segunda-feira, 19 de novembro de 2012

ORIENTE MÉDIO - Medo e ódio em Gaza.



Amira Hass: Medo e ódio em Gaza enquanto a ofensiva continua



Chuva de fogo e destruição rememoram a Operação Chumbo Fundido e o medo do futuro. Desde o começo da Operação Pilar de Defesa até o sábado (17) pela manhã, 37 palestinos foram mortos, dos quais ao menos 10 eram civis; fontes palestinas contam 17 mortes de civis. Há dezenas de feridos. De acordo com o Centro Palestino para os Direitos Humanos, duas crianças foram mortas na quinta à noite, na cidade de Beit Hanun, no norte de Gaza, depois de um ataque aéreo próximo as suas casas: Udai Nasser, 15, e Fares el-Basiyuni, 8. A reportagem é de Amira Hass, direto de Gaza.
por Amira Hass, Haaretz, via Carta Maior
Gaza - Cinco pessoas foram mortas no sábado pela manhã em um ataque aéreo israelense em Rafah, disseram fontes palestinas. Antes, durante uma série de ataques aéreos na sexta à noite, seis palestinos, inclusive um civil, foi morto, disse uma fonte do ministério da Saúde em Gaza.
Desde o começo da Operação Pilar de Defesa até o sábado (17) pela manhã, 37 palestinos foram mortos, dos quais ao menos 10 eram civis; fontes palestinas contam 17 mortes de civis. Há dezenas de feridos.
Fontes da Cruz Vermelha em Gaza disseram que vários postos de saúde, inclusive uma emergência em Jabaliya, sofreram danos colaterais por causa dos ataques.
As pessoas que vivem nas partes norte e leste da Faixa de Gaza começaram a deixar as suas casas, na sexta-feira, enquanto fortes bombardeios se aproximavam. Falando com o Haaretz, alguns descreveram ataques sem fim a partir do mar, da terra e do ar, a apenas alguns metros deles, “sacodindo o chão e as paredes”.
Dentre as pessoas que saíram de suas casas estão a família Samouni, que vive na parte leste de Gaza, no bairro Zeitoun. Durante a Operação Chumbo Fundido no inverno de 2008-09, 21 membros da família Samouni foram assassinados, quando o comandante da Brigada Givati, Ilan Malka, ordenou que sua casa fosse bombardeada. Baseado em fotos de um drone, Malka concluiu que o prédio era um abrigo para palestinos armados. Uma das mulheres da família Samouni disse que ela e suas crianças estão agora revivendo o trauma de 2009.
O ataque contra o governo do Hamas no sábado pela manhã também foi assistido pelos vizinhos. Na quinta-feira, um homem que vivia na área disse ao Haaretz que as pessoas estavam esperando que Israel bombardeasse o símbolo do governo civil do Hamas. Em 2008, os prédios do governo estavam no sul de Gaza, no bairro Tel el-Hawa, e foram destruídos numa série de ataques. Três ou quatro meses depois, o governo se mudou para um prédio no norte de Gaza, na região de Nasser.
“Foi uma noite muito difícil”, disse S. ao Haartez. “As bombas não pararam. Em torno de cinco horas da manhã eu estava me preparando para rezar, quando escutei uma explosão aqui perto e imaginei que era no prédio do governo”. Duas horas mais tarde, ele disse, a Força Aérea Israelense bombardeou um outro alvo da lista do IDF – o estádio de futebol na Praça Palestina. A menos de 200 metros de uma mesquita que, naquele momento, estava lotada. “S.”, o filho mais velho, de 13 anos, relata: “Eu estava dormindo. O barulho me acordou”. A onda do choque entortou as portas das casas dos vizinhos, ele disse. “Nós deixamos as janelas abertas, assim os vidros não quebram, mas as janelas dos vizinhos quebraram”. Ondas de choques fizeram com que tijolos caíssem sobre os carros. Um deles amassou nosso carro.”
Todo mundo que ele conhece sentiu entusiasmo com a visita do primeiro ministro egípcio Hisham Kandil a Gaza, disse S.: isso os tornou mais resilientes. “Hoje o ministro do exterior da Tunísia veio e amanhã outras delegações serão formadas no Egito. Quando eu assisto à televisão israelense, eu sinto que eles não entendem a mudança por que o Egito e a Tunísia passaram. Eles ainda estão pensando em termos de déspotas dependentes dos Estados Unidos, e não entendem que a opinião do povo egípcio joga um papel importante na política egípcia”.
