O retorno de horrores já vividos, nos ataques de Israel


A voz do "The Guardian" sobre o novo conflito:

Do The Guardian

Ataques de Israel parecem reprise de filme de terror visto em 2008

Este é um filme de terror que já vimos antes. Nos dias seguintes a uma eleição presidencial americana, um governo israelense, prestes a enfrentar uma eleição própria, decide que não pode mais tolerar os disparos de foguetes pelo Hamas.

Reage com força, determinado a mostrar ao público israelense que não está parado, enquanto 1 milhão de seus cidadãos se escondem em abrigos antibombas, sem poder mandar seus filhos à escola. Vai trazer a calma a suas cidades do sul, forçando o Hamas a temer sua ira mais uma vez.

Assim como aconteceu após a eleição de Obama em 2008, está ocorrendo em 2012.

Quatro anos atrás, a Operação Chumbo Fundido teve o objetivo de arrancar a "infraestrutura do terror" da faixa de Gaza, erradicando a ameaça do Hamas. Não o fez, é claro. E deixou entre 1.200 e 1.400 mortos do lado palestino e 13 do lado israelense.

As provas disso vieram nos últimos três meses, quando mísseis atingiram Israel em número maior. Assim, mais uma vez Israel decidiu combater o fogo com fogo, assassinando o comandante militar do Hamas, Ahmed Jabari.

Para entender como chegamos aqui é preciso responder a duas perguntas. Por que o Hamas permitiu mais uma vez que Gaza virasse plataforma de lançamento de foguetes? E por que Israel optou por endurecer agora?

Uma leitura supõe que o Hamas foi castigado por sua fraqueza e mostrou que não é mais capaz de refrear os grupos mais beligerantes, Jihad Islâmica e outros -- que operam no território que governa.

Mas como fica a segunda pergunta: por que Israel reagiu agora? A imprensa israelense supôs que a data chave fosse política, não militar: o 22 de janeiro, quando os israelenses irão às urnas.

É bem possível que o premiê Binyamin Netanyahu tenha querido afastar seu rival trabalhista da disputa e impedir que seu predecessor, Ehud Olmert, volte ao centro das atenções, obrigando ambos a aplaudirem. Já o ministro da Defesa, Ehud Barak, achou uma maneira de lembrar que é indispensável.

As autoridades israelenses negam, argumentando que Netanyahu é um político tarimbado demais para correr um risco tão grande. E os riscos ultrapassam a questão menor da carreira do premiê.

Se Cairo traduzir sua solidariedade com o Hamas em ações concretas, a paz pós-1979 de Israel com o Egito corre perigo. E, sobretudo, a dor e a angústia infligidas por mais uma rodada de mortos e feridos vão semear o ódio nos corações de mais uma geração

JONATHAN FREEDLAND DO "GUARDIAN tradução: CLARA ALLAIN