"As massas árabes estão frustradas e zangadas, em toda parte".
A frase, dita por algum analista ocidental, soaria trivial, ante o que aconteceu na Tunísia, na Argélia e está acontecendo agora no Egito.
A reportagem é de Clóvis Rossi e publicada pelo jornal Folha de S. Paulo, 27-01-2011.
Mas, saída da boca de Amr Moussa, ganha profundo significado. Ele é o secretário-geral da Liga Árabe, o conglomerado de todos os países cujas massas estão "frustradas e zangadas".
Antes, foi chanceler precisamente do Egito, a aparente bola da vez na crise, durante dez anos, até 2001, quando assumiu o cargo atual.
São, portanto, 20 anos no coração do establishment árabe, posição da qual se espera contemporização e não uma avaliação tão contundente, feita para a Folha, em conversa ontem mantida nos corredores do Centro de Congressos de Davos.
Moussa lista os motivos da frustração e da zanga: "políticos, econômicos e sociais".
Não entra em detalhes, mas é óbvio que está estendendo ao conjunto do mundo árabe os motivos que levaram à derrubada do ditador da Tunísia: regimes autoritários, imensa desigualdade social e falta de oportunidades, especialmente para os jovens, mesmo aqueles com diploma universitário.
O que é necessário fazer? "A palavra é reformas, em todos os países". A Folha quer saber se ele inclui a Arábia Saudita na lista de países que carecem de reformas, justamente o reino que parece mais estável.
"Repito: as massas árabes estão frustradas e zangadas, em toda parte", responde o secretário-geral da Liga Árabe, pondo a ênfase em "toda parte".
Junta-se à conversa um representante do banco suíço UBS, o que faz Moussa acentuar a cautela natural de um funcionário internacional ao falar da situação interna dos países-membros da sua organização.
Exemplo: quando a Folha quis saber se os governantes árabes estavam conscientes de que precisam fazer as reformas que ele defende, Moussa dá uma resposta evasiva: "Pelo menos no Egito [anteontem] não houve a violência que vimos em outros países".
Emenda: "É a típica situação de copo meio cheio, meio vazio".
"Mais cheio ou mais vazio?", insiste a Folha. "Boa pergunta", responde apenas.
Fonte: IHU
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