de longo prazo. Enquanto Lula representou essa mudança de paradigma, esperamos agora que Dilma dê o salto na gestão dos recursos. "Fazer mais com menos" parece ser o mote da nova administração. Que venha para dar ritmo a essa transformação.
Victor Martins, Gustavo Henrique Braga e Rosa Falcão, para o Correio Braziliense - O Eldorado não está mais no Sul e no Sudeste, as regiões mais ricas do Brasil. Nordestinos, nortistas e os que nasceram no cerrado do Centro-Oeste e fugiram da fome em caminhões pau-de-arara entre os anos 1970 e 1990 estão voltando para casa de avião em busca de oportunidades. Nos últimos 20 anos, as peças do xadrez econômico mudaram de tal forma que o desenvolvimento se desconcentrou e, por consequência, o país iniciou um processo de reversão do fluxo migratório.
As cenas da seca com chão rachado e gado morto no pasto foram quase totalmente abandonadas pelas figuras imponentes dos complexos industriais e pela corrida consumista por bens duráveis e serviços. Nas ruas das cidades de menor porte, os jegues foram substituídos pelas motocicletas. Vultosos investimentos em tecnologia possibilitaram às regiões menos desenvolvidas tornarem-se polos exportadores de commodities (produtos básicos com cotação internacional).
Assinatura da instalação da fábrica da FIAt em Pernambuco
São Paulo e Rio de Janeiro ainda têm grande importância econômica, mas Norte, Nordeste e Centro-Oeste são as regiões com as maiores taxas de crescimento. Não à toa, a quantidade de migrantes para a Região Amazônica avançou 58,4% entre 2001 e 2009.
Nos últimos oito anos, o Nordeste passou a receber migrantes e diminuiu a exportação de pessoas, registrando crescimento de 5,9% na população vinda de outras partes do Brasil. "Essas regiões são a nova fronteira do país", afirma Fábio Romão, analista da LCA Consultoria. Nos cálculos dele, entre 1992 e 2002, o território nordestino perdeu 1,5% dos habitantes ao ano. De 2002 a 2007, a taxa caiu para 0,98%. Em 2009, o ritmo encolheu para 0,85% e, hoje, está próxima de zero. "Estamos diante de um novo Brasil, que se desconcentra economicamente e reduz as desigualdades sociais."
O redesenho dos fluxos migratórios é consequência da robustez do Brasil nos últimos anos, em especial após a estabilização econômica. Se a bandeira verde e amarela ganhou projeção no cenário global, abandonando o mundo subdesenvolvido para flertar com a posição de 4ª potência econômica, a população entrou no xadrez e se beneficia da nova ordem mundial. O jogo do poder econômico no país segue, de maneira semelhante, o que ocorre no planeta e o Brasil ganha cara nova.
Virtuoso - O ponto de ignição que tornou mais aparente essas mudanças foram os 30 milhões de brasileiros que ascenderam à classe média em oito anos. Esse contingente deixou as classes D e E, da base da pirâmide, para se tornar consumidor. Na opinião de especialistas, grande parte estava concentrada no Norte e no Nordeste. Nos cálculos da consultoria Plano CDE, apesar de todos os avanços, a maioria da população nordestina ainda está na camada social mais baixa: 71% de D e E. Mas a velocidade da mobilidade social mudará esse quadro. "O público D do Nordeste é muito mais otimista em relação ao futuro do que os paulistas na mesma condição", conta Luciana Aguiar, antropóloga e diretora da Plano CDE. [...]
[...] A indústria foi para perto desses consumidores para melhor atendê-los. Não só encarou as marcas locais, como passou a contribuir para a geração de emprego e renda. A renda do Norte, Nordeste e Centro-Oeste cresce 12% ao ano, acima da média nacional (9,6%). A parte da população que recebia um salário mínimo passou a ter reajustes superiores à corrosão inflacionária e o Bolsa Família turbinou o consumo. Tamanho poder de compra chamou a atenção de multinacionais, que, sofrendo com mercados estagnados na Europa e nos Estados Unidos, viram nos rincões brasileiros um oásis.
O pau-de-arara que levou milhões para o Sudeste perdeu clientela. As empresas aéreas e os ônibus mais confortáveis são o transporte dos que fazem parte do novo êxodo brasileiro.
Fonte: Blog do Alê.
Nenhum comentário:
Postar um comentário