domingo, 23 de março de 2014

GEOPOLÍTICA - E as elites dos EUA?


 E as elites dos EUA?

 E as elites dos EUA? Estarão, talvez, recuperando a sanidade mental? 20/3/2014, The Saker, Vineyard of the Saker Are the US elites finally coming back to their senses? Traduzido pelo pessoal da Vila Vudu   The Saker  Não me darei o trabalho de discutir o tópico das sanções de EUA e UE contra a Rússia, que não passam de sandices para aplacar alguns lobbies e mostrar ao público em geral que os líderes ocidentais são “durões”. Mas há dois desenvolvimentos interessantes a considerar:   1.- Obama declarou que os EUA não irão à guerra pela Ucrânia. Como sempre, Obama embrulhou as palavras chaves num pacote de bobagens sem sentido, mas disse, que interessa, o seguinte:   Não nos envolveremos numa excursão militar na Ucrânia. O que faremos é mobilizar todos os nossos recursos diplomáticos para assegurar que tenhamos uma forte correlação internacional que envie mensagem clara.   Em outras palavras: nada de opção militar. Falando de Putin, Obama disse também que:     Suas [de Putin] decisões estratégicas não se baseiam, de modo algum, em ter suposto que poderíamos ir à guerra por isso.   Em outras palavras:   Putin não está blefando, nem tem medo de nós.   Bom. Alguém (talvez Dempsey?) afinal conseguiu meter algum juízo na cabeça desse homem.    2. - Um ex-embaixador dos EUA à União Soviética de 1987 a 1991, John Matlock, escreveu um editorial para a revista Time no qual mostra quantidade realmente surpreendente de bom senso básico (ilustrando mais uma vez a minha tese de que a qualidade dos diplomatas norte-americanos é hoje infinitamente pior do que ainda se encontrava há 20 anos). Recomendo que todos leiam o editorial – só para avaliar o homem – mas quero citar aqui a parte que me parece central do editorial:   Embora talvez seja difícil para as partes relevantes aceitarem, as premissas de uma solução para a confusão ucraniana são claras:  1) a nova Constituição ucraniana deve oferecer uma estrutura federal de governo, dando às províncias ucranianas, no mínimo, tantos direitos quantos têm os estados norte-americanos; 2) o idioma russo deve ter assegurado status idêntico ao do idioma ucraniano; e 3) a Ucrânia deve oferecer garantias de que não se tornará membro da OTAN nem de qualquer outra aliança militar que exclua a Rússia.   E querem saber de uma coisa? O homem está absolutamente certo! Por um lado, creio firmemente que a Rússia aceitaria esse programa, se por mais não for, porque, ao contrário do que tantos parecem supor, a Rússia não tem vontade alguma de incorporar o leste da Ucrânia à Rússia. Como já escrevi antes, o que a Rússia quer em sua fronteira leste é uma Ucrânia (a) estável, (b) próspera e (c) independente e não hostil.  Claro que o que a Rússia absolutamente não permitirá é a imposição violenta de um Banderastão no leste da Ucrânia. Isso absolutamente não acontecerá.   Mas uma Ucrânia independente não é ruim para a Rússia; de fato, essa é, claramente, a solução preferida dos russos.    E, só para esclarecer – ainda que as sanções impostas à Rússia não passem de montanhas de bobagens “políticas” e “marketadas” pelo pessoal de Relações Públicas, isso não implica que a Rússia queira uma nova Guerra Fria, nem que a Rússia tenha algo a ganhar de tensões que se criem entre UE e EUA. Hoje, o que a Rússia mais quer e de que mais precisa é paz, estabilidade e prosperidade. Por tudo isso, as ideias de bom senso de Matlock certamente receberiam pleno apoio do Kremlin.  Mas há dois sérios obstáculos à realização desse plano, no momento:   1) Os próprios EUA, com sua mania estúpida de falar mais que a boca, se autoencurralaram numa posição muito fortemente não construtiva, e será muito difícil dar volta de 180 graus e, de fato, desmentir todo aquele seu vasto bobajol imperial e pôr-se, afinal, a trabalhar com a Rússia para estabilizar a situação.   2) Reina hoje o mais total e irrestrito caos em praticamente todo o Banderastão (ex-Ucrânia) controlado por nazistas e gangues de bandidos armados que aterrorizam a população local e saqueiam pequenas (e também as nem tão pequenas) lojas e estabelecimentos comerciais. De todos os relatos que li, fico com a impressão de que haja algo da ordem de várias dezenas de milhares de bandidos armados soltos por todo o Banderastão (20% políticos e 80% bandidos “simples”). Alguém terá de desarmar essas gangues; número não desprezível deles acabarão sendo mortos no processo. Tanto a Rússia como a OTAN podem cuidar disso (sim, a Rússia faria muito melhor e mais rapidamente, mas... deixa p’rá lá), mas, por razões políticas, nem a Rússia nem a OTAN podem mover-se para lá. Assim sendo, não vejo quem, agora, possa cuidar disso. Talvez os restos dos militares ucranianos?    Desgraçadamente, os doidos que estão no comando do novo regime “revolucionário” não apenas não estão tentando reconstruir uma força militar nem algum exército real: estão criando uma “guarda nacional” formada de bandidos armados leais ao regime “revolucionário” banderista.   Conclusão – há sinais de que alguns norte-americanos começam lentamente a despertar das suas grandes alucinações imperiais. Mas já é tarde, muito tarde, talvez tarde demais. Se Obama e Matlock tivessem declarado há um mês o que declararam hoje, teria feito enorme diferença, mas... hoje?!     E há também, desgraçadamente, o espírito grosseiro, nada diplomático e nada profissional que leva aos chiliques ensandecidos de Samantha Powers no Conselho de Segurança da ONU. Lá, ela disse o seguinte:   Samantha PowerA Rússia é conhecida pela grandeza literária. O que vocês acabam de ouvir do embaixador russo mostrou mais imaginação que Tolstoy ou Chekhov. Um ladrão pode roubar propriedade, mas o roubo não dá ao ladrão direito de propriedade. O que a Rússia fez é errado em termos da lei, errado em termos da história, errado em termos da política e perigoso.   Ao que o embaixador da Rússia Vitaly Churkin respondeu:   Durante as discussões, alguns colegas infelizmente falaram de modo excessivo e sou obrigado a retomar, especialmente, o que disse a representante dos EUA. Esses insultos dirigidos ao nosso país são simplesmente inaceitáveis. Se alguma delegação dos EUA espera contar com a cooperação da Rússia em outros temas no Conselho de Segurança, nesse caso a Sra. Powers que cuide de compreender bem claramente o que estou dizendo. Obrigado.   Se James Baker ainda comandasse o Departamento de Estado, Samantha Power teria sido sumariamente demitida daquele posto e mandada ensinar inglês como segunda língua em Kisangani ou Juba. Hoje, na Casa Branca de Obama, aquele tipo de atitude é, de fato, rotina.   Seja como for, agora que o agitar dos sabres parece estar talvez começando a ser substituído por alguma forma básica de pragmatismo, quero crer que o artigo de Matlock seja o primeiro vento de racionalidade que volta a soprar, parece, em Washington DC.   No mínimo, já é bom sinal encontrar coluna em que lê coisa-com-coisa, assinada por membro da nomenklatura norte-americana. The Saker

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