Uma série de postos de saúde foram danificados durante os combates dos últimos três dias. Numa coletiva, o dr. Bashar Murad, diretor da emergência e do serviço de resgate do Crescente Vermelho, em Gaza, disse à organização de Médicos pelos Direitos Humanos que não houve ataques diretos aos serviços de emergência. Mas alguns estavam próximos o suficiente dos ataques e sofreram danos graves, sobretudo nas áreas abertas do sul, como as do centro de emergência em Jabalyia. O centro foi atingido por pedaços de cacos pontiagudos e por entulho, alguns pesando até 4kg, ele diz: “Nós não recebemos nenhuma notificação ou pedido de evacuar antes do ataque”.
Postos de saúde no distrito de Tel el-Hawa foram danificados, disse Murad, inclusive o Hospital al-Quds. “A maior parte das janelas foi espatifada. Algumas partes do telhado colapsaram e foram danificadas com o choque do bombardeio (não o ataque direto). A emergência Jabalyia e o centro de resgate foi danificado”. Os pacientes estão com medo no lugar em que deveriam se sentir cuidados, ele disse.
“Os danos à infraestrutura, como as estradas, cria obstáculos e significa atraso para salvar os feridos. Algumas estradas estão bloqueadas por uma cratera de bomba, ou por pedaços de casas destruídas e as ambulâncias não conseguem chegar”, disse Murad. “Os paramédicos têm de ir a pé e trazer o ferido pondo em risco a própria vida, e naturalmente ficam feridos, num momento em que todo minuto pode fazer a diferença entre a vida e a morte”.
“Um dos maiores perigos é quando um lugar é bombardeado pela segunda vez, quando as equipes médicas já estão a caminho”, ele continua. “Houve casos em que o mesmo lugar foi bombardeado duas vezes, em poucos minutos, com um intervalo de meia hora ou de uma hora entre um e outro, o que põe as equipes de resgate em perigo”.
De acordo com as autoridades de saúde dos palestinos, até sábado pela manhã 13 civis, seis dos quais crianças, tinham sido mortos desde o começo da ofensiva. 37 morreram desde o início da campanha e até sexta à tarde, a contabilidade de feridos tinha chegado a 257, dos quais 253 são civis, incluindo 62 crianças e 42 mulheres.
De acordo com o Centro Palestino para os Direitos Humanos, duas crianças foram mortas na quinta à noite, na cidade de Beit Hanun, no norte de Gaza, depois de um ataque aéreo próximo as suas casas: Udai Nasser, 15, e Fares el-Basiyuni, 8.
No começo da tarde de quinta-feira (15/11), no norte de Gaza, na cidade de Beit Lahia, Marwan al-Komsan, 52 anos, um professor empregado da agência para refugiados das Nações Unidas, foi morto enquanto visitava seu irmão. Um morteiro ou um explosivo caiu no chão próximo à casa de seu irmão que tem 72, ferindo-o gravemente.
Em Zeitoun, uma menina de 10 meses, Hanan Tafesh, morreu na quinta-feira à noite de ferimentos na cabeça, causados por um ataque no dia anterior. Sua mãe e dois outros ficaram feridos.
Camel Makat, 23, morreu na sexta-feria pela manhã de um ataque cardíaco depois que um jato jogou uma bomba perto de sua casa, no bairro Sheikh Radwan, no nordeste da cidade de Gaza. Na sexta-feira à tarde, Walid al-Abdullah, de 2 anos, não resistiu aos ferimentos causados no ataque do dia anterior à cidade de al-Kara, a oeste de Khan Yunis, e morreu.
Nos ataques israelenses a Zeitoun, na quarta-feira, uma menina de 3 anos, Ranin Arafat, foi morta, junto a um menino de 11 meses, Amar Masharawi, e uma mulher grávida de 19 anos, Hiba Masharawi-Turk. Também na quarta-feira, um homem de 61 anos, Mahmoud Hmad, foi morto no campo de refugiados Nuseirat, na área central de Gaza.
Tradução: Katarina Peixoto

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